Gerir em tempos de incerteza


As famílias, as empresas e os governos estão em doloroso processo de adaptação a este novo normal de imprevisibilidade.


á décadas em que nada acontece e depois há semanas em que acontecem décadas. A frase de Lenin, esse profundo conhecedor de causas revolucionárias, assenta que nem uma luva a esta atribulada entrada da terceira década do século XXI.  No espaço de dois anos, o mundo parece ter entrado num túnel de aceleração da história. Vivemos (ou estamos a viver) uma pandemia, uma guerra na Europa, o desabar de uma nação (Afeganistão) e todos os efeitos conexos destes acontecimentos de grande magnitude – uma crise energética, uma espiral inflacionista, a disrupção das cadeias logísticas, o retrocesso da globalização, o aumento da intolerância e dos extremos políticos, o recuo das democracias e uma tragédia humanitária com refugiados à procura de paz, segurança e esperança, deslocados de África, do Médio Oriente, da Ásia Central e de todos os pontos do planeta onde a dignidade humana está sob ataque.  

Se há verdade que os primeiros tempos destes loucos anos 20 vieram confirmar é que a única coisa que podemos dar como certa na vida é a incerteza. Estamos a atravessar um ponto de rutura permanente. As placas tectónicas da nossa civilização estão em colisão e as consequências deste terramoto estão longe de ser conhecidas.  

As famílias, as empresas e os governos estão em doloroso processo de adaptação a este novo normal de imprevisibilidade. 

Sabemos como começaram estas crises. Não temos, porém, a mínima ideia de como vão acabar. Como líder de uma comunidade de 214 mil pessoas, uma das maiores do país, há algumas lições que aprendi ao longo destes últimos dois anos e que servem como referencial de estabilidade em tempos de revolução. Esses ensinamentos servem para todos os domínios da nossa vida coletiva. 

Primeira lição: as pessoas devem ser, sempre, o princípio e o fim de toda a nossa atividade. Esta é uma verdade para uma Câmara Municipal, mas também o é para um Governo (as políticas só fazem sentido se servirem as pessoas), para uma empresa (só o cliente importa e nenhuma forma de organização económica terá sucesso se não se compreender como parte de um todo maior, a comunidade em que se insere, com o qual mantém uma relação simbiótica, não predatória) ou mesmo para uma família (devemos tratar os outros como gostaríamos que nos tratassem a nós). Se o foco nas pessoas for mantido, pode o mundo cair vezes sem conta que o reconstruiremos quantas vezes forem necessárias. Porque nunca perderemos a essência do que nos torna melhores, mais solidários, mais dignos e mais livres.

Segunda lição: manter as contas certas. A sustentabilidade financeira não é, por si só, fator de diferenciação ou sucesso. Mas, inversamente, é uma das principais causas do fracasso das empresas, dos Estados e até das famílias. Em períodos de instabilidade, a parcimónia é uma virtude cardeal. Se nos desenvencilharmos do supérfluo e focarmos no essencial, ganhamos almofadas que amortecem os choques da crise. A parcimónia, a moderação, a regra são valores que ganharam má fama no tempo voraz dos instagramers e dos facebookers. São elas, porém, que nos permitirão acudir a quem mais precisa quando mais for preciso.   

Terceira lição: não parar os projetos que nos conferem vantagens competitivas. As crises são sempre boas desculpas para pôr de lado investimentos, cortar orçamentos de inovação ou adiar aquelas obras urgentes. Garantindo a sustentabilidade financeira, é importante que todos os projetos que trazem valor à nossa vida, às nossas empresas ou organizações não sejam travados pela incerteza. Quando isso acontece, quase sempre acabamos por sair da crise em pior situação do que quando nela entrámos. Por isso mesmo, em Cascais não travámos nenhuma das nossas obras estruturantes – daquelas que servem as pessoas e as suas necessidades. Em tempos de pandemia, apostámos na cultura com a requalificação do Edifício Cruzeiro no Estoril – a nova centralidade da Vila das Artes que inaugurará em Setembro, com a criação do Museu da Misericórdia de Cascais – já inaugurado a semana passada -, com o Museu do Bombeiro em Alcabideche com abertura prevista para junho, e com o Casal Saloio de Polima que pode apresentar-se aos munícipes de cara lavada lá mais para o final de 2022. Ontem mesmo, culminando anos e anos de negociações com o Estado Central, votámos em reunião de Câmara a passagem para o domínio municipal da Bataria da Parede por um período de 50 anos, permitindo agora a criação de um grande parque verde urbano (o maior da freguesia) e um núcleo museológico de artilharia de costa que honre a tradição militar portuguesa.  

