Com um pouquinho de Brasil


Para mim, valha isso o que valer, os brasileiros são os melhores cronistas do mundo porque escrevem sobre pouca importa o quê como se esse pouco importa tivesse a maior importância do mundo. Às vezes nem sequer é o que dizer mas sim a simples forma de o dizer.


Como diriam os brasileiros, o garoto veio de lá despencando na contramão, conduzindo a trotineta como se fosse um bólide de Fórmula 1, provocando aneurismas. Talvez fosse brasileiro, carioca, malandro, porque tinha aquela ginga de porta-estandarte e passou por entre os dois carros que prometiam reduzi-lo a farofa com um zigue seguido de um zague e salvou-se de morrer ali mesmo, em Xabregas, atrapalhando o tráfego.

Para mim, valha isso o que valer, os brasileiros são os melhores cronistas do mundo porque escrevem sobre pouca importa o quê como se esse pouco importa tivesse a maior importância do mundo. Às vezes nem sequer é o que dizer mas sim a simples forma de o dizer.

Se eu mandar alguém pensar nas crianças mudas telepáticas, nas meninas cegas inexactas, nas feridas como rosas cálidas, sem cor sem perfume, sem rosa, sem nada, haverá alguém para me mandar à merda com o diacho da filosofia mas ao Vinicius de Moraes ninguém mandou a parte nenhuma, tirando João Figueiredo, o último presidente da junta militar do Brasil que o despediu do cargo que ocupava no Ministério dos Negócios Estrangeiros por vagabundagem mesmo, segundo o próprio.

Nesse dia, nem de propósito, Vinicius estava em Lisboa e chorou. Não havia trotinetas nem garotos arriscando a vida pelo meio dos automóveis enlatados, talvez  procurando morrer agonizando no passeio público. Havia uma canalha salazarista, estudantes sem eira nem beira que tinham sido arrebanhados pela PIDE para organizarem um protesto contra ele quando saísse pelas traseiras do teatro onde subira ao palco com Baden Powell.

Quando ouviu a pandilha mandá-lo à merda (afinal há gente para tudo!), abriu os braços e recitou: “De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo”.

E os estudantes tiraram as capas dos ombros e estenderam-nas à sua frente para que ele passasse sobre elas. Se fizessem uma coisa dessas comigo, juro que deixaria cair um pinguinho de tinta num pedacinho azul do papel e, num instante, imaginaria uma linda gaivota a voar no céu. O problema é que soaria a repetido.

Com um pouquinho de Brasil


Para mim, valha isso o que valer, os brasileiros são os melhores cronistas do mundo porque escrevem sobre pouca importa o quê como se esse pouco importa tivesse a maior importância do mundo. Às vezes nem sequer é o que dizer mas sim a simples forma de o dizer.


Como diriam os brasileiros, o garoto veio de lá despencando na contramão, conduzindo a trotineta como se fosse um bólide de Fórmula 1, provocando aneurismas. Talvez fosse brasileiro, carioca, malandro, porque tinha aquela ginga de porta-estandarte e passou por entre os dois carros que prometiam reduzi-lo a farofa com um zigue seguido de um zague e salvou-se de morrer ali mesmo, em Xabregas, atrapalhando o tráfego.

Para mim, valha isso o que valer, os brasileiros são os melhores cronistas do mundo porque escrevem sobre pouca importa o quê como se esse pouco importa tivesse a maior importância do mundo. Às vezes nem sequer é o que dizer mas sim a simples forma de o dizer.

Se eu mandar alguém pensar nas crianças mudas telepáticas, nas meninas cegas inexactas, nas feridas como rosas cálidas, sem cor sem perfume, sem rosa, sem nada, haverá alguém para me mandar à merda com o diacho da filosofia mas ao Vinicius de Moraes ninguém mandou a parte nenhuma, tirando João Figueiredo, o último presidente da junta militar do Brasil que o despediu do cargo que ocupava no Ministério dos Negócios Estrangeiros por vagabundagem mesmo, segundo o próprio.

Nesse dia, nem de propósito, Vinicius estava em Lisboa e chorou. Não havia trotinetas nem garotos arriscando a vida pelo meio dos automóveis enlatados, talvez  procurando morrer agonizando no passeio público. Havia uma canalha salazarista, estudantes sem eira nem beira que tinham sido arrebanhados pela PIDE para organizarem um protesto contra ele quando saísse pelas traseiras do teatro onde subira ao palco com Baden Powell.

Quando ouviu a pandilha mandá-lo à merda (afinal há gente para tudo!), abriu os braços e recitou: “De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo”.

E os estudantes tiraram as capas dos ombros e estenderam-nas à sua frente para que ele passasse sobre elas. Se fizessem uma coisa dessas comigo, juro que deixaria cair um pinguinho de tinta num pedacinho azul do papel e, num instante, imaginaria uma linda gaivota a voar no céu. O problema é que soaria a repetido.