Aconteça o que acontecer, no próximo sábado o PSD já ganhou.
Ganhou porque vai finalmente virar a página e pôr fim a um dos capítulos mais negros da sua longa história. Ganhou porque vai finalmente poder respirar e viver.
Com Luís Montenegro ou com Jorge Moreira da Silva, o partido enfrentará os dias que aí vêm com uma competência e uma força política que, infelizmente, nunca conheceu nos últimos quatro anos.
Se isso será suficiente para recuperar o lugar central do PSD no sistema democrático e na sociedade portuguesa, é uma pergunta em aberto. Que ela seja, sequer, colocada desta forma, é bem reflexo da marca de destruição de Rui Rio. Em julho de 2019 já eu avisava que a presidência de Rio era uma comissão liquidatária do PSD. Aos dias de hoje percebe-se que esse aviso não foi exagerado.
Com Rui Rio, o PSD foi pequeno nas ideias, incapaz nas políticas e medíocre na ação. Sensaborão para os portugueses e amorfo para os militantes. Desastroso na estratégia, esmagado pelos resultados. Como não podia deixar de ser.
Rio transformou o PSD numa caricatura de partido, fechado e quezilento, onde a diversidade de opiniões foi sempre tão mais virtuosa quanto mais refletisse a providencial sabedoria do chefe.
E, mesmo assim, lá terá direito ao seu lugar na galeria dos presidentes do partido. Com retrato exposto no topo da escadaria da sede nacional, na São Caetano à Lapa, ao lado de homens que mudaram o País.
Que esse retrato seja, a partir de sábado, a lembrança de um lugar onde nunca mais nós, os militantes sociais-democratas, queremos voltar a estar.
Tenho mais de 45 anos de militância social-democrata. É, tanto quanto me lembro, a primeira vez que não tomarei partido numa eleição interna.
Votarei no sábado equidistante dos dois homens que se propõem reconstruir o PSD, mas radicalmente contra os que fizeram tanto mal ao PSD que o deixaram num coma político.
Nunca precisei de lugares nos órgãos nacionais para ajudar o meu partido. Desta vez não é diferente. Estou ao serviço de quem quer que ganhe as diretas. Esse será, desde o dia 1, o presidente meu partido.
Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva são dois homens preparados e competentes. Ambos merecem o meu profundo respeito por terem a coragem de se apresentar aos militantes neste momento de dificuldade.
Espero estar enganado, mas não tenho a certeza de que qualquer um deles represente a melhor solução para o partido no imediato.
Apesar de Rui Rio, talvez ainda não tenhamos percebido em toda a extensão como é que chegámos a este ponto de obsolescência partidária.
Hoje o PSD é tendencialmente um partido regional, com graus decrescentes de implantação nas universidades, nas empresas e na sociedade civil. Essa pequenez progressiva tem reflexo na proposta política do partido, cada vez menos mobilizadora e arrojada. Sem surpresa, os resultados eleitorais traduzem este círculo vicioso, agravando-o.
O PSD precisa de rever todos os pressupostos da sua ação política, o seu ideário, as suas causas. Tem de reformar as suas estruturas, a sua forma de se relacionar com os militantes e com o país, a sua organização interna, os seus estatutos, a sua comunicação, o seu discurso.
O PSD tem de se olhar ao espelho e perceber que o rio que nos trouxe até aqui vai desaguar na irrelevância. Mais do mesmo é extinção.
Momentos excecionais exigem medidas excecionais. E se o PSD corre sérios riscos, como é evidente que corre graças à reconfiguração do espaço político à sua direita e à governamentalização do país conduzida pelo PS, a minha intuição diz-me que um caderno de encargos como o que acima elaborei exigiria uma liderança com estatuto e espírito de missão.
Com isto não quero lamentar líderes que podiam ter sido e não foram. Já diz o povo que só faz falta quem cá está. O que quero dizer claramente é que o estado de coisas, interno e externo, pede uma liderança senatorial, mas transitória, capaz de reformar ou mesmo refundar o Partido. Este tipo de liderança, com o desprendimento conferido pela sua gravitas, seria capaz de lançar um novo ciclo de alargamento do PSD no país, recuperar a credibilidade perdida e, ao mesmo tempo, abrir espaço a uma nova geração de atores, na qual Montenegro e Moreira da Silva são protagonistas por direito e mérito próprios.
Mas a política é a arte do possível. E o possível será definido, a partir do próximo sábado, por Montenegro ou Moreira da Silva.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira