Nova Zelândia. O sonho dos Kiwis que vêm do lugar que ninguém quer

Nova Zelândia. O sonho dos Kiwis que vêm do lugar que ninguém quer


Hoje, no Qatar, os neo-zelandeses lutam por ser o único representante da Oceânia no Mundial. O jogo é frente à Costa Rica.


Hoje, no Estádio Al-Rayyan, no Qatar, Costa Rica e Nova Zelândia discutem o último lugar vago na fase final do próximo Campeonato  do Mundo, que terá lugar entre os meses de Novembro e Dezembro. Mais uma vez, e  por via dos play-offs, onde sempre  joga obrigatoriamente, uma selecção da Oceânia luta para que  o Mundial tenha representantes dos cinco continentes. 

Nestas coisas de geografia, a FIFA está-se um bocado nas tintas. Tanto assim que, a partir de 2006, aceitou o pedido da Austrália para deixar de pertencer à Condeferação da Oceânia e transferir-se para a Confederação Asiática, tal como  muitos anos antes, por pura conveniência políticia, tinha feito da seleção de Israel uma seleção europeia. Enfim, nada justificava que a Austrália se deslocasse para a Ásia e fosse disputar as eliminatórias com a Índia, a China, o Nepal, o Sri Lanka e por aí fora. Nada senão a teimosia dos moços da terra dos cangurus que, geralmente vencedores das eliminatórias oceânicas, acabavam por ficar na eliminatória derradeira contra o sexto classificado da zona sul-americana. A verdade é  que o expediente funcionou e a Austrália esteve presente nas fases finais de 2006, 2010, 2014 e 2018.

Por seu lado, a Nova Zelândia tornou-se, a partir daí, na única selecção verdeiramente competitiva da Oceânia. E se surge, geralmente, na Taça das Confederações (na última edição defrontou Portugal), porque é a habitual vencedora do Campeonato da Oceânia, vê-se na mesma situação em que se via irritantemente a Austrália, apurando-se por via continental nas não escapando aos play-offs derradeiros de acesso ao Mundial, cabendo-lhe desta vez a Costa Rica como adversário, matéria decididamente complicada, como se imagina.

Na verdade, este continente que pelos vistos ninguém quer continua a ser o único a não apurar nenhuma seleção diretamente para a fase final dos mundiais, o que pode considerar-se injusto, mesmo que se reconheça a fragilidade  de equipas como a Papua Nova-Guiné, Ilhas Fiji ou Samoa. Ainda assim, se entrarmos por esse caminho, até a Europa tem os seus Gibraltar, Andorra ou Liechtenstein.

História. Neste mês de Junho, a Nova Zelândia já disputou dois jogos amigáveis, ou de preparação para a eliminatória de hoje: no dia 5, em Barcelona, perdeu com o Peru, por 0-1 (Peru que jogou ontem o play-off de apuramento com a Austrália) e empatou com o Omã (0-0), no Al-Rayyan, no dia 9. Nada de muito animador, convenhamos.

Curiosamente, é õmã a palavra maori que define os all-whites (no futebol o equipamento dos neo-zelandeses é o inverso do all-blacks do râguebi). Com um futebol de clubes basicamente amador, a maior parte dos selecionados de  Daniel John Hay (antigo jogador do Leeds, por exemplo) atuam em Inglaterra e nos Estados Unidos. Neste momento, estão a um passo de garantirem a sua terceira  presença na fase final de um campeonato do mundo, objectivo que só foi atingido em Espanha, em 1982 – afastada com três derrotas, Escócia (2-5), Brasil (1-4) e URSS (0-3) –, e na África do Sul em 2010 – de onde saiu com três honrosos empates, Eslováquia (1-1), Itália (1-1) e Paraguai.

Apesar de ter disputado o seu primeiro jogo já no ano distante de 1904 – perdendo para uma seleção australiana de Nova Gales do Sul por  0-1 –, a evolução do futebol na Nova Zelândia tem sido morosa e cheia de altos e baixos. Depois, um longo intervalo até 1922, quando, finalmente, entrou em campo para defrontrar o grande rival australiano, vencendo por 3-1. Hoje é mais um dia daqueles dia plenos de expetativa. Mas ninguém pode considerar os neo-zelandeses como favoritos.