O estado a que chegámos


Este Governo que nos (des)governa desde 2015, continua alegremente a encaminhar-nos para o desastre.


A guerra na Ucrânia acelerou uma crise com o aumento dos custos dos combustíveis, da escassez de cereais, de aumento de custo com fertilizantes, em suma, o catalisador de uma inflação que espreitava o mundo na sequência da pandemia.

São factos irrefutáveis que nos confrontam todos os dias, factos que também já eram previsíveis. Porém, uma previsibilidade que não era evidente para o nosso governo.

É que no meio desta tempestade perfeita que não poupa nenhum país, Portugal consegue ainda acrescentar mais problemas ao cenário.

É que para além dos problemas que resultam dos condicionamentos internacionais, pelos vistos, também não eram previsíveis problemas estruturais mais locais, como o caos nos hospitais, ou mesmo no aeroporto de Lisboa.

E também, certamente para o Governo, não será previsível qualquer dificuldade em garantir que todas as escolas começam o ano letivo com todos os professores e todos os auxiliares (fica já aqui o alerta, para depois não se queixarem que ninguém avisou).

Este Governo que nos (des)governa desde 2015, continua alegremente a encaminhar-nos para o desastre, a ignorar todos os problemas estruturais, insistindo na ilusão de que tudo é conjuntural, passageiro, pontual.

O SNS não tem um problema pontual de escalas devido a uma semana de feriados.

O SNS tem um grave problema estrutural que foi sistematicamente ignorado, acrescido de um preconceito ideológico que não permite olhar para o privado e para o social como parte da solução.

Os médicos do SNS estão em esforço, os enfermeiros estão em esforço, todos os profissionais de saúde estão em esforço. Não são devidamente remunerados, fazem um volume impensável de horas extraordinárias, não têm meios, não têm horizonte de carreira. Não têm nenhum incentivo e convivem diariamente com a injustiça laboral.

O Governo não investe em condições atrativas para deslocar meios e recursos humanos para fora dos grandes centros urbanos.

A gestão dos serviços não existe, a autonomia dos hospitais não existe. 

Será que no Governo e no Ministério da Saúde não se percebeu o que se desenhava no horizonte? A reforma dos profissionais de saúde, os concursos desertos, os jovens profissionais de saúde que rumam ao estrangeiro…

Um “problema pontual”? A sério?

E quanto ao aeroporto de Lisboa?

Quando alegremente se falava do regresso do turismo, do regresso à vida pós-Covid, não se imaginava que era necessário preparar um aeroporto com a dimensão do de Lisboa para o previsível aumento do fluxo de passageiros?

Turistas cinco horas em filas à chegada a Lisboa, com dois funcionários a fazer o atendimento. 

Para ajudar, continua a falar-se da extinção do SEF como se nada se estivesse a passar nas longas filas do aeroporto. Este é o cartão de visita que o Governo quer entregar a quem chega a Portugal?

As campanhas publicitárias de promoção do país junto de mercados estrangeiros são muito importantes, mas se o turista regressar a casa e descrever o caos que aqui se vive, ao amigo, ao familiar, ao vizinho, ao colega de trabalho, acham que a hipótese de descrever Portugal como um destino de excelência é provável?

O turismo não pode merecer uma visão pontual e não podemos desbaratar o que ainda nos permite ter algum alento económico.

Vivemos em circuito fechado, afundados em burocracia, com horror à criatividade, à iniciativa privada, ao arrojo que impulsiona o futuro.

“Como sabem, há os estados socialistas, os estados ditos comunistas, os estados capitalistas e há o estado a que chegámos.”

Estas famosas palavras de Salgueiro Maia, que se lhe atribuem no momento em que reuniu os militares em Santarém para trazer a esperança da prosperidade que a Democracia nos fazia sonhar, ecoam hoje neste (des)governo em letargia permanente.

É que nesta (des)governação de uma esquerda desligada do País, nem estado socialista, nem estado dito comunista, nem estado capitalista… infelizmente é só mesmo o (mau) estado a que chegámos.