First Folio. A maior obra da literatura inglesa estimada em 2,5 milhões de dólares

First Folio. A maior obra da literatura inglesa estimada em 2,5 milhões de dólares


Em 1623, 36 peças escritas pelo dramaturgo inglês William Shakespeare foram reunidas num único volume intitulado First Folio. 400 anos depois, este que é considerado “o livro mais importante da literatura inglesa”, e um dos menos de 20 exemplares em mãos particulares, será leiloado em Nova Iorque por um valor a rondar  2,5 milhões de dólares.  


Poucos livros antiquários despertam tanto o interesse dos bibliófilos quanto as raras cópias do First Folio, uma coleção de 36 peças daquele que é conhecido como o mais influente dramaturgo do mundo, William Shakespeare. Juntamente com A Bíblia, de Gutenberg, esta é, por isso, segundo o The Guardian, “uma das obras mais valiosas do mundo”, chegando mesmo a ser referida, muitas vezes, como “o livro mais importante da literatura inglesa”. Agora, a obra que foi impressa há quase 400 anos e que é um dos menos de 20 exemplares deixados em mãos particulares, será leiloada pela casa de leilões Sotheby’s no próximo mês em Nova Iorque e estima-se que seja arrematada por cerca 2,5 milhões de dólares, o equivalente a 2,4 milhões de euros.

A importância da obra Em 1623, 36 peças escritas pelo dramaturgo inglês foram reunidas num único volume. Publicado sete anos após sua morte,  com curadoria de dois colegas atores e amigos de Shakespeare, John Heminges e Henry Condell, o Mr. William Shakespeare’s Comedies, Histories, & Tragedies, também conhecido como First Folio, compreende 36 peças, metade das quais “nunca havia sido impressa”. De acordo com o The Guardian, nenhum manuscrito contemporâneo dos textos de Shakespeare sobreviveu e, portanto, sem o First Folio é possível que 18 obras, incluindo Macbeth, A Tempestade e Noite de Reis, tivessem sido perdidas na história. Além disso, os historiadores acreditam que esta edição é a “única cópia de origem escocesa”, tendo sido adquirida pela primeira vez pela família Gordon no início do século XVII. Depois disso, foi passando de geração em geração até que chegou ao  criador de cavalos de corrida William Stuart Stirling-Crawfurd, tendo sido posteriormente propriedade do ativista político e historiador RW Seton-Watson, que, segundo o jornal britânico, durante e após a Primeira Guerra Mundial, “defendeu a queda do império austro-húngaro e promoveu o surgimento da Checoslováquia e da Jugoslávia”. Foi já na década de 60 que o livro atravessou o Atlântico, tendo ido parar ao acervo de Abel E Berland, um executivo imobiliário e bibliófilo de Chicago.  

O manuscrito inclui anotações, rabiscos, respingos de tinta e ainda marcações de todos aqueles que foram os seus proprietários ao longo dos séculos. Há ainda trechos de orações e versos escritos à mão, incluindo uma frase misteriosa de alguém chamado John Frasere – escrita em inglês arcaico – que parece uma “invocação de uma força hercúlea”: “Quero bater naquele que roubou a minha beleza enquanto dormia”, lê-se no livro. “O First Folio é, sem dúvida, a publicação mais importante na história da literatura inglesa. Sem este livro, não há Macbeth, nem Twelfth Night, nem Winter’s Tale. Cerca de metade das peças de Shakespeare foram publicadas pela primeira vez neste volume”, afirmou Gabriel Heaton, especialista e diretor dos departamentos de livros da Sotheby’s, em comunicado.

“Parece ter estado na Escócia desde o século XVII, certamente até o final do século XIX, início do século XX. Está em boas condições internamente! Mas como a maioria das cópias, está a faltar algumas folhas!”, adiantou, acrescentando que falta a famosa capa com a imagem de Shakespeare que pode ter sido “retirada ou roubada ao longo dos anos para ser emoldurada como um retrato”. “Muitas vezes, estes são retirados e emoldurados como retratos, ou então, como está logo no início do volume, é a coisa que se danifica primeiro”, elucidou Heaton. Além disso, segundo o mesmo, como foi impresso à mão, “algumas letras estão desalinhadas, alguns espaços estão em falta e há alguns números de página que estão errados”.

Ao The Guardian, Richard Austin, chefe global de livros e manuscritos da Sotheby’s, também fez questão de reforçar a importância da obra: “A aparição de um primeiro fólio de Shakespeare no mercado é sempre um grande evento, com tão poucas cópias restantes em mãos privadas”. “Impressos há quase 400 anos, os fólios são um registo importante que preservou para sempre a produção lendária de Shakespeare, garantindo que muitas das suas obras famosas não fossem perdidas na história. Este exemplar é particularmente especial pelos vestígios dos proprietários anteriores nas suas páginas, muitos dos quais deixaram a sua marca indelével ao longo do livro, lembrando-nos que este é também um pedaço vivo da história humana que captura as maneiras pelas quais gerações de fãs de Shakespeare foram inspirados”, lembrou. 

A cópia bem preservada do First Folio ficará exposta nas galerias da Sotheby’s em Londres até o dia 15 de junho, antes de finalmente ser leiloada em Nova Iorque no dia 7 de julho. Segundo o jornal britânico, os especialistas acreditam que a obra pode alcançar os 2,5 milhões de dólares. Contudo, há quem acredite que esta é, na verdade, uma “expectativa conservadora”, já que em outubro de 2021 outra edição do Shakespeare First Folio foi leiloada pela casa Christie’s de Nova Iorque por 9,98 milhões de dólares, o equivalente a 8,52 milhões de euros – o maior valor já arrecadado por uma obra literária. O comprador foi Stephan Loewentheil, um colecionador de livros raros que comprou o volume como “peça central de uma coleção de grandes realizações intelectuais da humanidade”. Outro exemplar da obra havia sido vendido por 6,1 milhões de dólares, cerca de 5,8 milhões de euros, em 2001.