Bernardo Trindade. “Devido à falta de  mão-de-obra estamos a remunerar melhor”

Bernardo Trindade. “Devido à falta de mão-de-obra estamos a remunerar melhor”


O novo presidente da Associação da Hotelaria de  Portugal (AHP) admite que este é um dos maiores desafios que o setor enfrenta.


O aumento da procura disparou além do que estava previsto e colocou vários desafios. De acordo com o novo presidente da AHP, os hotéis nem tiveram tempo para se preparar. Um dos principais problemas que o setor enfrenta diz respeito à falta de mão-de-obra e, mesmo praticando uma tabela salarial acima da média, foi obrigado a subir os ordenados e a ajustar os horários de trabalho para tornar as profissões mais atrativas. Também o aumento dos custos de funcionamento penalizam as contas, daí Bernardo Trindade considerar que é inevitável que essas subidas se repercutam nos preços. Ainda assim, acredita que os turistas já estavam à espera destes aumentos, lembrando que Portugal está a beneficiar por ter “aberto mais rápido” do que outros países, ganhando também pontos em termos de segurança e de termos sido “muito assertivos” no plano de vacinação, o que nos permite “ganhar” um carimbo como um dos países mais seguros do mundo.

Quanto à relação qualidade/preço não hesita: “Sou razoavelmente viajado e posso assegurar convictamente que, do ponto de vista, quer da qualidade hoteleira, quer da qualidade dos serviços, quer da qualidade dos equipamentos, não ficamos a dever nada a ninguém”.

O ex-secretário de Estado lamenta, no entanto, a forma como a questão do novo aeroporto de Lisboa está a ser tratada e, tendo em conta a importância do turismo para o crescimento da economia portuguesa, diz que é não possível esperar até 2030 por uma solução sem comprometer as metas de crescimento. E elogia a forma como o dossiê TAP, que acompanhou de perto, foi tratado.

Para trás ficam dois anos de “uma crise sem precedentes”, com hotéis fechados, trabalhadores e clientes em casa, uma situação que “não vai deixar saudades”. 

Como está o setor da hotelaria?
Está a recuperar. Foram dois anos de uma crise sem precedentes, que nenhum de nós alguma vez sequer imaginou que iria passar: clientes em casa, colaboradores em casa e, além de não haver atividade, foi um ambiente profundamente depressivo porque os hotéis existem para receber clientes e não para viverem a situação que viveram, em que estavam manifestamente sem movimento. Viemos desse tempo e agora estamos a viver uma fase diferente, de franca recuperação, mais rápida do que qualquer um de nós imaginou. Os dados do Banco de Portugal do mês de março referentes ao primeiro trimestre apontam para valores de 95% face ao que tivemos em 2019, ou seja, é uma recuperação bem mais rápida do que aquela que prevíamos. Mas isso também coloca desafios: voltar a montar toda a infraestrutura hoteleira para uma procura muito acentuada. Nem sequer tivemos tempo para nos irmos preparando. Fomos confrontados com uma realidade de regressar e estamos a vivê-la.

Tanto o Banco do Portugal como a Comissão Europeia apontam para um forte crescimento da economia portuguesa, baseado no turismo. Acha que essas perspetivas são demasiado otimistas ou realistas tendo em conta o aumento da procura nas últimas semanas?
Acho que são consequência de um caminho que Portugal percorreu até 2019 e foi indiscutivelmente um caminho muito bonito, com reconhecimento internacional, com prémios recebidos e com uma vontade um pouco por todo o mundo de visitar o nosso país. Obviamente que essas características e esse interesse não desapareceram com a pandemia, até pelo contrário, acentuou-se e reforçou-se porque as pessoas ficaram em casa foram-se informando e em função dessa informação que receberam consolidaram a ideia de quererem vir visitar Portugal. Este regresso também está a ser feito de uma forma mais rápida por isso.

