31 de Maio de 1954. O ex-rei adiposo começava  a tornar-se uma verdadeira estucha

31 de Maio de 1954. O ex-rei adiposo começava a tornar-se uma verdadeira estucha


Arrogante e petulante, mal-educado e prepotente, o deposto Rei Farouk, do Egipto e do Sudão, usava e abusava da hospitalidade italiana. Mas passava dos limites e já não havia quem fosse capaz de aturar o tarraco adiposo. Um pedido de expulsão do país caiu na secretária do ministro do Interior.


As coisas são como são e não vale a pena estarmos aqui com paninhos quentes: já ninguém suportava o gordo! O gordo era arrogante e embirrento, o gordo era mal-educado e petulante, o gordo não tinha respeito por ninguém. Até o nome do mamífero era um aborrecimento: Farouk bin Ahmed Fuad bin Ismail bin Ibrahim bin Muhammad Ali bin Ibrahim Agha. Tinha sido oficialmente Rei do Egipto e do Sudão, deposto pelo Golpe de Estado de 1952, mas ainda não se convencera verdadeiramente que não mandava nada. Passara os últimos dois anos de vida a mendigar estada neste país e naquele e os italianos, coitados, tinham tido a falta de senso de o receberem como se ainda fosse soberano de alguma coisa, permitindo-lhe uma vida de nababo, usando e abusando da sua fortuna para infernizar a vida de toda a gente que lhe passava dentro do círculo restrito onde se movia. Enfim, uma grandessíssima estucha!

O episódio mais recente dera-se em Veneza. Estando a passear de gôndola com uma senhora de sobremaneira vistosa, viu-se subitamente fotografado por um paparazzo mais atrevido. Não gostou. Mandou que um dos seus seguranças lhe desse uns tabefes, ordem que este cumpriu com zelo, atirando com o infeliz para o canal com máquina e tudo. Uma chatice! O fotógrafo não se ficou, apresentou uma queixa ao Conselho Municipal da Cidade. O Conselho já estava com Farouk pelas orelhas e deu-lhe ordem de expulsão. Fosse mandar bater em gente para outro lado.

O cerne da questão é que toda a imprensa italiana, mais ou menos curiosa em relação à vida devassa do gordo, já assinara em conjunto um documento que considerava a presença do “ex-Rei do Egipto em Itália sob todos os pontos de vista deplorável”. As confusões com o pedante já vinham de longe e multiplicavam-se à velocidade da Luz, ou seja, para aí a 299 792 458 metros por segundo. Farouk caíra num estado de abandalhamento total, exibindo a sua figura física digna de um cetáceo pelas praias italianas, conduzindo a altas velocidades o seu automóvel de luxo, organizando festas de arromba em quartos de hotel que terminavam, geralmente, com enormes borracheiras e cenas muito pouco edificantes com raparigas contratadas precisamente por serem pouco edificantes. Se a princípio lhe tinham achado piada, agora os italianos estavam pelos cabelos com o tarraco adiposo. E o ministro di Interior da Itália já tinha na sua frente um documento para assinar que ordenava a sua expulsão do território.