Euro. Política americana e a ameaça de recessão na Europa penalizam moeda

Euro. Política americana e a ameaça de recessão na Europa penalizam moeda


“BCE sabe que se subir taxas de juro de forma agressiva, com vista a controlar a inflação, vai provocar uma recessão, com o euro a sofrer por tabela”.


O euro tem vindo a desvalorizar estas últimas sessões e chegou mesmo a atingir a paridade em relação dólar americano. O que representa? Na prática, significa que um euro é igual a um 1 dólar. A última vez em que isso aconteceu foi em dezembro de 2002, ou seja, há quase 20 anos. “Este cenário de paridade reflete a diminuição da confiança dos investidores em ativos denominados em euros – o que era normal há 20 anos, dado que a moeda única tinha acabado de ser lançada, mas que atualmente reflete a situação preocupante em que se encontra a economia da zona euro, e a forma desfavorável como a podemos comparar com o cenário dos EUA”, diz ao i, Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe.

E o analista explica a causa: “Por um lado, o dólar americano está numa forte tendência de valorização devido à forte aposta do banco central americano numa política de subida de taxas de juro como forma de parar a subida da inflação. Por outro lado, na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) está numa situação quase impossível: A guerra na Ucrânia ameaça as perspetivas de crescimento económico e tem contribuído para a subida da inflação, sobretudo devido à subida dos preços do gás e petróleo”, acrescentando: “O BCE sabe que se subir as taxas de juro de forma agressiva, com vista a combater a inflação, vai provocar uma recessão, com o euro a sofrer por tabela. Se não fizer nada, o euro continuará a desvalorizar devido à discrepância face às políticas monetárias da Reserva Federal norte-americana (Fed). Tendo em conta este cenário, não surpreende que o euro esteja a desvalorizar”.

Recorde-se que, na última reunião, o BCE anunciou que pretende subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base na reunião da próxima semana, abrindo a porta a um aumento de maior dimensão em setembro, caso a inflação o justifique. Por seu lado, na última reunião de política monetária, a Fed subiu as taxas de juro em 75 pontos base, que passaram assim para um intervalo entre 1,5% e 1,75%. O banco central dos EUA iniciou um ciclo de subida dos juros diretores em março, com um aumento de 25 pontos base. Mas a partir daí procedeu a um incremento maior: 50 pontos base. 

E qual o impacto? De acordo com Ricardo Evangelista, o impacto faz-se sentir sobretudo através da subida do preço das matérias primas importadas, que são pagas em dólares. “Isto é particularmente impactante no caso do petróleo e gás, mas com o enfraquecimento do euro, estes produtos que têm que ser pagos em dólares ficam cada vez mais caros, contribuindo para a subida da inflação”.

De acordo com o responsável, as perspetivas não são animadoras. “Neste momento teme-se que a situação se agrave, sobretudo se a Rússia deixar mesmo de fornecer gás à Europa no inverno. Tal cenário provocaria uma quebra da atividade económica nas principais economias da zona euro, além de fazer subir os preços dos combustíveis e agravar ainda mais a inflação, reduzindo o já curto espaço de manobra do BCE e potencialmente levando a mais desvalorizações da moeda única.

Mas o euro não é caso único. De acordo com o diretor executivo da ActivTrades Europe, moedas como a libra e o iene também estão a atingir mínimos de décadas face ao dólar.