Ucrânia: a história que se repete


A realidade mostra áreas urbanas calcinadas pelo poder de fogo russo, não distinguindo entre hospitais e infantários, residências e gares de caminho de ferro, tal como no passado nazi.


1. Gerações que leram Os médicos do impossível e Os médicos malditos, julgariam que este milénio não conheceria novamente uma tragédia semelhante na Europa dos nossos dias, tal qual é descrita nessas memórias.

Mas a verdade é que o terrorista de Moscovo foi capaz de, tal como Hitler, entrar de mansinho internamente pelo lado do institucionalismo soviético, nas relações internacionais foi capaz de, no início, as aberturas bastantes da Europa para se tornar um dos principais fornecedores de gás, para depois começar, já então como Presidente da Rússia, a desenhar e por de pé, o plano.

E ele é percetível pelos eventos sistemáticos próprios de um regime despótico, ao eliminar a oposição e os opositores, ao reduzir a nada a liberdade de informação e ao colocar a sua palavra acima de todas as leis. 

Na Alemanha nazi, houve um momento em que o ditador passou a fazer exigências territoriais cada vez mais agressivas e ameaçou entrar em guerra caso não fosse atendido; e logo a Áustria e a Checoslováquia foram tomadas em 1938 e 1939. Pouco depois, Hitler fez um pacto com Josef Stálin e invadiu a Polónia em setembro de 1939, o que deu início à Segunda Guerra Mundial na Europa. Em aliança com a Itália fascista e outras Potências do Eixo, conquistou a maior parte da Europa em 1940 e logo depois ameaçou o Reino Unido.

Agora, em paralelo, depois da Crimeia, Donestsk e Luhansk, mandou as tropas saquear a Ucrânia, para de seguida instalar uma máquina de assassínio corrente de homens, mulheres e crianças e produzir, desde há três semanas, imagens de destruição que variam entre a resultante ficcionada do napalm de Francis Copolla no Apocalipse Now e a realidade do aprisionamento em subterrâneos do metro, tal como Hitler meteu seres humanos em caixotes e câmaras de gás nos campos de Auschwitz, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor ou Treblinka.

Nesta guerra, não há câmaras de gás – embora circulem crematórios volantes – mas a realidade mostra áreas urbanas calcinadas pelo poder de fogo russo, não distinguindo entre hospitais e infantários, residências e gares de caminho de ferro, tal como no passado nazi.

A Europa e o mundo ocidental têm corrido para as manifestações de apoio à Ucrânia que, tal como defende o seu Presidente, são manifestações insuficientes para a dimensão da tragédia nas cidades em fogo. 

E enquanto o mundo assiste à fuga à morte de milhões de ucranianos, a interrogação é sobre quem será a próxima vítima do expansionismo russo (República Checa, Hungria, Polónia, Estónia, Letónia, Lituânia?) que, na fraqueza da União Europeia no plano da defesa, tem na NATO a derradeira frente de segurança para enfrentar a previsível tentativa russa.

2. Em Portugal, o acolhimento de ucranianos em fuga da barbárie, parece ao mesmo tempo ter nas imagens de horror, a indiferença de comentadores militares que exibem uma certa comichão mediática, sempre que estão em causa evidências que conduzem à condenação da Rússia. 

Em noites de presença mediática, na abordagem informativa em que se anuncia a “análise racional” do conflito, chega a ser chocante o tratamento equívoco entre quem invadiu e quem foi invadido.

Esta postura perante o invasor – que tende a ser esquecido nessa qualidade – não hesita, todavia, em trazer a invocação geoestratégica da envolvência fronteiriça, assumindo muitos quase sem contraditório, que à Rússia estaria justificada a cobertura de influência das contiguidades territoriais, numa espécie de reconhecimento de direito divino territorial, porque ali há russos, ali se fala russo, e a Rússia quer regressar ao império da ex-URSS, fazendo claudicar a independência das repúblicas vizinhas.

E os silenciosos quanto ao clamor necessário pela inaceitável conduta russa, são os primeiros que costumam vir na linha da frente contra o que julgam estar em causa quando se abordam direitos, liberdades e garantias.

Haja eventos no extremo do mundo onde se julga que foi violado um átomo de qualquer coisa e lá haverá uma moção ou uma declaração do Bloco ou do PCP.

Aqui ao lado, tudo se traduz sem alma nem grandeza.

Para estas pessoas, quando foi o caso e bem, do direito à autodeterminação e independência em Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau, nada pode ser discutido e muito menos objeto de interferências, fosse de que natureza for.

Por Timor, Portugal bateu-se galhardamente até ao reconhecimento dessa independência, recusando o poder da Indonésia.

Finalmente, na receção que a todos interpela quanto aos efeitos desta guerra, o primeiro impacto de uma loucura inesperada saída de Moscovo, provocou algo positivo: nenhum país europeu, daqui para a frente, deixará de reter que vive aqui ao lado uma realidade originária, Moscovo, sobre a qual, pouco haverá de diplomacia a invocar e muito da organização pela força, se for necessário um olhar impositivo de superioridade moral quanto ao respeito pela pessoa humana, dos países democráticos.