Aliado ao aumento da vontade das pessoas de viajar…
Não há dúvida nenhuma que o transporte aéreo, tal como o turismo, foi dos que mais sofreu com a pandemia, os aviões ficaram pura e simplesmente no chão e nesta recuperação também têm sido confrontados com dois tipos de destinos: os destinos que rapidamente reabriram, os destinos de proximidade e, no caso da Europa, Portugal claramente a assumir uma posição liderante e depois os outros destinos que vão reabrindo, nomeadamente aqueles que se relacionam com os países do Mediterrâneo Oriental e que ainda por cima, agravado com a guerra na Ucrânia, estão a ter um regresso mais lento. Ora, havendo procura, havendo interesse e havendo vontade das pessoas em viajar como é evidente Portugal beneficia.

Durante a pandemia o turismo parou e surgiram muitas vozes contra a estratégia do crescimento económico assente nesta atividade. Os dados da Comissão Europeia mostram que esta é a melhor solução?
Mas também para essas pessoas temos respostas. Quando entra no hotel, o seu serviço conta com cutelaria e têxtil português. Vai aos quartos e tem cortinas, lençóis, cobertores e mobiliário portugueses. Isso não é a indústria portuguesa a servir uma atividade de prestação de serviços que recebe cidadãos estrangeiros e nacionais? É uma montra da nossa indústria. Temos rapidamente de abandonar esse tipo de preconceito, muitas vezes ignorante, que não investiga, que nem sequer liga as coisas para de alguma maneira percebemos que com o turismo a ser uma atividade líder vamos permitir investimento, investimento que se alimenta de outros setores de atividade económica.

Mas está à espera que surjam as tais vozes a dizer que vamos ter turistas a mais?
Não sei o que são turistas a mais. Agora sei o que são turistas a menos. E turistas a menos foi aquilo que vivemos nos últimos dois anos: com hotéis fechados, com aviões no chão, com trabalhadores em casa, com clientes em casa e se não fosse o conjunto de ajudas públicas, designadamente o layoff simplificado, o apoio à retoma, então teria sido uma tragédia a sério. 

Mesmo assim muitos empresários enfrentaram grandes dificuldades e estiveram de portas fechadas. Já fizeram cálculos a essas perdas?
Neste momento não tenho esses dados, mas sinto que um pouco por todo o país, independentemente da dimensão das unidades hoteleiras, foi um tempo muito, muito difícil e de que não guardamos saudades. 

Além da questão da segurança, ainda esta semana António Costa apontou isso como uma vantagem para o nosso país, também temos uma elevada taxa de vacinação…
Em relação à questão da segurança, Portugal é à escala mundial um dos países mais seguros do mundo e isso é validado pelas instituições internacionais em largo espetro. E o facto de termos sido muito assertivos no plano de vacinação confere-nos uma segurança no destino a visitar muito grande.

Falou no desafio de montar toda a estrutura hoteleira. Primeiro tiveram muitas unidades fechadas e agora deparam-se com um problema de falta de mão-de-obra?
Há falta de recursos humanos. Portugal entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021 perdeu neste setor cerca de 45 mil pessoas, cerca de 10% da sua força de trabalho.

Em novembro, a AHP disse eram precisos 15 mil trabalhadores….
O turismo como atividade económica perdeu 45 mil pessoas, das quais um terço (15 mil) só na hotelaria e com a agravante de que Portugal está a apresentar níveis de empregabilidade dos mais altos de sempre: mais de quatro milhões de registos na Segurança Social. Isso significa que as pessoas saíram do turismo e foram para outras áreas de atividade ou saíram do país. Neste regresso esse foi indiscutivelmente o principal desafio. Ou seja, face a uma procura muito forte, com níveis a exigirem a composição plena das equipes das unidades hoteleiras, encontrar recursos para poder satisfazer essa mesma procura. Esse é um tema que estamos permanentemente a viver e ainda esta quarta-feira estivemos a fazer uma ação, em que os nossos associados estão a receber cidadãs ucranianas com vista a podê-las integrar no mercado de trabalho. Neste momento, desde o início da crise já empregámos nas unidades hoteleiras cerca de 50 cidadãs, mas a nossa ambição é estender este quadro porque compatibiliza necessidade com solidariedade com um povo que está neste momento a sofrer. Obviamente que é uma iniciativa simbólica do ponto de vista da AHP, mas a nossa aposta também se deve fazer a outros níveis. Em primeiro lugar, num aspeto que já está a acontecer nas nossas unidades hoteleiras que é em função desta necessidade, desta escassez: estamos a remunerar melhor. A hotelaria sempre liderou no quadro do turismo a componente da remuneração e dos benefícios, mas agora estamos em todas as regiões do país, independentemente da dimensão das unidades hoteleiras, a pagar melhor e estamos também a tentar fazer uma melhor gestão dos horários para permitir outra qualidade de vida aos trabalhadores.

