A ameaça dos coletes amarelos


Nenhum dos últimos três presidentes anteriores conseguiu a proeza de ser reeleito, o que demonstra, claramente, o descontentamento geral dos cidadãos desde 2007.


As projeções anunciadas nos vários canais televisivos, em direto, não são surpresa para quase ninguém. Os primeiros resultados apresentados parecem fotocópia das últimas eleições de 2017, com algumas exceções que podem fazer a diferença. Há cinco anos havia apenas uma extrema-direita. Neste momento, o panorama mudou e os votos dos simpatizantes do Reconquête! podem influenciar a segunda volta. Às 19h30 (hora portuguesa), Macron sai-se airoso com 28,4%, seguido de perto por Marine Le Pen com 23,6%. O terceiro lugar do pódio é ocupado pelo líder da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon com 21,1%. Os três candidatos obtiveram mais votos do que em 2017, o que deixa escassas migalhas para os restantes nove. 

A grande vencedora talvez seja, para já, a abstenção que, em algumas regiões ultrapassou os 50%, como o caso da Córsega. A abstenção nacional (26,5%) é superior à de 2017, mas abaixo dos históricos 28,4% de 2002. Por outro lado, o grande derrotado foi o PS representado por Anne Hidalgo que conseguiu uns magros 2%. 

O país está dividido e é curioso pensar que a extrema-direita e a extrema-esquerda nunca estiveram tão próximas, no que diz respeito ao número de votos obtidos. 

O país pede uma mudança radical, venha ela de onde vier. Este desespero não é bom conselheiro. Os eleitores mais céticos nem sequer se deram ao trabalho de se deslocarem às urnas, visto que o voto em branco não tem qualquer peso no resultado. Esta tendência vai provavelmente mudar na segunda volta onde os franceses terão de dar, tudo por tudo, pelo candidato menos nocivo para o panorama do país.

Quase todos os candidatos aconselham a votar Macron, com a exceção de Eric Zemmour, do partido Reconquête!, do qual faz parte a sobrinha da própria Marine Le Pen. Também na política, a família fala mais alto e as antigas zangas entre as duas mulheres do clã Le Pen serão, momentaneamente, esquecidas. 

Nenhum dos últimos três presidentes anteriores conseguiu a proeza de ser reeleito, o que demonstra, claramente, o descontentamento geral dos cidadãos desde 2007. Esta tendência talvez seja invertida se Macron vencer no próximo dia 24 de abril. Mas este cenário deixará uma sensação agridoce a muitos cidadãos que votarão contrariados no atual presidente. 

À margem dos apelos ao voto útil, que tentará impedir a todo o custo a vitória de Marine Le Pen, o movimento dos gilets jaunes (os coletes amarelos) já ameaçou perturbar o país entre as duas voltas. E os que vivemos em França sabemos que as suas ações não passam despercebidas. A revolta popular vai estar, uma vez mais, ao rubro. Afinal, não têm nada a perder! O mesmo não se pode dizer do país.

Em Saint-Malo, França

A ameaça dos coletes amarelos


Nenhum dos últimos três presidentes anteriores conseguiu a proeza de ser reeleito, o que demonstra, claramente, o descontentamento geral dos cidadãos desde 2007.


As projeções anunciadas nos vários canais televisivos, em direto, não são surpresa para quase ninguém. Os primeiros resultados apresentados parecem fotocópia das últimas eleições de 2017, com algumas exceções que podem fazer a diferença. Há cinco anos havia apenas uma extrema-direita. Neste momento, o panorama mudou e os votos dos simpatizantes do Reconquête! podem influenciar a segunda volta. Às 19h30 (hora portuguesa), Macron sai-se airoso com 28,4%, seguido de perto por Marine Le Pen com 23,6%. O terceiro lugar do pódio é ocupado pelo líder da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon com 21,1%. Os três candidatos obtiveram mais votos do que em 2017, o que deixa escassas migalhas para os restantes nove. 

A grande vencedora talvez seja, para já, a abstenção que, em algumas regiões ultrapassou os 50%, como o caso da Córsega. A abstenção nacional (26,5%) é superior à de 2017, mas abaixo dos históricos 28,4% de 2002. Por outro lado, o grande derrotado foi o PS representado por Anne Hidalgo que conseguiu uns magros 2%. 

O país está dividido e é curioso pensar que a extrema-direita e a extrema-esquerda nunca estiveram tão próximas, no que diz respeito ao número de votos obtidos. 

O país pede uma mudança radical, venha ela de onde vier. Este desespero não é bom conselheiro. Os eleitores mais céticos nem sequer se deram ao trabalho de se deslocarem às urnas, visto que o voto em branco não tem qualquer peso no resultado. Esta tendência vai provavelmente mudar na segunda volta onde os franceses terão de dar, tudo por tudo, pelo candidato menos nocivo para o panorama do país.

Quase todos os candidatos aconselham a votar Macron, com a exceção de Eric Zemmour, do partido Reconquête!, do qual faz parte a sobrinha da própria Marine Le Pen. Também na política, a família fala mais alto e as antigas zangas entre as duas mulheres do clã Le Pen serão, momentaneamente, esquecidas. 

Nenhum dos últimos três presidentes anteriores conseguiu a proeza de ser reeleito, o que demonstra, claramente, o descontentamento geral dos cidadãos desde 2007. Esta tendência talvez seja invertida se Macron vencer no próximo dia 24 de abril. Mas este cenário deixará uma sensação agridoce a muitos cidadãos que votarão contrariados no atual presidente. 

À margem dos apelos ao voto útil, que tentará impedir a todo o custo a vitória de Marine Le Pen, o movimento dos gilets jaunes (os coletes amarelos) já ameaçou perturbar o país entre as duas voltas. E os que vivemos em França sabemos que as suas ações não passam despercebidas. A revolta popular vai estar, uma vez mais, ao rubro. Afinal, não têm nada a perder! O mesmo não se pode dizer do país.

Em Saint-Malo, França