Carnaval volta tímido mas já há motivos para sorrir

Carnaval volta tímido mas já há motivos para sorrir


O alívio das restrições que permite que muitos carnavais pelo país se realizem dá algum alento ao turismo nacional. E apesar de as perspetivas para este ano serem boas, as consequências que podem chegar da guerra entre a Rússia e a Ucrânia causam alguma preocupação. Ainda assim, espera-se que o ano seja melhor que os…


2022 traz de volta não todos mas alguns carnavais pelo país. Ainda não é este ano que a data será celebrada com toda a pujança que lhe é característica mas já é possível sentir-lhe um cheirinho. E, agora que as restrições começam a ser cada vez menos, quais são as previsões dos vários turismos do país para esta altura? O i fez uma ronda para tentar perceber se o país vai ter um Carnaval animado ou nem por isso.

Apesar de garantir que “o levantamento de restrições é sempre positivo”, Vítor Costa, diretor Geral da Associação Turismo de Lisboa (ATL) e presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa (ERT-RL), lembra que “é sabido que para a organização de eventos de maior dimensão é necessário o tempo e planeamento adequados à dimensão dos mesmos”, justificando assim a decisão de alguns cortejos carnavalescos não se realizarem apesar do levantamento das restrições.

Mas garante que “um ponto positivo que acaba por minimizar o impacto do cancelamento, é o facto de o Governo ter dado tolerância de ponto, pois permite um aumento das visitas nos locais onde está prevista a organização de festas neste período”, deixando como exemplo o palco móvel em Sesimbra, o Trio Elétrico e o Enterro de Carnaval em Loures, o Open Air Weekend – Carnaval Bahia, em Oeiras, “ou até mesmo os festejos de menor dimensão noutros municípios”. 

Em Lisboa, defende o responsável, “existem tradicionalmente alguns festejos de Carnaval bastante relevantes no panorama nacional”. Apesar de não trazerem ao país muitos estrangeiros, “esta altura do ano regista sempre bastante movimento”. Mas o cancelamento de algumas atividades trará alguns problemas. “É claro que o cancelamento destes festejos causou prejuízos para a atividade local, no plano económico e, até mesmo, no plano social, pois existe uma tradição consolidada de organização de festejos neste período”, acrescenta Vítor Costa, que garante que os prejuízos para a restauração, hotelaria, produção e outras atividades “foram certamente avultados”. O responsável lembra ainda que “as populações locais e visitantes ficaram privados deste momento importante de festa”.

Mais a sul, no Algarve, o presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, garante que as perspetivas “são muito animadoras”. E explica que o levantamento de restrições permite “celebrar o Carnaval de uma forma bastante diferente este ano, aproximando-nos já da normalidade por que todos esperamos, sem descurar a segurança de quem nos visita”.

Ao i, o responsável garante que a exigência do cumprimento das restrições atuais “continua a ser uma prioridade da região do Algarve”, acrescentando que “contextos adversos requerem soluções mais criativas”, acreditando, por isso que “a região se tenha adaptado bem às diretrizes que estão atualmente em vigor”. 

A título de exemplo, destaca João Fernandes, em Loulé a data será celebrada com um evento alternativo. Será o ‘Carnaval de Loulé a fugir ao bicho’ que, nas palavras do presidente da RTA, “vai ser uma iniciativa que tem por objetivo conferir alguma dinâmica à cidade, apesar das limitações ainda em vigor”. Estarão então postos dois carros alegóricos para que todos possam observar o trabalho artístico da Oficina do Carnaval de Loulé. Os típicos bailes tradicionais do Carnaval também vão tomar lugar, mas ainda em formato online. 

Já em Castro Marim decorre o “Carnaval sobre rodas”, uma alternativa móvel ao Carnaval. “Conta com uma carrinha que levará os festejos às principais povoações, aos sítios mais isolados e ainda às escolas, infantários e lares de idosos”, conta João Fernandes.

O responsável lembra que o Carnaval sempre foi uma época “de forte procura turística na região, sobretudo marcada pela preferência dos turistas nacionais, mas também com a presença de visitantes de outras paragens, em especial da nossa vizinha Espanha”.

O destaque vai, claro, para Loulé que tem “o Carnaval mais antigo de Portugal”, com 116 anos de existência e que, só em 2018, contou com uma afluência de 100 mil visitantes.

“É uma época histórica para a região e um festejo que mexe com todos os aspetos da vida de algumas localidades onde, durante estes dias, se vive e respira o Carnaval”.

E, apesar das restrições, o Algarve tem motivos para sorrir: “É importante salientar que a queda das restrições e o declínio da última vaga pandémica e o bom tempo, conduziu a um aumento da procura turística, que já se faz sentir na região”, garante o presidente da RTA que diz que a tolerância de ponto dada pelo Governo também deu uma ajuda. E, por isso, o Algarve espera “uma casa cheia”.
Ao nosso jornal, Vítor Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo Alentejo e Ribatejo recorda que a maior parte dos municípios da região cancelou os festejos e, apesar de isso levar menos pessoas ao Alentejo, não se traduz em grandes perdas porque “normalmente as pessoas que veem aos desfiles de Carnaval são pessoas que depois voltam para as suas terras e, de uma maneira geral, não dormem”. Por isso, garante que “o Carnaval para nós não era e não é um grande pico. O pico que esperamos nos próximos tempos é a Páscoa e essa época está com reservas muito mas muito boas”. 
Também no Centro do país as perspetivas são animadoras, garante Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal. Perspetivas que se tornam mais positivas nos municípios que optaram por manter os festejos como é o caso, por exemplo, da Figueira da Foz. “O abrandamento da pandemia dá-nos, finalmente, liberdade para podermos sair de casa e divertirmo-nos nesta quadra carnavalesca. Acresce que as previsões climatéricas para domingo e terça-feira, dias dos desfiles, não poderiam ser melhores, pelo que estão reunidas as condições para o Carnaval ser celebrado no Centro de Portugal como há dois anos não acontece”, diz Pedro Machado ao i, lembrando, no entanto, que “os corsos que mais gente atraem ainda não se vão realizar, casos de Torres Vedras, Ovar, Estarreja ou Mealhada”.