E para tornar a profissão mais atrativa?
Exatamente.

Mas estas 50 cidadãs ucranianas são um número insuficiente…
Tem mais um caráter simbólico. Mas queria destacar outro aspeto que é muito importante. O Governo anunciou a assinatura de um acordo com a CPLP, que foi entretanto ratificado, mas sabemos que não chega. É preciso assegurar já uma regulamentação adequada e que crie uma via verde para que este acordo de mobilidade dos países que falam a nossa língua possa ser uma realidade, nomeadamente em duas instituições que estão ligadas a este objetivo de mobilidade. É o caso dos consulados na apreciação dos processos das pessoas que entram em Portugal e o SEF como instituição parceira dos serviços consulares para que, de alguma maneira, termos um quadro de via verde de simplificação de legalização.

A facilidade da língua é uma vantagem. Depois é só dar formação?
Estamos disponíveis para ser uma parte muito ativa nesse processo, quer ao nível da formação especifica nas áreas de hotelaria, quer ao nível da formação linguística, porque é compreensível que um cidadão que venha de São Tomé ou de Cabo Verde ou do Brasil ou de Angola possa não ser fluente no inglês. 

Mas há muitos empresários que se queixam de fazer contratos de trabalho com pessoas de outras nacionalidades e que assim que recebem o visto desaparecem…
Como é evidente, situações excecionais acontecem um pouco por todos os países. Temos em Portugal um conjunto de cidadãos provenientes de um vasto conjunto de países, em que as coisas correm bem, o apelo que fazemos é que a entrada em Portugal se possa fazer com o cumprimento de três requisitos: por um lado um contrato de trabalho, por outro lado um comprovativo de morada e em terceiro lugar um registo criminal limpo. Entendemos que estão criadas aí as condições e não temos que adicionar mais entraves porque temo-nos dado bem nesse registo. O que entendemos, e essa tem sido uma reclamação habitual, é que para países longínquos há um conjunto de constrangimentos que posteriormente foram levantados. O apelo que fazemos para os países da CPLP e para outros países é que possamos juntar esforços e obter respostas que nos permitam tratar este tema de escassez de recursos humanos da melhor forma possível. Porquê? Porque queremos ser a solução, queremos ser a parte ativa deste processo, agora ajudem-nos.

Ainda na semana passada, o presidente da AHETA disse ao Nascer do SOL que o Instituto do Emprego deu a indicação que tinha seis mil pessoas inscritas na área do turismo, em que só cozinheiros eram 500 e no final das entrevistas praticamente nenhuma dessas pessoas foi colocada por recusarem as ofertas…
Há uma série de situações dessas.

Mas por estarem a receber o subsídio de desemprego?
Pode ser essa uma das justificações e o apelo que faço é que o Instituto de Emprego, agora com um novo secretário de Estado de Emprego, possa ser muito atuante neste quadro de fiscalização. Não nos esqueçamos que o subsídio de desemprego são recursos públicos que estão neste momento a ser entregues às pessoas, numa situação de não trabalho, de ausência de emprego. Ora, se o mercado está a exigir, a requerer uma presença das pessoas nas empresas para poderem de alguma maneira cumprir determinado objetivo individual e coletivo, então que se fiscalize. 

