Entrámos na terceira década do século XXI há apenas dois anos. Mas neste curto espaço de tempo, lidamos com uma pandemia, com conflitos brutais do Afeganistão à Síria, com a fome a alastrar pelo Mundo, e estamos a lidar com uma guerra na Europa. Os traumas da história assaltaram-nos sem aviso.
Toda a nossa vida fomos ensinados a acreditar que o futuro é sinónimo de paz, de esperança e progresso ilimitado. Essa crença parece estar em risco.
Há 100 anos vivemos uma pandemia, seguida de uma guerra mundial, seguida de profundíssimas alterações sociais, culturais e geopolíticas.
Em pleno século XXI, estamos a ultrapassar uma pandemia, estamos no meio de uma guerra sem fim à vista e temos um cenário de imprevisibilidade sem precedentes à nossa frente.
Rezemos para que a história não se repita. Porém, não deixando tudo nas mãos da providência, façamos a nossa parte para que os traumas do passado fiquem trancados no baú de memórias onde pertencem.
Vivemos um período em que as mudanças deixaram de ser suaves, incrementais, previsíveis. São mudanças abruptas, violentas. Mais do que mudanças, são ruturas.
À pandemia e à guerra soma-se um terceiro e silencioso fator de disrupção: as alterações climáticas.
Pandemia + Guerra + Alterações Climáticas. Três crises gémeas. Uma tríade que molda o espírito geral dos assuntos do mundo. Que define o lugar das próximas gerações no nosso planeta.
A ultrapassagem deste quadro de grande exigência e dificuldade não é compatível com a resposta do business as usal.
As três crises são muito diferentes entre si. Une-as o seu gigantismo e a impossibilidade de serem confrontadas com respostas puramente individuais.
Precisamos de mais cooperação e menos isolacionismo. De mais ambição e menos comodismo. De mais sonho e menos medo.
Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) são uma excelente ferramenta que permite a qualquer um de nós, cidadãos, ou a qualquer expressão associativa da vida em sociedade – governos, empresas e instituições – dar uma resposta substantiva às três crises em que estamos mergulhados. Mais do que isso, num tempo de absoluta e estéril cisão, os ODS oferecem um programa supra-partidário e supra-ideológico. É um chão comum onde se encontram todos os homens e mulheres com boa vontade.
Dizer isto não significa que os ODS sejam uma panaceia. Pelo contrário. Cada um dos 17 objetivos cumpre um propósito específico. E cada um desses propósitos é um contribuinte líquido para a paz e para a saúde pública, para a justiça e para a sustentabilidade, para a educação e para a igualdade. Cada ODS é um instrumento de mudança positiva e duradoura numa orquestra maior de nações e povos que se reconhecem na humanidade, fragilidade e esperança comuns.
Acredito piamente que a soma de pequenas ações individuais provoca uma grande mudança global. Há quem chame a isto a “excelência do mundano” ou, dito de outro modo, como os melhores resultados são produto de uma série de pequenos passos e não de saltos quânticos.
A escala do que temos à nossa frente exige mais de nós. Exige que pensemos diferente também dentro das nossas organizações. Em Cascais vamos inaugurar uma nova forma de fazer políticas públicas na Administração. Realizamos hoje a primeira “Ação!”, o nome chapéu para um conjunto de encontros temáticos. Entre o formato “Ted Talk” e “Hackathon”, a “Ação!” é o espaço para refletir sobre os grandes desígnios estratégicos para o concelho e para a organização.
Pelo contexto, pela centralidade do tema, pelo empoderamento que desejamos dar aos servidores públicos, a primeira “Ação” é dedicada exclusivamente ao tema dos ODS.
Contando com mais de 300 inscritos, uma parceria académica de referência e observadores externos, a “Ação! ODS” no Centro de Congressos do Estoril vai tentar aprofundar as resposta a várias perguntas: Como é que Cascais pode ser um concelho ODS 360º? Como podemos ser o primeiro concelho do país, e dos primeiros na Europa, a cumprir todos os 17 objetivos das Nações Unidas? Como é que cada um de nós, na Administração Pública e na sociedade, pode ser um agente de mudança?
Dickens, cito-o de forma livre, dizia que o segredo do sucesso é deixar de dizer “eu vou” e passar a dizer “eu faço”.
Em Cascais começámos a dizer “eu faço” há cinco anos, quando abraçámos sem reservas os ODS. E hoje dizemo-lo de novo, sabendo que, mais do que nunca, “Ação!” é precisa para vencermos os desafios do século, da nossa civilização.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira