E se fosse com os meus?


A pergunta que eu deixo a todos os leitores do i, e que deixei às minhas equipas quando começámos a planear a operação de resgate e acolhimento de deslocados, é simples: e se fosse comigo? E se fosse com os meus? 


Chegaram a Cascais os 229 refugiados ucranianos que resgatámos da fronteira com a Ucrânia, em Siret, e de vários pontos da Roménia, Moldávia e Polónia. Viajaram na TAP, numa premonição do seu destino num avião chamado “Portugal”, e aterraram em Lisboa já noite dentro.

Exaustas, mulheres jovens com crianças, bebés de colo e alguns idosos. Esperança na bagagem ligeira. Ansiedade no olhar. Para trás ficaram os pais, os maridos, os irmãos. Vidas interrompidas abruptamente por uma guerra que está para além da compreensão humana. Em Portugal, aqui nas margens do Atlântico e a mais de 4000 km da sua terra mãe, encontrarão um caminho para um recomeço numa nova casa que é também sua.

A partir de agora, estes 229 cidadãos ucranianos passam a ser nossos convidados. Entendemos como nosso dever proporcionar-lhes uma integração tão rápida quanto possível (e necessária) na nossa sociedade. Criámos para os receber um Centro de Acolhimento de Emergência com capacidade para 200 pessoas, ainda extensível para considerar mais 100.

Outros dois centros estão já concluídos com capacidade para mais 200 camas, também extensível para mais 100. Cada cidadão ucraniano, depois de devidamente registado pelas autoridades nacionais, terá acesso aos nossos cuidados de saúde e às nossas escolas, aos nossos museus e ao nosso mercado de trabalho, para além do passe gratuito para transporte rodoviário gratuito. Tudo o que é preciso para começar de novo. 

As autarquias não têm tradição de organizar, muito menos liderar, missões humanitárias. Mas quando este conflito estoirou, em Cascais sentimos que não podíamos simplesmente baixar os braços. Não podíamos trair a nossa história e a nossa identidade, tão marcada pelos valores da tolerância, do humanismo e por uma predisposição de inequívoca abertura ao mundo. 

Organizámos uma missão de resgate, fizemos o que nenhum poder público ousou fazer até agora. E numa inédita coligação de esforços, sentindo a urgência da missão, juntaram-se a Cascais o Governo português através da Secretario de Estado para a Internacionalização e da Secretaria de Estado para as Migrações, a Força Aérea e o SEF; empresas como a GALP ou a TAP, e diplomatas da Ucrânia e da Roménia. 

A nossa missão não resolve os problemas da guerra. É, infelizmente, uma gota num oceano de tragédia humanitária. Mas se cada um de nós fizer a sua parte, se cada um de nós, à sua escala, der um contributo, aí sim podemos ambicionar mudar qualquer coisa neste mundo onde a bondade e a insanidade parecem andar de mãos dadas. 

Com a chegada dos 229 refugiados, há um capítulo intenso que se fecha. Mas outro, ainda mais desafiante, se abre: o da integração. 

Observo, com agrado, a profusão de boa vontade e amor ao próximo nas redes sociais. Muitos são os que pegam nos seus carros e se fazem à estrada para entregar mantimentos e, na volta, carregar o carro com os que desesperadamente procuram escapar da tragédia. Mas trazer estas pessoas por impulso benigno, tantas vezes sem condições de acolhimento acauteladas à priori, pode causar mais mal do que bem. Os refugiados precisam de muito mais do que uma boleia: precisam de uma casa, precisam de empatia, de dignidade, de tempo. Precisam de um futuro, de um plano. De humanidade. 

A pergunta que eu deixo a todos os leitores do i, e que deixei às minhas equipas quando começámos a planear a operação de resgate e acolhimento de deslocados, é simples: e se fosse comigo? E se fosse com os meus? 

A resposta que cada um de nós dará a esta pergunta simples será determinante para que quem agora se junta a nós possa reinventar, ou reencontrar, o seu projeto de felicidade. Quanto mais calçarmos os sapatos do outro, mais efetivos seremos na nossa ação. 

A habitação é, neste particular, uma dimensão decisiva na integração das famílias ucranianas. Ter uma casa, um teto, é o primeiro passo para a emancipação dos deslocados.

Apelo, por isso, a que todos os portugueses, de norte a sul do país, nos ajudem a ajudar. Quanto mais famílias de acolhimento forem identificadas, quantos mais imóveis forem disponibilizados temporariamente para esta causa humanitária, mais pessoas Portugal será capaz de salvar na Ucrânia.

Não tenho memória de ver o nosso país tão mobilizado por uma causa. Usemos essa energia e essa vontade solidária para fazer uma diferença positiva e duradoura na vida de tantos e tantos milhares de nossos concidadãos europeus na Ucrânia. 

Portugueses, ucranianos e europeus já viveram momentos difíceis. A nossa União forjou-se no pós-guerra e os grandes avanços das nossas sociedades chegaram depois de momentos de tensão. Como os nossos pais e avós, estaremos à altura do desafio. Porque faremos aos outros, aquilo que gostaríamos que fizessem aos nossos. 

E se fosse com os meus?


A pergunta que eu deixo a todos os leitores do i, e que deixei às minhas equipas quando começámos a planear a operação de resgate e acolhimento de deslocados, é simples: e se fosse comigo? E se fosse com os meus? 


Chegaram a Cascais os 229 refugiados ucranianos que resgatámos da fronteira com a Ucrânia, em Siret, e de vários pontos da Roménia, Moldávia e Polónia. Viajaram na TAP, numa premonição do seu destino num avião chamado “Portugal”, e aterraram em Lisboa já noite dentro.

Exaustas, mulheres jovens com crianças, bebés de colo e alguns idosos. Esperança na bagagem ligeira. Ansiedade no olhar. Para trás ficaram os pais, os maridos, os irmãos. Vidas interrompidas abruptamente por uma guerra que está para além da compreensão humana. Em Portugal, aqui nas margens do Atlântico e a mais de 4000 km da sua terra mãe, encontrarão um caminho para um recomeço numa nova casa que é também sua.

A partir de agora, estes 229 cidadãos ucranianos passam a ser nossos convidados. Entendemos como nosso dever proporcionar-lhes uma integração tão rápida quanto possível (e necessária) na nossa sociedade. Criámos para os receber um Centro de Acolhimento de Emergência com capacidade para 200 pessoas, ainda extensível para considerar mais 100.

Outros dois centros estão já concluídos com capacidade para mais 200 camas, também extensível para mais 100. Cada cidadão ucraniano, depois de devidamente registado pelas autoridades nacionais, terá acesso aos nossos cuidados de saúde e às nossas escolas, aos nossos museus e ao nosso mercado de trabalho, para além do passe gratuito para transporte rodoviário gratuito. Tudo o que é preciso para começar de novo. 

As autarquias não têm tradição de organizar, muito menos liderar, missões humanitárias. Mas quando este conflito estoirou, em Cascais sentimos que não podíamos simplesmente baixar os braços. Não podíamos trair a nossa história e a nossa identidade, tão marcada pelos valores da tolerância, do humanismo e por uma predisposição de inequívoca abertura ao mundo. 

Organizámos uma missão de resgate, fizemos o que nenhum poder público ousou fazer até agora. E numa inédita coligação de esforços, sentindo a urgência da missão, juntaram-se a Cascais o Governo português através da Secretario de Estado para a Internacionalização e da Secretaria de Estado para as Migrações, a Força Aérea e o SEF; empresas como a GALP ou a TAP, e diplomatas da Ucrânia e da Roménia. 

A nossa missão não resolve os problemas da guerra. É, infelizmente, uma gota num oceano de tragédia humanitária. Mas se cada um de nós fizer a sua parte, se cada um de nós, à sua escala, der um contributo, aí sim podemos ambicionar mudar qualquer coisa neste mundo onde a bondade e a insanidade parecem andar de mãos dadas. 

Com a chegada dos 229 refugiados, há um capítulo intenso que se fecha. Mas outro, ainda mais desafiante, se abre: o da integração. 

Observo, com agrado, a profusão de boa vontade e amor ao próximo nas redes sociais. Muitos são os que pegam nos seus carros e se fazem à estrada para entregar mantimentos e, na volta, carregar o carro com os que desesperadamente procuram escapar da tragédia. Mas trazer estas pessoas por impulso benigno, tantas vezes sem condições de acolhimento acauteladas à priori, pode causar mais mal do que bem. Os refugiados precisam de muito mais do que uma boleia: precisam de uma casa, precisam de empatia, de dignidade, de tempo. Precisam de um futuro, de um plano. De humanidade. 

A pergunta que eu deixo a todos os leitores do i, e que deixei às minhas equipas quando começámos a planear a operação de resgate e acolhimento de deslocados, é simples: e se fosse comigo? E se fosse com os meus? 

A resposta que cada um de nós dará a esta pergunta simples será determinante para que quem agora se junta a nós possa reinventar, ou reencontrar, o seu projeto de felicidade. Quanto mais calçarmos os sapatos do outro, mais efetivos seremos na nossa ação. 

A habitação é, neste particular, uma dimensão decisiva na integração das famílias ucranianas. Ter uma casa, um teto, é o primeiro passo para a emancipação dos deslocados.

Apelo, por isso, a que todos os portugueses, de norte a sul do país, nos ajudem a ajudar. Quanto mais famílias de acolhimento forem identificadas, quantos mais imóveis forem disponibilizados temporariamente para esta causa humanitária, mais pessoas Portugal será capaz de salvar na Ucrânia.

Não tenho memória de ver o nosso país tão mobilizado por uma causa. Usemos essa energia e essa vontade solidária para fazer uma diferença positiva e duradoura na vida de tantos e tantos milhares de nossos concidadãos europeus na Ucrânia. 

Portugueses, ucranianos e europeus já viveram momentos difíceis. A nossa União forjou-se no pós-guerra e os grandes avanços das nossas sociedades chegaram depois de momentos de tensão. Como os nossos pais e avós, estaremos à altura do desafio. Porque faremos aos outros, aquilo que gostaríamos que fizessem aos nossos.