Após a Turquia ter permitido ao navio russo Zhibek Zholy zarpar, quando este era acusado de transportar um carregamento de cereais ucranianos roubados, o Governo da Ucrânia convocou o embaixador turco para perceber o porquê desta decisão. Isto quando se teme que o desvio de cereais ucranianos ou o bloqueio ao seu comércio pelos russos crie uma crise alimentar de contornos globais.
“Lamentamos que o navio russo Zhibek Zholy, que estava cheio de grãos ucranianos roubados, tenha sido autorizado a deixar o porto de Karasu, apesar das provas judiciais apresentadas às autoridades turcas”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko, citado pelo The Guardian. “O embaixador da Turquia em Kiev será convidado até ao Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia para esclarecer esta situação inaceitável”, afirmou.
Autoridades alfandegárias turcas tinham apreendido este navio a pedido da Ucrânia, na passada terça-feira, depois de Kiev ter afirmado que a carga transportava ilegalmente sete mil toneladas de cereais vindos de Berdiansk, um porto ocupado pela Rússia no sudeste da Ucrânia.
Na quarta-feira, a diplomacia russa reconhecera que tinha diligências em curso no navio. E um membro da tripulação, citado pela agência noticiosa russa TASS, disse que a carga do navio seria transferida para outro cargueiro, para permitir ao Zhibek Zholy sair do porto.
O conflito entre Rússia e Ucrânia está a gerar “receios globais de uma crise alimentar”, descreveu a Al Jazeera. “A guerra da Rússia contra a Ucrânia, um dos principais produtores de trigo, fez as exportações serem interrompidas e há crescentes acusações que Moscovo está a roubar produtos do seu vizinho”.
“Eles roubam as colheitas com força bruta e intimidação usando as suas armas”, acusou o presidente da Associação Ucraniana dos Cereais, Nikolay Gorbachov, a este meio de comunicação. “Forçam os agricultores a semear as suas terras e avisam que tomarão à força 70% das colheitas futuras”, acusou ainda.
A polémica em torno do Zhibek Zholy é também um importante teste de “lealdade” para a Turquia. O Governo de Recep Tayyip Erdogan tem ocupado uma posição “impossível”, mantendo-se simultaneamente “pró-Ucrânia, não sendo necessariamente anti-Rússia”, frisou um analista ao Al Jazeera.
Esta nação tem servido como intermediário entre a União Europeia e a Rússia. Como tal, até agora, as autoridades turcas evitaram desencadear confrontos com Moscovo, o que resultou em deixar embarcações russas com produtos alegadamente roubados impunes.
Além desta espécie de batalha diplomática em alto mar, os conflitos terrestres entre as duas nações prosseguem, com registos de violentos ataques nas cidades de Sloviansk e Kramatorsk. Onde, segundo o governador desta cidade, houve uma vítima mortal e pelo menos seis feridos, na quinta-feira. “Um míssil russo atingiu o centro de Kramatorsk”, disse o governador Pavlo Kyrylenko. Foram confirmados “pelo menos um morto e seis feridos, mas esses números ainda podem mudar. Seis edifícios foram danificados pelo impacto, incluindo um hotel e um arranha-céu residencial”, anunciou. “Este é um ataque deliberado contra civis”.