Carro usado. Oferta pequena, preços disparam: saiba se compensa

Carro usado. Oferta pequena, preços disparam: saiba se compensa


Desembolsar menos no ato da compra, nem que seja por pagar menos impostos, é a razão principal para optar por um carro em segunda mão. A par disso há que contar com a desvalorização média anual de um carro: 15% a 25% por ano. Mas em plena crise de semicondutores prepara-se para menor oferta, logo preços mais caros.


Evitar uma rápida desvalorização do carro e, acima de tudo, pagar menos no momento da compra são os principais motivos que levam os portugueses a optar por comprar veículos usados. Mas a crise dos semicondutores nos veículos novos também veio afetar este mercado e os resultados estão à vista: menos oferta e preços mais caros.

Longe vão os tempos em que esta decisão representava uma verdadeira poupança. E os dados não são animadores. O preço médio dos carros usados, através de vendedores profissionais, aumentou mais de 20% nos últimos dois anos, passando de 17.500 euros para fixar-se agora nos 20 mil, de acordo com um estudo realizado pelo Standvirtual, portal de venda carros em Portugal, que analisou a evolução do preço dos veículos desde o início da pandemia. Já no caso dos vendedores particulares, verificou-se um aumento de 19%, passando dos 16 mil para 19 mil euros, na mesma altura

Mas se por um lado a compra de um carro novo pode significar despreocupação – liberta os consumidores de inquietações como o historial de um carro, por exemplo –, por outro penaliza mais o orçamento familiar. Um automóvel novo não é acessível a todas as carteiras e a ideia da desvalorização constante pode também assustar alguns consumidores. Em média, uma viatura nova perde entre 15% e 25% do seu valor por ano.

É certo que a aquisição de um automóvel com um, dois ou até mesmo três anos implica sempre ter um cuidado redobrado para evitar desagradáveis surpresas, principalmente se o negócio for realizado entre particulares ou pela internet. Há situações em que é difícil de detetar alguns problemas: acidentes, avarias frequentes, quilometragem adulterada e outras fraudes.

Outra questão que se impõe é a quem comprar: a um particular ou a um stand? Em qualquer destes cenários há vantagens e desvantagens. O primeiro consegue vender mais barato e tem também maior margem de manobra para negociar e baixar o preço. O segundo pode apresentar valores mais elevados, mas está próximo das grandes marcas e, como tal, oferece, em princípio, outras garantias. 

De olho na garantia Qualquer que seja o automóvel que pretende comprar, tenha sempre especial atenção à garantia oferecida. Tal como os novos, também os usados têm direito a dois anos de proteção. No entanto, há muitos estabelecimentos que dão apenas garantia por um ano ou fazem desconto no preço se o cliente prescindir de qualquer garantia, o que é ilegal. Contudo, a lei admite a redução da garantia até um ano, caso exista um acordo entre vendedor e comprador, mas nunca para um prazo inferior.

Caso o negócio seja realizado entre particulares não existe garantia, o que torna o investimento mais arriscado. Mas mesmo assim continua a existir alguma proteção. Durante os seis meses seguintes à entrega do automóvel, o comprador pode provar que este não tem as características anunciadas para exigir uma reparação ou anular o contrato.

Além de reduzirem o prazo, vários stands ainda excluem da garantia peças ou componentes. É o caso do leitor de CD, do ar condicionado, da embraiagem, da correia de distribuição ou da bateria. Outros limitam-na a uma determinada quilometragem ou a um valor máximo por reparação. Qualquer uma destas alterações é ilegal.

Mas nem tudo são facilidades. É frequente os consumidores serem confrontados com a proposta de assinar um contrato que prolongue a garantia, mediante um valor de pagamento. Fique a saber que, na maioria dos casos, esta situação não apresenta qualquer vantagem para o cliente. A maioria destes contratos são assegurados por empresas externas ao stand e apresentam tantas restrições que poucos ou nenhuns benefícios oferecem. E a menos que estas garantias contratuais sejam mais abrangentes do que a garantia legal, esta solução não é compensadora. Como tal, o consumidor pode recusá-las, sem perder o que a lei prevê.

Se detetar um defeito dentro do período de garantia, o consumidor dispõe de dois meses para apresentar a fatura e acionar a garantia. A partir daí, terá dois anos para avançar com uma ação em tribunal ou num julgado de paz, caso o assunto não seja resolvido pelo vendedor. Geralmente pode optar pela reparação, pela substituição por outro veículo com as mesmas características – também poderá ser diferente, mas para isso é necessário existir um ajustamento do preço – ou mesmo pela anulação do contrato, se assim o desejar. 

A lei não impõe qualquer decisão. A palavra final caberá sempre ao consumidor. Não esqueça que, se optar por mudar de carro, este passa a gozar de uma nova garantia com a duração de dois anos, a contar da data em que lhe é entregue. 

Importados como alternativa Outra hipótese passa por adquirir um carro importado e a falta de unidades novas, por causa da crise dos semicondutores tem levado os portugueses a recorrer a esta solução.

Só no ano passado, foram importados 72.435 automóveis usados ligeiros de passageiros, terceiro maior número de sempre, de acordo com os da Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Mas não se esqueça que se comprar um automóvel noutro país, quando este chega a Portugal considera-se que efetuou uma importação.

Para que o veículo possa circular nas estradas do território nacional, é necessário que o legalize. O ideal é fazer muito bem as contas e ver se realmente o negócio compensa. Por vezes, além do valor que é apresentado tem de acrescentar alguns custos, como a logística com serviços e documentação: por exemplo, seguro internacional, matrículas de trânsito, inspeções, etc.

Fatores a ter em conta num usado

Exterior
•  Procure vestígios de ferrugem na carroçaria, amolgadelas, mossas ou deformações
•  Verifique a abertura das portas e do capô 
•  Tenha em conta o estado dos pneus, as luzes e a pintura (uniforme e sem bolhas)

Interior
•  Veja se há danos nos estofos e se os cintos funcionam bem
•  Ligue o motor para ver se há indicação de avarias ou revisões no painel
•  Verifique o nível de óleo, a validade da bateria e o depósito de refrigeração
•  Peça para circular com o carro e verifique se os travões funcionam, se a direção está alinhada, se a transmissão e a caixa de velocidades não fazem ruídos nem emperram 

Dicas 

1. Uma das formas de saber se o preço que está a ser pedido pelo carro usado é justo e está adequado aos valores do mercado é fazer uma pequena simulação junto das seguradoras. Para isso, precisa de fazer uma simulação online para um seguro de danos próprios, pois fica logo a saber o valor real do automóvel. O serviço é gratuito, mas precisa de saber a marca, o ano, o modelo, a versão e a quilometragem do carro.

2. Deve também comparar preços em vários locais. Existem sites na internet específicos para esta área. Neste caso, basta comparar os valores que são pedidos tendo em conta a quilometragem e outras características do veículo. Para isso, é preciso que esteja disponível a marca e o modelo do carro que lhe interessa.

3. Pode também recorrer a revistas de especialidade. Estas geralmente apresentam tabelas com preços indicativos para a generalidade dos carros que são comercializados em Portugal, pressupondo uma utilização predefinida (quilómetros por ano). Em alguns casos, a desvalorização é atribuída de acordo com modelos próprios de cada revista.

4. Outra solução para saber exatamente qual é o preço do automóvel passa por recorrer a serviços de cotação. Ou seja, a avaliação é feita por empresas especializadas e tem por base a marca, o modelo específico, a versão e a quilometragem. O pedido pode ser feito online ou por telefone e é sujeito a um valor de pagamento. Os preços variam consoante a empresa prestadora de serviços.

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