O aumento da procura está a levar a um aumento dos preços. Até que ponto os valores podem continuar a subir, já que estamos perante um aumento da inflação, o que também levará a uma redução do poder de compra?
O que estamos a sentir, além da falta de recursos humanos, é uma inflação generalizada de toda a cadeia de valor da atividade hoteleira: gás, luz, cadeia alimentar, prestação de serviços. Tudo aumentou e nós numa economia de mercado saudável devemos repercutir no preço ao cliente esse acréscimo, até porque Portugal ao longo dos últimos anos fez um caminho muito competente, reconhecido internacionalmente e a expectativa do nosso cliente é que possa ver em função de toda esta dinâmica que referi um aumento do preço. Mas isso é ilimitadamente? Penso que esta questão de inflação generalizada dos custos de produção, muitos também justificados pela própria guerra na Ucrânia, terá tendência para de alguma maneira normalizar. Acho que também os preços de venda tenderão a registar um certo equilíbrio porque entretanto também outros destinos vão reabrir.

As perspetivas para este verão são animadoras, nomeadamente no Algarve. Mas a oferta estará mais direcionada para o poder de compra estrangeiro do que para o nacional?
Acho que a perspetiva é positiva para todas as regiões do país. Vamos apresentar na segunda-feira o nosso inquérito junto dos associados relativamente às perspetivas de verão, mas o que posso dizer é que as perspetivas são positivas um pouco por todo o país. E o compromisso que Portugal construiu com os portugueses, nomeadamente nos últimos dois anos de pandemia, vai-se manter, agora com uma concorrência mais forte de outros destinos que regressaram a Portugal. Mas também acho que tudo isto é feito de equilíbrios para que as pessoas possam continuar a ter o seu período de férias.

A oferta é variada, logo também há vários preços…
Quem acompanha esta atividade – e eu acompanho-a desde 2005 de forma mais acentuada – verifica que hoje conseguimos encontrar um sítio para dormir ou para comer em todas as freguesias, em todos os conselhos do país e coisas com muita boa qualidade a preços razoáveis. E isso é obviamente também mérito de uma estabilidade e de um reconhecimento de que esta atividade pode ser a resposta para algumas regiões do país. Isso deixa-me muito satisfeito e o nosso objetivo enquanto AHP é poder continuar a acompanhar todos estes nossos associados, percebendo as oportunidades, refletindo também sobre as dificuldades para podemos ter este caminho o mais consolidado possível.

E grandes cidades portuguesas, como Lisboa e Porto, já podem competir com outras cidades europeias em termos de preços e de oferta?
Sou razoavelmente viajado e posso assegurar convictamente que, do ponto de vista, quer da qualidade hoteleira, quer da qualidade dos serviços, quer da qualidade dos equipamentos, não ficamos a dever nada a ninguém. Se pudermos, de alguma maneira, neste momento de recuperação, de regresso, refletir no preço final esta qualidade que por todos é percecionada acho que o devemos fazer.

Antes da pandemia estava prevista a abertura de uma série de hotéis em Lisboa, cujos projetos pararam. Em que estado estão?
Ainda não temos essa contabilidade encerrada. Sabemos que há projetos que avançaram, outros que aguardavam, e sabemos que há projetos que aguardam melhores dias para poderem ser lançados. O que para nós é importante é que, do ponto de vista da oferta, ela possa fazer o seu caminho, mas entendemos também que do ponto de vista da nossa relação com os clientes possamos melhorar a nossa prestação. Mas para isso há um tema nacional, mas com forte implicação na cidade de Lisboa, que é o aeroporto, que é preciso ter em conta.

