O Rali de Portugal marcou a entrada numa fase crucial do mundial e foi interessante ver o verdadeiro potencial dos carros num cenário de grande exigência. A prova deste ano foi mais demolidora do que o esperado, mas a nova geração de carros híbridos ultrapassou com êxito as dificuldades, já que a maioria dos abandonos foram motivados por despistes e furos e não falhas mecânicas. A Toyota demonstrou que está muito forte neste início de campeonato, vencendo três das quatro provas já realizadas. As classificativas muito rápidas e técnicas do rali favoreceram o Yaris Rally1 – o carro mais equilibrado do mundial – a prova disso é que o piloto mais lento da marca japonesa (Takamoto Katsuta) conseguiu andar ao nível dos pilotos de ponta da Hyundai e Ford. A marca coreana tinha esperança em bater pela primeira vez este ano a rival Toyota, mas cedo percebeu que havia uma eternidade de segundos a separá-las, já a Ford alinhou com uma equipa muito forte, nada mais do que cinco carros, mas o melhor que conseguiu foi um sétimo lugar.
AO SPRINT
Uma vez mais a prova portuguesa só ficou decidida na última classificativa, mas antes houve muito para contar. O primeiro dia foi de loucos; despistes, furos, muito calor (35 graus) e pó dificultaram imenso a tarefa dos pilotos, bastava ouvi-los no final das classificativas… Os míticos troços da zona de Arganil fizeram estragos e colocaram os dois principais favoritos fora de prova; Sebastien Loeb (Ford Puma) bateu e desistiu e Sebastien Ogier (Toyota Yaris) furou duas vezes e foi obrigado a abandonar por falta de pneus no carro! Kalle Rovanperä era o primeiro a passar e a limpar a estrada para os adversários, mas isso não impediu que andasse ao nível do colega de equipa Elfyn Evans. No final do dia percebeu-se que o rali seria uma conversa a dois, já que os pilotos da Hyundai e Ford não tinham andamento para chegar ao primeiro lugar.
Na segunda etapa, o desafio era adotar o ritmo adequado para ser rápido e manter o carro e os pneus em bom estado, exceto para Rovanperä cuja tática foi atacar desde o início, revelando extrema confiança quando as condições atmosféricas mudaram. “Foi um dia muito bom para nós. Senti-me confortável no carro e não cometi erros. A maior dificuldade foi andar à chuva forte com pneus duros, forcei para fazer a diferença e funcionou” foi assim que o finlandês ultrapassou Elfyn Evans e chegou ao primeiro lugar.
Na última etapa, Rovanperä continuou a forçar a nota, ninguém lhe pôs a vista em cima, e ganhou o terceiro rali consecutivo da época. Depois de ter sido o melhor na neve (Suécia) e no asfalto (Croácia), deu nova lição de pilotagem nas estradas de terra portuguesas e lidera o campeonato do mundo com apreciável vantagem. “É um grande momento para mim e para a equipa, que fez um grande trabalho. O carro esteve sempre impecável e fiz uma boa condução. Sabe muito muito bem ganhar em Portugal. É um rali fantástico, sempre com muita gente nas classificativas. Fiquei surpreendido por ser tão rápido na primeira etapa quando era o primeiro na estrada, o que é sempre complicado em piso de terra, e isso foi a chave para o sucesso. Tivemos uma boa dinâmica durante todo o fim de semana.” Questionado sobre a possibilidade de ser campeão do mundo, disse: “Ainda falta muito tempo, temos muitos ralis pela frente, mas a vantagem é grande e, para ser honesto, é uma surpresa.” Elfyn Evans (Toyota Yaris) ficou na segunda posição a 15,2 s. “Estou um pouco desapontado, mas o Kalle fez uma prova fantástica. Precisava de um resultado e foi bom estar de volta ao pódio, a partir de agora é para melhorar.” A dupla da Toyota deixou o diretor desportivo Jari-Matti Latvala satisfeito “parabéns aos pilotos, fizeram uma prova perfeita. O Kalle tem apenas 21 anos, cresceu rapidamente e aguentou muito bem a pressão do colega de equipa”.
Dani Sordo (Hyundai i20) garantiu o último lugar no pódio na derradeira classificativa, mas a mais de 2m17s do vencedor “estou desapontado com o resultado, a Hyundai não esteve ao nível da Toyota, temos que trabalhar para aumentar a competitividade” disse o espanhol.
DAR NAS VISTAS
Armindo Araújo (Skoda Fabia Rally2) foi o melhor português ao terminar na 14.ª posição, é a quarta vez consecutiva que o piloto consegue esta distinção. Sem hipótese de lutar com as equipas oficiais que dispõem de carros mais competitivos, brilhou na superespecial do Porto ao realizar o terceiro tempo à geral! O antigo campeão do mundo de Produção mostrou que quem sabe não esquece.