O mundo precisa de pais


Os desequilíbrios que se fazem sentir na sociedade, obviamente que são transferidos para o seio mais íntimo da família, condicionando o papel dos progenitores.


Celebrou-se o Dia do Pai, uma homenagem a todos os homens que conhecem as maravilhas da paternidade, seja por criação, seja por conceção. Em Portugal, este dia comemora-se no dia de São José, esposo de Maria e pai de Jesus Cristo, exemplo máximo de proteção e de cuidado, e considerado um modelo de pai.

Apesar de não ser pai biológico de Jesus, José ensinou-nos que nenhum homem nasce a saber como é ser pai, nem mesmo com a aprendizagem que possa derivar da relação entre pai e filho. A expressão “Filho és, pai serás!” encerra em si muito do conhecimento que se adquire através da experiência e da vivência entre pais e filhos, não sendo, todavia, o suficiente para afastar parte das inseguranças que surgem no momento em que a paternidade chega. (O mesmo se passa com as mães, mas hoje, o texto é só sobre os pais.) Assim como José não nasceu pai, mas acabou por se tornar num pai zeloso e de referência para os pais dos dias de hoje, também nenhum dos pais que celebraram o seu dia sabiam o que era ser pai antes de efetivamente o serem.

Aprender a ser pai não é tarefa fácil; bem pelo contrário, é um trabalho árduo que não termina nunca, nem mesmo quando um pai sente que a sua missão de educador findou e está preparado para aceitar a sua “inutilidade” no caminho que o seu filho trilhou. A palavra “inútil” pode chocar alguns de vós, já que nenhum pai se quer sentir dispensável na vida dos seus filhos. Mas o facto de um pai se poder sentir “inútil”, escusado da sua missão de educador, é sinónimo de que viveu plenamente a paternidade e de que alcançou o seu propósito com glória. Não interpretemos a inutilidade como distância ou desapego, mas sim como sinal de quem cumpriu um dos principais objetivos da paternidade – o da formação, quer humana, quer educativa. A meu ver, um pai que possa alcançar o sentimento de “inútil” na sua função de educador é um caso de sucesso.

Alcançar este sucesso tornou-se tão mais difícil quanto mais alterações societais vamos observando. Os dias de hoje não facilitam a vida a quem desempenha este cargo vitalício para o qual foi nomeado sem saber muito bem qual o conteúdo funcional inerente. Poderíamos dizer que a paternidade é algo que vai sendo revelado à medida que se assumem as funções parentais. Contudo, prefiro imprimir mais dinâmica a este processo e acrescentar o verbo acontecer ao verbo revelar. Resultado: a paternidade é algo que vai acontecendo à medida que vai sendo revelada. Por esta ordem.

É o maior desafio que um homem pode assumir durante a sua vida. E o mais longo. Mas também aquele que maior felicidade aporta e que mais sentido dá à existência humana. O papel dos pais deixou de ser tão claro como já o foi no passado. Hoje, a figura paternal está sujeita a muitas interferências externas que podem comprometer o seu envolvimento e interação com os filhos. Não é fácil ser pai nos dias de hoje. É uma mãe que o escreve, do outro lado da barricada. 

Os desequilíbrios que se fazem sentir na sociedade, obviamente que são transferidos para o seio mais íntimo da família, condicionando o papel dos progenitores. A verdade é que, mais do que nunca, “o mundo precisa de pais”. Pais que sejam uma referência para os seus filhos, um porto de abrigo, guias para um caminho que ainda está por mapear, que manifestem o seu amor, sem receio de serem firmes quando assim tem que ser, que abracem os sonhos dos filhos ao apontar para o horizonte, indicando a direção a seguir. 

A parte mais prática e lúdica da paternidade resume-se a uma contagem de tempo que é mais facilmente analisada, mas por isso mesmo, menos exigente pela temporalidade dos seus efeitos mais imediatos. O legado de um pai é intemporal e não se esgota numa ação quotidiana. Ainda que sejam recorrentes estes juízos de valor em detrimento da valorização e da responsabilidade da figura paterna, a dificuldade está em harmonizar estas duas ambivalências sem descurar nenhuma delas.

Estas palavras são a minha singela homenagem a todos os pais que o são, a todos os pais que assumiram sê-lo, à semelhança de José de Maria, a todos os pais que já partiram e que transmitiram o seu legado aos filhos e a todos aqueles que um dia virão a conhecer as alegrias da paternidade.  

