Energia. Como poupar na fatura final apesar dos preços altos

Energia. Como poupar na fatura final apesar dos preços altos


A eletricidade em Portugal é uma das mais caras da Europa e com a guerra da Ucrânia ainda irá subir mais, mas há sempre alguns truques para baixar esta despesa no final do mês.   


Os dados não são animadores. Os preços da luz não param de aumentar, o que já levou Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) a propor uma redução de 2,6% no preço da luz para os consumidores do mercado regulado a partir de 1 de julho. A proposta abrange os 921 mil consumidores no mercado regulado, que representam 6% do consumo total, e os consumidores no mercado livre que optaram por tarifa equiparada.

De acordo com o regulador, esta revisão excecional das tarifas em 2022 é justificada com a necessidade de “assegurar uma maior estabilidade tarifária face ao atual contexto de grande volatilidade dos mercados de energia e de nível de preços anormalmente elevado nos mercados grossistas de eletricidade”. A ser aprovada, a proposta permitirá “mitigar os acréscimos na fatura dos consumidores, através de uma redução das tarifas de acesso às redes”, detalha.

O certo é que os gastos relacionados com a luz estão na lista das prioridades que os consumidores não deixam de pagar em caso de problemas financeiros. De acordo com a Selectra, tendo em conta os dados do PORDATA, cada habitante doméstico consumiu mensalmente entre 90 a 200 kWh em 2020. No entanto, e por se tratar de valores bastante díspares, o estudo optou por centrar-se apenas em três cidade: Porto, com um consumo por habitante de 165 775 /kWh, Lisboa, com 117 716 /kWh, e Faro, com 134 566 /kWh.

“Supondo que estes consumidores pertenciam ao mercado regulado de energia, e o preço por kWh esse ano era de 0.1543 euros, um residente em Lisboa iria ter de pagar 18,16 euros unicamente pelo seu consumo de energia, um portuense, 25,58 euros e a um habitante de Faro seriam cobrados 20,76 euros”. Feitas as contas, a fatura da luz em 2020 representava 5,44% do orçamento da que vivia na capital, 7,40% da residente no Porto e 6,13% da que morava em Faro.

“Embora este se trate de um cenário hipotético e criado pela Selectra de modo a fazer a comparação entre localidades, demonstra que as faturas de eletricidade já representavam uma fatia bastante significativa no rendimento dos portugueses há dois anos. E se esta estimativa não é, já por si, portadora de boas notícias, este panorama não tem perspetiva de se tornar mais atrativo, principalmente agora que o futuro do mercado energético se encontra tão incerto”, diz o estudo.

Truques Mas, mesmo com os preços da energia a aumentar, ainda assim há pequenos gestos que, no seu dia-a-dia, poderá adotar ou alterar para ver a sua fatura de luz reduzir-se consideravelmente.

Uma das regras base passa por analisar a potência contratada, uma vez que esta tem de estar adequada ao consumo de energia em casa. Mas para isso tenha em conta que os atuais eletrodomésticos, sobretudo os de categoria energética A, são mais eficientes, e há também lâmpadas mais eficientes (como as LED) que, apesar de serem mais caras, consomem seis vezes menos energia e duram oito vezes mais.

Também ao desligar os aparelhos elétricos, em vez de os deixar em standby, e os carregadores de telemóvel, por exemplo, que por vezes ficam esquecidos nas fichas, o nível de poupança aumenta.

Deve ter ainda em consideração o número de pessoas na habitação e analisar muito bem qual a tarifa que melhor se adequa ao seu caso. A tarifa bi-horária apresenta preços diferentes por kWh consoante a utilização em horas de vazio ou horas cheias, sendo o valor mais baixo nos períodos noturnos ou ao fim de semana (horas vazias) e mais elevado nas restantes horas. Pode parecer tentador, mas é importante que tenha em consideração que, se escolher a tarifa bi-horária, o encargo para a mesma potência durante as horas cheias será, por regra, ligeiramente superior ao da tarifa simples. Significa isto que sempre que estiver a utilizar a luz fora das horas vazias, o preço a pagar será mais elevado. No entanto, os ganhos obtidos se fizer grande parte dos consumos nas horas vazias podem trazer uma poupança significativa.

Cuidado com as mudanças Apesar de defender que é fundamental comparar a oferta dos vários comercializadores de luz que atuam no mercado livre e escolher o preço mais baixo, a ERSE também alerta para atenções redobradas a ter noutras frentes.

O regulador tem vindo a lançar alertas sobre as más práticas comerciais existentes e dá sugestões aos consumidores de como estas podem ser evitadas. “Alguém o aborda dizendo que tem uma oferta de energia para lhe apresentar e pede-lhe que assine um documento que apenas comprove que esteve presente em sua casa. O que deve fazer: nunca assine um documento sem o ler. Exija sempre e guarde cópia do que assina. Se tiver dúvidas depois de ler, recuse assinar”, diz a ERSE, lembrando ainda que, nas vendas à distância, se assinar e se arrepender, tem 14 dias para resolver o contrato.
Os alertas não ficam por aqui.