Porque sabemos que o Estado Social está sob pressão, e que são os mais desprotegidos que mais sofrem na pele o desinvestimento nos serviços públicos, mantivemos a nossa política de fortíssima aposta na saúde, com a construção de dois novos Centros de Saúde – um em Carcavelos, em construção adiantada, e outro em Cascais, cuja obra será lançada ainda este ano -, ou ainda com o serviço de teleconsultas gratuitas e universais para os cascalenses. 

Com o país parado, fizeram-se intervenções em todas as escolas com melhoramentos significativos para professores, pessoal não docente e alunos. Simultaneamente, ultrapassámos todos os procedimentos legais e burocráticos para construir a nova Escola Secundária de Cascais (provisória há 50 anos), para ampliar e beneficiar a Escola Ibn Mucana, a Secundária Fernando Lopes Graça, o Liceu de São João ou erguer o novo Pavilhão Multidesportivo da Escola de Santo António na Parede.   

Priorizámos o Ambiente como política transversal a todo o território e levámos a cabo intervenções de grande monta em todas as ribeiras, para além de termos alargado a rede de espaços verdes e parques públicos. 

 O mundo é um lugar estanho por estes dias. Com firmeza nos princípios e determinação na ação, seremos capazes de ultrapassar as dificuldades que se erguem à nossa frente e emergir da crise mais competitivos e solidários.

Gerir em tempos de incerteza


As famílias, as empresas e os governos estão em doloroso processo de adaptação a este novo normal de imprevisibilidade.


á décadas em que nada acontece e depois há semanas em que acontecem décadas. A frase de Lenin, esse profundo conhecedor de causas revolucionárias, assenta que nem uma luva a esta atribulada entrada da terceira década do século XXI.  No espaço de dois anos, o mundo parece ter entrado num túnel de aceleração da história. Vivemos (ou estamos a viver) uma pandemia, uma guerra na Europa, o desabar de uma nação (Afeganistão) e todos os efeitos conexos destes acontecimentos de grande magnitude – uma crise energética, uma espiral inflacionista, a disrupção das cadeias logísticas, o retrocesso da globalização, o aumento da intolerância e dos extremos políticos, o recuo das democracias e uma tragédia humanitária com refugiados à procura de paz, segurança e esperança, deslocados de África, do Médio Oriente, da Ásia Central e de todos os pontos do planeta onde a dignidade humana está sob ataque.  

Se há verdade que os primeiros tempos destes loucos anos 20 vieram confirmar é que a única coisa que podemos dar como certa na vida é a incerteza. Estamos a atravessar um ponto de rutura permanente. As placas tectónicas da nossa civilização estão em colisão e as consequências deste terramoto estão longe de ser conhecidas.  

As famílias, as empresas e os governos estão em doloroso processo de adaptação a este novo normal de imprevisibilidade. 

Sabemos como começaram estas crises. Não temos, porém, a mínima ideia de como vão acabar. Como líder de uma comunidade de 214 mil pessoas, uma das maiores do país, há algumas lições que aprendi ao longo destes últimos dois anos e que servem como referencial de estabilidade em tempos de revolução. Esses ensinamentos servem para todos os domínios da nossa vida coletiva. 

