Garantem que é o quinto clube mais popular da Alemanha, algo que não é completamente desprezível. Tem o nome impronunciável de Verein für Bewegungsspiele Stuttgart 1893, mas a gente traduz para Estugarda e fica tudo bem. Sempre gostámos de aportuguesar os nomes de cidades, lembro-me dos tempos das aulas de Geografia, e depois de aprender os afluentes da margem esquerda do Tejo, o ramal de Trofa a Fafe, e a linha de caminho de ferro que ligava Luanda a Nova Lisboa, ficar com o ouvido dorido de cada vez que chamavam a Glasgow Glásgua e Mogúncia a Mainz.
Pois o velho Estugarda, fundado a 2 de Abril de 1912, por via da fusão de dois dos clubes da cidade, o Stuttgarter FV e Kronen-Club Cannstatt, no Hotel Concórdia em Cannstattt, precisamente – e não podia ter o hotel nome mais a propósito – prepara-se para comemorar os seus cento e dez anos de vida pregado ao madeiro de uma descida de divisão com muto de provável.
Desconfortavelmente instalado na 17ª posição geral da Bundesliga – este fim-de-semana foi positivo com a vitória caseira frente ao Borussia Münchengladbac (3-2) – com menos um ponto do que o Hertha de Berlim, o primeiro a ocupar um lugar que evita a despromoção automática mas obriga a disputa de um play-off com o terceiro qualificado da Bundesliga II para garantir a permanência, o Estugarda não sabia o que era festejar uma vitória há cinco jornadas consecutivas, tendo somado quatro derrotas e apenas um empate até este sábado. Foi como se de repente o céu brilhasse.
Bons e maus tempos Somando cinco títulos de campeão alemão (1949-1950, 1951-1952, 1983–84, 1991–92 e 2006–07) o Estugarda também já passou pelo calvário da IIDivisão e aproveitou a altura para também conquistar dois títulos, em 1976-77 e em 2016-17. Foi em 1933, no ano da chegada de Adolf Hitler ao poder, com a consequente reformulação dos quadros competitivos do futebol alemão, que o clube se instalou definitivamente no Neckarstadiom, não longe da sede da Mercedes.
Decidiram as grandes figuras do III Reich que o campeonato alemão deveria ser disputado em 16 competições regionais, as Gauligen, e que os campeões de todas elas se encontrassem numa fase final a eliminar que viesse a definir o futuro campeão do Reich que deveria durar mil anos. Encaixado na Gauliga Württemberg, o Estugarda tornou-se francamente dominador da competição regional e criou uma rivalidade acesa com os vizinhos do Stuttgarter Kickers que, hoje em dia, disputam a Oberliga Baden-Württemberg, algo que se pode equiparar a uma quinta divisão.
As últimas épocas do Estugarda têm sido francamente difíceis para um clube que chegou a atingir o topo do futebol alemão. Em 2019 foi despromovido e, sob o comando do antigo internacional pela Alemanha, Thomas Hitzlsperger, elevado a diretor desportivo, avançou para um processo de reconstrução do clube, oferecendo-lhe uma nova alma competitiva. Deu resultado imediato. A equipa retomou o seu lugar entre os grandes e parecia ser para ficar.
O nono lugar da época passada indicava que tudo corria razoavelmente. Agora é um Deus nos acuda! A fome de pontos é insaciável! Ou melhor: desesperada.