“Se alguém o aborda dizendo que tem de mudar de fornecedor para não ficar sem gás ou eletricidade, não acredite nesta história. Os consumidores só devem mudar de fornecedor se quiserem e quando estiverem convenientemente informados do novo contrato”, avisa o regulador.

Estes são muitos dos problemas que podem surgir, com o regulador a afirmar que estes alertas de más práticas “são focados em aspetos específicos que resultam da análise sistemática que se faz às reclamações que a ERSE recebe e procuram estar numa linguagem simples e acessível. Cada alerta identifica uma má prática que é seguida e sugere como o consumidor pode evitá-la, sendo divulgada sempre que identificada e considerada relevante para a informação aos consumidores”.

Oferta Apesar das vantagens anunciadas pelas elétricas, o cliente deve ter em atenção o preço sobre o qual incide o desconto comunicado e em que componentes da fatura. A explicação é simples: muitas ofertas apostam em descontos elevados; no entanto, estes têm por base um preço mais alto do que os valores praticados por outras empresas concorrentes. Além disso, para beneficiar destas promoções, na maioria das vezes, os clientes não podem ter acesso às tarifas bi-horárias ou tri-horárias. E a verdade é que, para um cliente com um consumo médio, as tarifas bi-horárias continuam a ser mais compensadoras do ponto de vista económico.

Não se esqueça de que, ao optar por uma tarifa simples (paga sempre o mesmo pela energia), bi-horária ou tri-horária (a energia tem dois ou três preços, conforme a hora e o dia), essas tarifas funcionam como incentivadores de mudança de hábitos de consumo para alturas mais equilibradas.

São considerados três períodos: horas de vazio, que correspondem a horários com menor procura de eletricidade; horas fora do vazio (ou de cheio, quando falamos da tarifa tri-horária), que são os períodos não incluídos no horário de vazio; e horas de ponta, aplicáveis a quem tem a tarifa tri-horária, que correspondem ao período em que se concentra a maior procura na rede elétrica. Se não adaptar a rotina a estes horários, de pouco serve.

Truques para poupar na conta 

Dicas
•  Uma das regras básicas passa por desligar todas as luzes que se encontram acesas desnecessariamente 
•  Opte por lâmpadas economizadoras
•  Desligue carregadores da tomada e não deixe aparelhos em standby
•  Compre eletrodomésticos da classe A
•  Use carregadores solares e prefira computadores portáteis, que consomem menos
•  Evite a acumulação de gelo no congelador porque isso aumenta o consumo energético
•  Deve pintar as paredes e os tetos de cores claras para que reflitam melhor a luz, reduzindo a necessidade de iluminação artificial. Evite abajures muito opacos, já que obrigam à utilização desnecessária de lâmpadas mais potentes, e instale sensores de movimento nos locais de passagem

Melhorar isolamento
•  Não se esqueça de instalar um bom isolamento nas paredes, chão e tetos, e utilize vidros duplos, reduzindo as necessidades de climatização 

P&R

Conheça os passos para mudar de fornecedor 

Como mudar de fornecedor? 

Pode consultar a lista de fornecedores que está disponível no site da ERSE. Depois é só comparar as propostas recebidas com a do seu fornecedor atual para saber quais as vantagens e, acima de tudo, analisar os preços cobrados.

O que devo ter em conta? 

A comparação de preços, a periodicidade de faturação e as condições de pagamento são os principais critérios. Deve também analisar as condições dos contratos, a sua duração mínima e as condições de denúncia.

Quais os cuidados a ter na comparação das propostas? 

Deve ter em conta que os valores em análise são comparáveis e, sempre que possível, use os consumos históricos para simular os valores a faturar em cada proposta. Não se esqueça de analisar as condições contratuais de fornecimento. Para isso, poderá recorrer à Deco e à ERSE, que dispõem de simuladores de preços.

É necessário substituir o contador? 

Não, o contador é propriedade do distribuidor, e não do comercializador. Só haverá substituição do contador no caso de existir alteração de consumidor.

Quais os motivos que impedem a mudança de fornecedor? 

A identificação insuficiente ou inválida da instalação, a sobreposição de pedidos, potência (eletricidade) indicada não normalizada ou superior à requisitada, dados do cliente não coincidentes com os registados e a existência de processos de fraude podem impedir esta mudança.

Quanto tempo demora a mudança? 

Geralmente, o processo não demora mais do que 15 dias úteis. Mas, em alguns casos, pode prolongar-se para além deste período quando existe a necessidade de uma intervenção no local de consumo.

Quanto custa a mudança? 

Este processo não tem qualquer tipo de custos para o consumidor. 

Qual a entidade responsável pela gestão dos processos de mudança? 

A entidade responsável é o operador logístico de mudança de comercializador, que irá acumular esta função nos setores da eletricidade e do gás natural.