Ucrânia: a história que se repete


A realidade mostra áreas urbanas calcinadas pelo poder de fogo russo, não distinguindo entre hospitais e infantários, residências e gares de caminho de ferro, tal como no passado nazi.


1. Gerações que leram Os médicos do impossível e Os médicos malditos, julgariam que este milénio não conheceria novamente uma tragédia semelhante na Europa dos nossos dias, tal qual é descrita nessas memórias.

Mas a verdade é que o terrorista de Moscovo foi capaz de, tal como Hitler, entrar de mansinho internamente pelo lado do institucionalismo soviético, nas relações internacionais foi capaz de, no início, as aberturas bastantes da Europa para se tornar um dos principais fornecedores de gás, para depois começar, já então como Presidente da Rússia, a desenhar e por de pé, o plano.

E ele é percetível pelos eventos sistemáticos próprios de um regime despótico, ao eliminar a oposição e os opositores, ao reduzir a nada a liberdade de informação e ao colocar a sua palavra acima de todas as leis. 

Na Alemanha nazi, houve um momento em que o ditador passou a fazer exigências territoriais cada vez mais agressivas e ameaçou entrar em guerra caso não fosse atendido; e logo a Áustria e a Checoslováquia foram tomadas em 1938 e 1939. Pouco depois, Hitler fez um pacto com Josef Stálin e invadiu a Polónia em setembro de 1939, o que deu início à Segunda Guerra Mundial na Europa. Em aliança com a Itália fascista e outras Potências do Eixo, conquistou a maior parte da Europa em 1940 e logo depois ameaçou o Reino Unido.

Agora, em paralelo, depois da Crimeia, Donestsk e Luhansk, mandou as tropas saquear a Ucrânia, para de seguida instalar uma máquina de assassínio corrente de homens, mulheres e crianças e produzir, desde há três semanas, imagens de destruição que variam entre a resultante ficcionada do napalm de Francis Copolla no Apocalipse Now e a realidade do aprisionamento em subterrâneos do metro, tal como Hitler meteu seres humanos em caixotes e câmaras de gás nos campos de Auschwitz, Belzec, Chelmno, Majdanek, Sobibor ou Treblinka.

Nesta guerra, não há câmaras de gás – embora circulem crematórios volantes – mas a realidade mostra áreas urbanas calcinadas pelo poder de fogo russo, não distinguindo entre hospitais e infantários, residências e gares de caminho de ferro, tal como no passado nazi.

A Europa e o mundo ocidental têm corrido para as manifestações de apoio à Ucrânia que, tal como defende o seu Presidente, são manifestações insuficientes para a dimensão da tragédia nas cidades em fogo. 

E enquanto o mundo assiste à fuga à morte de milhões de ucranianos, a interrogação é sobre quem será a próxima vítima do expansionismo russo (República Checa, Hungria, Polónia, Estónia, Letónia, Lituânia?) que, na fraqueza da União Europeia no plano da defesa, tem na NATO a derradeira frente de segurança para enfrentar a previsível tentativa russa.

2. Em Portugal, o acolhimento de ucranianos em fuga da barbárie, parece ao mesmo tempo ter nas imagens de horror, a indiferença de comentadores militares que exibem uma certa comichão mediática, sempre que estão em causa evidências que conduzem à condenação da Rússia. 

Em noites de presença mediática, na abordagem informativa em que se anuncia a “análise racional” do conflito, chega a ser chocante o tratamento equívoco entre quem invadiu e quem foi invadido.

Esta postura perante o invasor – que tende a ser esquecido nessa qualidade – não hesita, todavia, em trazer a invocação geoestratégica da envolvência fronteiriça, assumindo muitos quase sem contraditório, que à Rússia estaria justificada a cobertura de influência das contiguidades territoriais, numa espécie de reconhecimento de direito divino territorial, porque ali há russos, ali se fala russo, e a Rússia quer regressar ao império da ex-URSS, fazendo claudicar a independência das repúblicas vizinhas.

E os silenciosos quanto ao clamor necessário pela inaceitável conduta russa, são os primeiros que costumam vir na linha da frente contra o que julgam estar em causa quando se abordam direitos, liberdades e garantias.

Haja eventos no extremo do mundo onde se julga que foi violado um átomo de qualquer coisa e lá haverá uma moção ou uma declaração do Bloco ou do PCP.

Aqui ao lado, tudo se traduz sem alma nem grandeza.

Para estas pessoas, quando foi o caso e bem, do direito à autodeterminação e independência em Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau, nada pode ser discutido e muito menos objeto de interferências, fosse de que natureza for.

Por Timor, Portugal bateu-se galhardamente até ao reconhecimento dessa independência, recusando o poder da Indonésia.

Finalmente, na receção que a todos interpela quanto aos efeitos desta guerra, o primeiro impacto de uma loucura inesperada saída de Moscovo, provocou algo positivo: nenhum país europeu, daqui para a frente, deixará de reter que vive aqui ao lado uma realidade originária, Moscovo, sobre a qual, pouco haverá de diplomacia a invocar e muito da organização pela força, se for necessário um olhar impositivo de superioridade moral quanto ao respeito pela pessoa humana, dos países democráticos.