Se antes da pandemia já estava esgotado, agora com o retomar dos níveis de 2019 vai ficar no mesmo nível ou ainda pior…
Estamos a regressar muito mais rapidamente do que estávamos a prever. Isto já era tema em 2019 e, na altura, era administrador não executivo da TAP. Agora em 2022 estamos a sentir a um regresso muito forte da procura por Portugal, em Lisboa em concreto, onde temos de encontrar respostas. Há um consenso generalizado há mais de 50 anos que Lisboa deve ter uma nova infraestrutura aeroportuária, recebemos agora a informação de que há dúvidas quanto à entidade a quem foi adjudicada o estudo ambiental estratégico e isso adensa as nossas dúvidas, porque projeta o aparecimento de uma nova infraestrutura aeroportuária eventualmente para 2030. A pergunta que fazemos é: podemos dar-nos ao luxo de entre 2022 e 2030 não termos respostas ao nível da procura aeroportuária em Lisboa? Acho que é tempo de se revisitar o contrato de concessão para permitir que um conjunto de obras que têm muita importância possa avançar e que permita compatibilizar aquilo que é a organização entre o movimento em terra com o movimento no ar, nomeadamente o número de movimentos por hora. Isso é indiscutivelmente algo que me parece que é importante que aconteça.

Em última análise poderá “afugentar” turistas?
Imagine as pessoas que, ao longo deste período de pandemia, leram, estudaram, criaram expectativas sobre Portugal, como sendo um dos destinos mais seguros do mundo, com o seu ambiente urbano, cosmopolita, com uma componente de lazer do melhor que existe no mundo e depois são confrontadas com essas dificuldades.

Tem falado várias vezes nos prémios que recebemos, mas houve uma forte polémica em torna da sua compra… 
Não entro nesse tipo de discussão até porque há entidades que podem fiscalizar e acho que estar com esse tipo de juízo objetivamente não acrescenta nada à nossa discussão em torno deste esforço coletivo que estamos a fazer em torno da atividade turística. Mas como estava a dizer o pior cartão de visita que podemos apresentar é o que está a acontecer no aeroporto de Lisboa com filas em torno das 5 horas. É absolutamente lamentável, o mesmo acontece com o que se passou agora com a marcação de plenários e a forma como se contornam os instrumentos. Quando se marca uma greve, o Estado tem instrumentos para de alguma maneira assegurar o interesse nacional, este tipo de iniciativas põe em causa a imagem do nosso país.

Ainda esta semana, os trabalhadores da Portway avançaram com greve de seis meses…
É um fator de instabilidade que soma a um aspeto que é incontornável. O aeroporto Humberto Delgado tem a capacidade que tem, tem a procura que tem e tem como resultado servir um país e, por isso, é natural que todos os stakeholders no quadro de operação aeroportuária sejam parceiros e procurem somar e não andarmos a distrair com iniciativas que põem em causa este projeto.

E qual é a melhor localização? A que for mais rápida?
É evidente: mais rápida, mais ágil, mais económica porque estamos a falar de recursos públicos e havendo um consenso relativamente ao Montijo e se ele cumpre esses objetivos então temos é que avançar.

O dossiê TAP foi mais rápido de resolver do que o dossiê novo aeroporto?
Acompanhei esse processo muito de perto. Foi um processo muito rápido, muitíssimo escrutinado, com muitas interações com a Comissão Europeia e foi com grande satisfação para aqueles que acreditam no instrumento de mobilidade como a TAP ver o seu plano aprovado face aquilo que a TAP representa para Portugal, para o turismo português e suas implicações económicas e o que significa para os milhares de famílias que emprega.

Ainda esta semana, os sindicatos garantiram no Parlamento que o plano de reestruturação vai “destruir” a TAP…
Foi um plano de reestruturação tão escrutinado, tão participado e que exigiu o sacrifício a um conjunto de pessoas. Houve pessoas que saíram da TAP, houve pessoas que viram os seus rendimentos diminuídos em função dos objetivos do plano de reestruturação para que fosse possível tornar a TAP viável. O que é fundamental agora é que o plano de reestruturação que está a ser implementado e está a ser tão escrutinado por parte da Comissão Europeia possa o mais rapidamente possível ser concretizado, a bem da TAP e a bem de Portugal.

Chegou a dizer que cada euro investido na TAP deve ser feito com capacidade de se perceber o seu impacto…
Acho que tudo isso já foi discutido. A nossa expectativa é que, enquanto setor que depende da mobilidade, o plano de reestruturação seja um sucesso.