Escreve quinzenalmente

O mundo precisa de pais


Os desequilíbrios que se fazem sentir na sociedade, obviamente que são transferidos para o seio mais íntimo da família, condicionando o papel dos progenitores.


Celebrou-se o Dia do Pai, uma homenagem a todos os homens que conhecem as maravilhas da paternidade, seja por criação, seja por conceção. Em Portugal, este dia comemora-se no dia de São José, esposo de Maria e pai de Jesus Cristo, exemplo máximo de proteção e de cuidado, e considerado um modelo de pai.

Apesar de não ser pai biológico de Jesus, José ensinou-nos que nenhum homem nasce a saber como é ser pai, nem mesmo com a aprendizagem que possa derivar da relação entre pai e filho. A expressão “Filho és, pai serás!” encerra em si muito do conhecimento que se adquire através da experiência e da vivência entre pais e filhos, não sendo, todavia, o suficiente para afastar parte das inseguranças que surgem no momento em que a paternidade chega. (O mesmo se passa com as mães, mas hoje, o texto é só sobre os pais.) Assim como José não nasceu pai, mas acabou por se tornar num pai zeloso e de referência para os pais dos dias de hoje, também nenhum dos pais que celebraram o seu dia sabiam o que era ser pai antes de efetivamente o serem.

Aprender a ser pai não é tarefa fácil; bem pelo contrário, é um trabalho árduo que não termina nunca, nem mesmo quando um pai sente que a sua missão de educador findou e está preparado para aceitar a sua “inutilidade” no caminho que o seu filho trilhou. A palavra “inútil” pode chocar alguns de vós, já que nenhum pai se quer sentir dispensável na vida dos seus filhos. Mas o facto de um pai se poder sentir “inútil”, escusado da sua missão de educador, é sinónimo de que viveu plenamente a paternidade e de que alcançou o seu propósito com glória. Não interpretemos a inutilidade como distância ou desapego, mas sim como sinal de quem cumpriu um dos principais objetivos da paternidade – o da formação, quer humana, quer educativa. A meu ver, um pai que possa alcançar o sentimento de “inútil” na sua função de educador é um caso de sucesso.

Alcançar este sucesso tornou-se tão mais difícil quanto mais alterações societais vamos observando. Os dias de hoje não facilitam a vida a quem desempenha este cargo vitalício para o qual foi nomeado sem saber muito bem qual o conteúdo funcional inerente. Poderíamos dizer que a paternidade é algo que vai sendo revelado à medida que se assumem as funções parentais. Contudo, prefiro imprimir mais dinâmica a este processo e acrescentar o verbo acontecer ao verbo revelar. Resultado: a paternidade é algo que vai acontecendo à medida que vai sendo revelada. Por esta ordem.

É o maior desafio que um homem pode assumir durante a sua vida. E o mais longo. Mas também aquele que maior felicidade aporta e que mais sentido dá à existência humana. O papel dos pais deixou de ser tão claro como já o foi no passado. Hoje, a figura paternal está sujeita a muitas interferências externas que podem comprometer o seu envolvimento e interação com os filhos. Não é fácil ser pai nos dias de hoje. É uma mãe que o escreve, do outro lado da barricada. 

Os desequilíbrios que se fazem sentir na sociedade, obviamente que são transferidos para o seio mais íntimo da família, condicionando o papel dos progenitores. A verdade é que, mais do que nunca, “o mundo precisa de pais”. Pais que sejam uma referência para os seus filhos, um porto de abrigo, guias para um caminho que ainda está por mapear, que manifestem o seu amor, sem receio de serem firmes quando assim tem que ser, que abracem os sonhos dos filhos ao apontar para o horizonte, indicando a direção a seguir. 

A parte mais prática e lúdica da paternidade resume-se a uma contagem de tempo que é mais facilmente analisada, mas por isso mesmo, menos exigente pela temporalidade dos seus efeitos mais imediatos. O legado de um pai é intemporal e não se esgota numa ação quotidiana. Ainda que sejam recorrentes estes juízos de valor em detrimento da valorização e da responsabilidade da figura paterna, a dificuldade está em harmonizar estas duas ambivalências sem descurar nenhuma delas.

Estas palavras são a minha singela homenagem a todos os pais que o são, a todos os pais que assumiram sê-lo, à semelhança de José de Maria, a todos os pais que já partiram e que transmitiram o seu legado aos filhos e a todos aqueles que um dia virão a conhecer as alegrias da paternidade.  

Escreve quinzenalmente