Chelsea-Real Madrid. Desde 1955 com uma enorme espinha enfiada na garganta

Chelsea-Real Madrid. Desde 1955 com uma enorme espinha enfiada na garganta


Deveria o Chelsea ter participado na primeira edição da Taça dos Campeões. Foi desaconselhado pela Football Association.


Em 1955, quando a primeira Taça dos Campeões Europeus se disputou, os 16 clubes que nela participaram foram chamados por convite. Era o tempo em que o jornal L’Équipe tivera a ideia de avançar com uma competição verdadeiramente continental à qual os ingleses, com o seu habitual complexo de superioridade, torceram o nariz. E assim, o Chelsea, campeão de Inglaterra no ano anterior, foi aconselhado pela Football Association a não se misturar com os plebeus do continente. Obedeceu. E esteve de esperar 44 anos para poder, finalmente, jogar na Taça/Liga dos Campeões.

Hoje, em Stanford Bridge, é como se voltasse a reconciliar-se com a história ao receber o rei dos campeões, o Real Madrid, clube frente ao qual obteve a primeira glória internacional da sua existência.

Até à época de 1970-71, o Chelsea só tinha participado por três vezes na Taça das Feiras, tendo atingido a meia-final em 1965-66, perdendo com o Barcelona. Na Taça das Taças desse ano foi por ali fora, batendo adversários atrás de adversários: Aris (5-1 e 1-1); CSKA de Sófia (1-0 e 1-0); Brugge (0-2 e 4-0, após prolongamento); Manchester City, o anterior vencedor (1-0 e 1-0). Para a final, marcada para o Estádio de Karaiskakis, no Pireu, o porto de Atenas, coube-lhe o Real Madrid, que já tinha ganho nada mais nada menos de seis Taças dos Campeões.

Treinado por Dave Sexton, que tomara conta da equipa em 1967, não se podia dizer que o Chelsea fosse favorito. A sua experiência internacional era reduzida – manteve-se reduzida já que de 1972 a 1994 nunca mais jogou na Europa – ao contrário do que acontecia com o Real Madrid, apesar de este ter perdido todas as suas grandes estrelas, excetuando Paco Gento. Chegara um novo tempo ao Santiago Bernabéu, com Amancio, Pirri, Zoco e manuel Velázquéz, por exemplo. 
O conjunto inglês beneficiava, na altura, de um profundo trabalho levado a cabo pelo antecessor de Sexton, Tommy Docherty (que chegou a ser treinador do FCPorto), e que permitira a construção de um conjunto praticamente feito com jogadores da casa como eram os casos de Peter Bonetti, o guarda-redes, o central e capitão Ron Harris, a grande figura Peter Osgood e o inquieto ponta-esquerda Peter Houseman. Partiam para Atenas com um sonho por cumprir. Ou como se estivessem dispostos a vingar a injustiça de 1955.

Dois jogos. Um jogo não foi suficiente para decidir o vencedor dessa Taça dos Vencedores de Taças, no tempo em que a ideia de resolver um desafio através de grandes penalidades não era, de todo, cativante. O entusiasmo em redor do Karaiskakis foi absolutamente intenso. Não apenas por causa dos milhares de adeptos idos de Londres e de Madrid mas também porque os gregos quiseram viver com alegria a final que lhes fora atribuída. Mais de 45 mil pessoas encheram as bancadas do estádio e o Chelsea chegou a ter a vitória na mão depois de Osgood ter ganho vantagem ao minutos 56. Cometeram os britânicos o erro de quererem defender a todo o custo e foram castigados com um golo de Ignacio Zoco no último minuto. Corria do dia 19 de Maio de 1971. A finalíssima ficou marcada para dois dias depois. Não seria a mesma coisa: muitos adeptos regressaram a casa, os atenienses terão sentido que havia mais do que fazer do que assistir a jogos entre Chelsea e Real de dois em dois dias, apenas cerca de 20 mil almas se apresentaram no confronto de desempate.

A primeira parte do Chelsea foi arrasadora para os madrilenos. O irlandês John Dempsey (33 minutos) e de novo o inevitável Peter Osgood (39) garantiram uma vantagem de 2-0 que parecia suficiente perante o desacerto dos rapazes treinados por Miguel Muñoz. Apesar de tudo, ainda havia uma réstia de orgulho nos velhos campeões da Europa e, a partir dos 60 minutos, o seu ataque foi mais contínuo e mais porfiado. O prémio veio com o golo apontado pelo paraguaio Sebastián Fleitas, ao minuto 75. Não chegou. Desta vez o Chelsea fechou-se como uma concha e garantiu o primeiro troféu europeu da sua história. 

Curiosamente, são poucos os confrontos entre Chelsea e Real daí até hoje. Um na Supertaça Europeia de 1998, com nova vitória inglesa – 1-0; outros dois nas meias-finais da Liga dos Campeões de 2020-21, com vitória em Stanford Bridge por 2-1 e empate no Santiago Bernabéu – 1-1. Até hoje, o Chelsea continua a fazer contas com a história pela frustração de 1955.