E como vê a bazuca para o setor?
É um tema recorrente e o que temos sempre pedido é um reconhecimento desta especificidade que é o turismo. Agora que estão a ser canalizados recursos via bazuca para apoiar a economia portuguesa, aquilo que o turismo e a hotelaria pedem é a existência de avisos de programas específicos para o setor do turismo. Se o nosso contributo direta e indiretamente é de cerca de 18% da riqueza nacional, se temos 11% do emprego, se temos uma contribuição significativa no volume total das exportações, então é importante que haja capacidade disponível para, de alguma maneira, apoiar o setor, seja para termos empresas mais capitalizadas, seja para termos um setor com mais capacidade para podermos enfrentar os desafios, como estes, que ninguém pensava que iriam existir mas que existiram.

Agora com o aumento da procura seria oportuno discutir o aumento da taxa turística?
A AHP sempre se pronunciou desfavorável à existência de taxas. No caso de Lisboa, a questão foi colocada nestes termos: admitimos a existência da taxa turística na exata medida que os investimentos que resultavam do produto dessa receita fossem aplicados em prol da afirmação do setor do turismo. Ainda esta semana inaugurámos no Palácio da Ajuda a grande exposição das joias da Coroa e esse investimento foi possível com o dinheiro da taxa turística, de outra forma não teria sido possível.

Há autarquias que querem pavilhões e outro tipo de infraestruturas semelhantes…
Para isso somos assumidamente contra. Temos em Lisboa um outro compromisso, através das receitas das taxas turísticas, de fazer um centro de congressos que permitisse dar resposta a uma procura cada vez mais real de eventos. 

No momento da sua candidatura disse que estava preparado para “esta responsabilidade maior”, tendo em conta que durante os últimos anos foi vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal. Os desafios de que falou são estes que têm sido apontados?
Fui vice-presidente durante três mandatos, acompanhei o setor numa outra encarnação da minha vida e sou empresário há mais de uma década. Juntando estas peças todas julgo que tenho informação suficiente para poder assumir esta responsabilidade. A AHP tem mais de 800 associados e temos como grande objetivo assegurar a presença da AHP em todo o país, acarinhando e acompanhando os nossos associados face aos seus constrangimentos que obviamente são também diferentes em alguns casos. Os constrangimentos do interior são diferentes dos do litoral, os do Algarve são diferentes dos das regiões autónomas. Queremos acompanhar todos os nossos associados e esse é um dos desafios que temos pela frente. Desde que façamos bem esse acompanhamento, se estivermos próximos deles, identificando e procurando respostas relativamente aos seus problemas, a nossa expectativa é que possamos também aumentar o número de associados.

Foi secretário de Estado do Turismo vários anos. Isso poderá dar mais facilidade em conversações e em discutir temas, como é o caso do aeroporto?
Fui secretário de Estado do Turismo entre 2005 a 2011. Todo o nosso percurso é resultado de um conjunto de responsabilidades que fomos assumindo, de informações que fomos partilhando, de pessoas com quem fomos contactando e admito isso que possa facilitar o debate das iniciativas, mas na certeza que a minha prioridade é a defesa do turismo e das suas necessidades, das suas pessoas e das suas empresas, principalmente porque tenho consciência que em termos do nosso desenvolvimento coletivo futuro tudo passa pela afirmação desta atividade.

E a guerra com o alojamento local é um assunto encerrado?
Estou à vontade com isso, até porque algures em 2008, quando o Governo criou a lei dos empreendimentos turísticos, criámos a figura do alojamento local. Em tom de brincadeira até posso dizer que fui o “pai da criança”. O alojamento local é uma forma de alojamento que complementa a oferta de alojamento turístico e que tem sido uma resposta importante, sobretudo para os níveis de procura que os grandes centros vão apresentando. Tem características muito próprias em relação ao funcionamento da sua atividade e convivemos bem com estes dois tipos de ofertas.