Primeira lição: as pessoas devem ser, sempre, o princípio e o fim de toda a nossa atividade. Esta é uma verdade para uma Câmara Municipal, mas também o é para um Governo (as políticas só fazem sentido se servirem as pessoas), para uma empresa (só o cliente importa e nenhuma forma de organização económica terá sucesso se não se compreender como parte de um todo maior, a comunidade em que se insere, com o qual mantém uma relação simbiótica, não predatória) ou mesmo para uma família (devemos tratar os outros como gostaríamos que nos tratassem a nós). Se o foco nas pessoas for mantido, pode o mundo cair vezes sem conta que o reconstruiremos quantas vezes forem necessárias. Porque nunca perderemos a essência do que nos torna melhores, mais solidários, mais dignos e mais livres.

Segunda lição: manter as contas certas. A sustentabilidade financeira não é, por si só, fator de diferenciação ou sucesso. Mas, inversamente, é uma das principais causas do fracasso das empresas, dos Estados e até das famílias. Em períodos de instabilidade, a parcimónia é uma virtude cardeal. Se nos desenvencilharmos do supérfluo e focarmos no essencial, ganhamos almofadas que amortecem os choques da crise. A parcimónia, a moderação, a regra são valores que ganharam má fama no tempo voraz dos instagramers e dos facebookers. São elas, porém, que nos permitirão acudir a quem mais precisa quando mais for preciso.   

Terceira lição: não parar os projetos que nos conferem vantagens competitivas. As crises são sempre boas desculpas para pôr de lado investimentos, cortar orçamentos de inovação ou adiar aquelas obras urgentes. Garantindo a sustentabilidade financeira, é importante que todos os projetos que trazem valor à nossa vida, às nossas empresas ou organizações não sejam travados pela incerteza. Quando isso acontece, quase sempre acabamos por sair da crise em pior situação do que quando nela entrámos. Por isso mesmo, em Cascais não travámos nenhuma das nossas obras estruturantes – daquelas que servem as pessoas e as suas necessidades. Em tempos de pandemia, apostámos na cultura com a requalificação do Edifício Cruzeiro no Estoril – a nova centralidade da Vila das Artes que inaugurará em Setembro, com a criação do Museu da Misericórdia de Cascais – já inaugurado a semana passada -, com o Museu do Bombeiro em Alcabideche com abertura prevista para junho, e com o Casal Saloio de Polima que pode apresentar-se aos munícipes de cara lavada lá mais para o final de 2022. Ontem mesmo, culminando anos e anos de negociações com o Estado Central, votámos em reunião de Câmara a passagem para o domínio municipal da Bataria da Parede por um período de 50 anos, permitindo agora a criação de um grande parque verde urbano (o maior da freguesia) e um núcleo museológico de artilharia de costa que honre a tradição militar portuguesa.  

Porque sabemos que o Estado Social está sob pressão, e que são os mais desprotegidos que mais sofrem na pele o desinvestimento nos serviços públicos, mantivemos a nossa política de fortíssima aposta na saúde, com a construção de dois novos Centros de Saúde – um em Carcavelos, em construção adiantada, e outro em Cascais, cuja obra será lançada ainda este ano -, ou ainda com o serviço de teleconsultas gratuitas e universais para os cascalenses. 

Com o país parado, fizeram-se intervenções em todas as escolas com melhoramentos significativos para professores, pessoal não docente e alunos. Simultaneamente, ultrapassámos todos os procedimentos legais e burocráticos para construir a nova Escola Secundária de Cascais (provisória há 50 anos), para ampliar e beneficiar a Escola Ibn Mucana, a Secundária Fernando Lopes Graça, o Liceu de São João ou erguer o novo Pavilhão Multidesportivo da Escola de Santo António na Parede.   

Priorizámos o Ambiente como política transversal a todo o território e levámos a cabo intervenções de grande monta em todas as ribeiras, para além de termos alargado a rede de espaços verdes e parques públicos. 

 O mundo é um lugar estanho por estes dias. Com firmeza nos princípios e determinação na ação, seremos capazes de ultrapassar as dificuldades que se erguem à nossa frente e emergir da crise mais competitivos e solidários.