Registados mais de 28 mil sismos desde 19 de março em São Jorge

Registados mais de 28 mil sismos desde 19 de março em São Jorge


Destes, 240 foram sentidos pela população da ilha que se mantém em nível de alerta V4 (ameaça de erupção) de um total de sete.


O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) registou, desde 19 de março, quando se iniciou a crise sismovulcânica em São Jorge, 28152 sismos, dos quais 240 sentidos pela população da ilha que se mantém em nível de alerta V4 (ameaça de erupção) de um total de sete, em que V0 significa “estado de repouso” e V6 “erupção em curso”.

A informação foi veiculada ontem pela coordenadora das operações do CIVISA na ilha de São Jorge, Fátima Viveiros, no ‘briefing’ diário de atualização da crise sismovulcância naquela ilha açoriana. Segundo a dirigente, o gabinete de crise do CIVISA, no qual estão integrados 10 investigadores de várias áreas de monitorização e com várias especialidades, reúne-se diariamente, tendo decidido, no sábado, manter o nível de alerta V4, questão que o Nascer do SOL adiantou igualmente nesse dia.

“O nível de alerta V4 é decidido pelo gabinete de crise e, portanto, é a analise integrada não só da sismicidade, mas de todos os parâmetros e daquilo que se pensa ser a compreensão do sistema que nos faz manter ou atribuir o nível V4 neste momento. Hoje à noite vamos voltar a reunir[-nos]”, afirmou, revelando que a “diminuição significativa” de sismos “pode também estar a ser mascarada”, pelo menos, no que diz respeito a um número de eventos que “não esteja a ser visualizado”, devido às condições meteorológicas, principalmente, a chuva e o vento.

Na sexta-feira, o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) prolongou até hoje os avisos amarelos e laranja decretados para os Açores, devido à precipitação, agitação marítima e vento em todo o arquipélago. Relativamente ao aviso laranja para as ilhas do grupo Central (Faial, Terceira, São Jorge, Pico e Graciosa), diz respeito ao vento e abrange o período entre as 18h desta sexta-feira e as 03h de sábado, assim como aviso amarelo entre esta hora e as 6h de sábado. Esteve em vigor outro aviso amarelo para a agitação marítima entre as 00h00 de domingo e as 00h00 de segunda-feira. “Podem ocorrer abalos de uma magnitude muito baixa que acabam por não ser detetados pelos operadores. Quando as condições meteorológicas assim o permitem, mesmo os sismos de uma magnitude muito inferior conseguem ser detetados pelos nossos operadores”, acrescentou, explicando que com a melhoria das mesmas é esperado que “o sinal seja mais limpo” para “detetar todos os eventos” e ter “o cálculo mais real possível”.

“Sistema em silêncio” “Para compreender o melhor possível este sistema, que durante 30 anos esteve no silêncio, mesmo que agora a certa altura o nível de alerta diminua, vamos continuar a monitorizar e a acompanhar todas as variações que vão acontecer nos próximos meses. Tudo se vai manter”, garantiu, indo ao encontro das perspetivas partilhadas por jorgenses ao Nascer do SOL.

“Saí da ilha, mas o coração e a mente estão constantemente lá. A hora de voltar está a aproximar-se e a ansiedade que já cá está só aumenta. No entanto, a vida tem de continuar e não podemos viver em suspenso”, disse Cláudia Patrícia Parreira, de 33 anos, que se encontra em São Miguel com a filha de apenas um ano e o companheiro. “Passei pelo sismo de 1998 que foi no Faial, mas sentiu-se bem em S. Jorge. Era muito nova e mal me apercebi do que se passava, agora é diferente porque tenho 33 anos sou mãe, sente-se tudo de outra forma”.

A seu lado, a mãe de Cláudia, Dolores Faustino,  de 66 anos, narrou também aquilo que tem sentido nas últimas três semanas. “Fui testemunha do sismo de 1980 em que sentimos na pele o pânico, mas na altura não havia os meios de informação que existem hoje em dia e talvez por isso não se instalou o pânico como o vemos e presenciamos atualmente”, rematou a idosa, referindo-se ao sismo que ocorreu às 15h42 (hora local) do dia 1 de janeiro de 1980, no qual entre seis a sete dezenas de pessoas perderam a vida e mais de 400 ficaram feridas. 

Verificaram-se consequências desastrosas na Ilha Terceira e afetando Graciosa e São Jorge, na medida em que o mesmo teve uma magnitude de 7,2 na escala de Richter e também se fez sentir nas ilhas do Pico e do Faial.