França. Independentismo da Córsega vira dor de cabeça para Macron

França. Independentismo da Córsega vira dor de cabeça para Macron


A menos de um mês das presidenciais, a morte de Yvan Colonna, ícone independentista atacado numa prisão, causou protestos e motins na ilha.


Teme-se que os protestos e motins na Córsega escalem, com o falecimento de Yvan Colonna, de 61 anos, um ícone do independentismo dos corsos, que esteve hospitalizado em coma até segunda-feira à noite, após ser brutalmente agredido por outro recluso numa prisão francesa.

Desde o ataque a Colonna, há três semanas, que esta ilha mediterranea – onde cerca de metade da população exige maior autonomia, segundo uma sondagem do Ifop, para o Corse-Matin – é palco de confrontos entre manifestantes e a polícia nas cidades de Ajaccio, Calvi e Bastia. O Executivo de Emmanuel Macron pede calma, sugerindo estar aberto a discutir alguma autonomia para ilha, a menos de um mês das presidenciais. 

Se os independentistas da Córsega abdicaram da luta armada desde 2014, dedicando-se a mobilizações pacíficas e virando a principal força política da região, Colonna – condenado a prisão perpétua pelo assassinato a tiro do perfeito Claude Erignac, o mais alto dirigente da ilha, em 1998, tornando-se o fugitivo mais procurado de França durante cinco anos, até ser descoberto a viver como pastor nas montanhas – representava a velha guarda, que pode reaparecer em cena.

“Se o Estado francês continuar surdo”, ameaçou a Frente de Libertação Nacional da Córsega (FLNC), que entre os anos 70 e o cessar-fogo reivindicou cerca de 4 500 ataques, assassinatos e atentados bombistas, citada pela AFP. “Então as lutas de rua de hoje rapidamente irão alastrar para os montes à noite”.

 

“Assassinu” Colonna foi assassinado por Franck Elong Abé, de 36 anos, um jiadista condenado, que ficou furioso por o independentista fazer “comentários blasfemos” quanto ao profeta Maomé, anunciaram as autoridades francesas. Abé atacou Colonna no ginásio da prisão de Arles, estrangulando-o com um saco de desporto.

Já ativistas da Córsega apontam responsabilidade ao Estado francês, frisando que há décadas que são recusados pedidos de transferência de Colonna e dos seus cúmplices de França continental para Borgos, única prisão da ilha, para estarem mais próximos das suas famílias.

“Isto não teria acontecido em Borgo, porque ele não teria estado em contacto com este tipo de indivíduos”, apontou o advogado de Colonna, Patrice Spinosi, em conferência de imprensa. Daí que manifestantes marchem com cartazes onde se lê: statu francese assassinu. Ou “Estado francês assassino”. 

 

Presidenciais A morte de Colonna foi um golpe para Macron, que ficou entre a espada e a parede. A agitação na Córsega – conhecida por île de beauté, ou “ilha da beleza”, o berço de Napoleão e um dos destinos turísticos favoritos dos franceses – põe em risco a sua campanha, mas as concessões que prometeu para acalmar a situação também. 

A posição de Macron – declarando que a autonomia da Córsega não deveria ser “tabu”, mas que esse “debate não pode acontecer até haver uma calma absoluta” – valeu-lhe duras criticas dos seus adversários eleitorais.

Na extrema-direita, Marine Le Pen, que tem 18% das intenções de voto contra os 29% de Macron, segundo o Politico, acusou-o de “clientelismo cínico”, declarando que a “Córsega tem de continuar francesa”. Já Valérie Pécresse, candidata de Os Republicanos, com 11% nas sondagens, acusou-o de “ceder à violência”.