CEO das empresas cotadas recebem, em média, 32 vezes mais do que os seus trabalhadores

CEO das empresas cotadas recebem, em média, 32 vezes mais do que os seus trabalhadores


Dados são da Deco Proteste que diz que a Jerónimo Martins lidera o pódio com rendimentos 262,6 vezes superior à média dos colaboradores.


A Deco Proteste analisou a diferença entre as remunerações anuais dos CEO e dos colaboradores nas principais empresas portuguesas e chegou à conclusão que o presidente da Comissão Executiva da Jerónimo Martins auferiu, em 2021, 3075 milhões de euros, um aumento de 19,3% face a 2020. “Este valor é 262,6 vezes superior à média dos salários dos restantes trabalhadores da empresa, a qual detém a maior disparidade salarial entre as 17 organizações analisadas”, diz a associação.

Com base nestes números, João Sousa, coordenador da Proteste Investe diz que os dados “ajudam a perceber as grandes diferenças em matérias de remuneração dos CEO em Portugal”, acrescentando que “em teoria, a política de remunerações necessita do voto vinculativo dos acionistas. No entanto, a declaração sobre a política de remunerações é, na prática e na maioria dos casos, muito vaga e não permite que seja votada, de forma individualizada, a remuneração dos membros do conselho de administração, ao contrário do que defendemos”.

Neste ranking seguem-se, “ainda que a larga distância”, a Sonae, em que a CEO Cláudia Azevedo aufere uma remuneração 77,4 vezes superior à dos colaboradores da empresa. Já a terceira posição é ocupada pela Mota-Engil, dirigida por Gonçalo Moura Martins, cujo rendimento anual é 73,3 vezes mais elevado que a média dos salários praticados na empresa.

A Deco explica ainda que “as áreas geográficas de atuação de algumas das empresas analisadas ajudam a explicar estas diferenças, tendo em conta o contexto social e económico de alguns países pouco desenvolvidos em África ou na América Latina. Porém, a disparidade é bastante elevada”.

Entre as 14 de 15 empresas no índice PSI (excluindo-se a GreenVolt por ser muito recente e não ter dados consistentes para a análise), e outras três seguidas pela Proteste Investe, nomeadamente Cofina, Impresa e Novabase, as diferenças “são significativas”. Isto porque, diz a Deco, o rácio é superior a 20 em 11 das 17 empresas analisadas. Para o conjunto das 17 empresas, o rácio passou, entre 2020 e 2021, de 29,6 para 32,2. A explicação é simples: “Na base desta subida está, sobretudo, o aumento da remuneração variável dos CEO (+27,8%), nomeadamente na Mota-Engil, Navigator, BCP, Impresa, EDP, Sonae e Semapa, que pode ser parcialmente explicado pela melhoria dos resultados das empresas, mas não na sua totalidade”. Em comparação, o vencimento médio dos restantes trabalhadores aumentou, no mesmo período, apenas 2,7 por cento.

Numa altura em que a disparidade salarial tem aumento, a Deco Proteste refoça a necessidade de alterar a legislação. Como? “A primeira mudança que se impõe, num âmbito mais global, relaciona-se com a obrigatoriedade (pelo menos, parte delas) das recomendações do Código de Governo das Sociedades, do Instituto Português de Corporate Governance”, nomeadamente no que diz respeito a: “Existência de uma comissão de vencimentos, com total independência; Definição de limites máximos para a remuneração individual e agregada dos órgãos sociais; Remuneração dos administradores parcialmente variável e baseada no desempenho sustentado da sociedade, com objetivos claros de criação de valor a longo prazo para os acionistas, e sem estimular a assunção de riscos excessivos; Diferimento, por um período não inferior a três anos, de uma parte significativa da remuneração variável”.

João Sousa diz ainda que “é desejável que a remuneração de cada administrador seja objeto de votação anual em assembleia geral de acionistas. Outro aspeto importante é fixar um máximo para o rácio entre a remuneração do presidente da comissão executiva e a média dos restantes trabalhadores. Ainda que possa variar em função do setor de atividade, é necessário haver limites”.