E não há dúvidas que “em anos normais, o Carnaval é uma época muito importante para o turismo da região e na qual os municípios muito apostam”. E brinca: “Os portugueses já sabem que Carnaval rima com Centro de Portugal, uma vez que os melhores corsos carnavalescos acontecem nesta região, nomeadamente aqueles que já referi. E embora este ainda não seja um ano normal, não faltarão festividades em todo o território suficientemente interessantes para atrair visitantes”.
O responsável deixa também alguns exemplos de carnavais que serão celebrados, sendo que nem todos podem decorrer de forma habitual: Águeda, Aveiro, Estarreja, Figueira da Foz, Mealhada, Mira, Nazaré, Ovar ou Torres Vedras. Mas há mais; ”Além destes, destaco os carnavais mais tradicionais e muito interessantes de Cabanas de Viriato, Canas de Senhorim, Vale de Ílhavo ou das Aldeias do Xisto de Góis”.

A norte as perspetivas são mais “moderadas”, como avança o presidente do Turismo Porto e Norte, Luís Pedro Martins. Tudo porque “uma vez que a decisão de levantar as restrições foi tomada muito próxima do Carnaval, quando grande parte das autarquias do Porto e Norte já tinha tomado a decisão de cancelar os festejos”.

Ainda assim, há festejos que se realizam como é o caso de Macedo de Cavaleiros, que irá assinalar o Entrudo Chocalheiro em Podence, um dos nossos selos de Património da UNESCO.

Questionado sobre se esta é uma época festiva importante para o turismo da região, Luís Pedro Martins defende que “todas as épocas são importantes, sobretudo depois da paralisação ocorrida nos últimos dois anos”. Esta é então uma “oportunidade para começar a recuperar dinamismos e trabalhar a promoção da região enquanto destino seguro, ideal, por exemplo, para short breaks, aproveitando o facto de voltar a ser concedida tolerância de ponto na terça-feira de Carnaval”.

Luz ao fundo do túnel? Com o alívio de restrições em Portugal, que já se nota por esta altura do Carnaval, como é que o turismo está a pensar no futuro? É a luz ao fundo do túnel? 

Vítor Costa diz que este alívio corresponde a “um momento de viragem relativamente à crise do turismo” imposta pela pandemia. Destaca ainda que os turistas estão a regressar, “existe vontade de viajar e Lisboa continua no top das preferências”. No entanto, apesar de existir confiança, há também a consciência de que “a recuperação total ainda vai demorar”. E porquê? “Por um lado, as empresas estão fragilizadas pela crise e ainda precisam de apoios e de tempo. Por outro lado, o produto prime de Lisboa – reuniões, meetings, congressos e incentivos – terá uma recuperação mais lenta, dada a sua estrutura de produto”. 

Ainda assim, a perspetiva para este ano é ”positiva” e de “confiança no turismo”, apesar de não se esperar atingir os valores de 2019. “Acresce que ainda há incertezas sobre a pandemia e que agora temos a crise no leste da Europa, o que pode ter impactos negativos na economia. O sucesso do turismo está intrinsecamente ligado à situação económica das famílias nos mercados emissores. Mais inflação, mais juros e mais crise económica significa imediatamente menos dinheiro disponível e, logo, menos turismo”, alerta Vítor Costa. 

É também de pé atrás que o Turismo do Algarve reage a esta questão. “Embora os sinais já para os próximos meses sejam muito estimulantes, ainda é cedo para falarmos de uma recuperação em pleno, na medida em que temos que considerar o impacto acumulado de dois anos de pandemia”, diz ao nosso jornal. E os exemplos são muitos. Além de termos arrancado o ano com um pico epidemiológico, não podendo garantir “que não haverá mais surpresas em matéria de pandemia”, preocupam os “efeitos diretos ou indiretos da realidade assustadora que assistimos na situação que se vive na Ucrânia”. Sobre este assunto, o presidente da RTA finaliza: “Temos de estar atentos, mas estamos no caminho certo para lá chegar. Apesar de tudo, acredito, vivamente, na capacidade da nossa região em não só equiparar os resultados já observados em contexto de pré-pandemia, como, também, de os superar num futuro próximo”. 

Para o Alentejo, a grande recuperação já tinha começado. “Desde o ano passado que estamos no caminho da recuperação”, garante Vítor Silva. E acrescenta: “Quando nos perguntam se nós já estamos a vislumbrar recuperação eu digo que não porque a recuperação já começou em 2021”, ano em que a região recuperou 80% da dormidas e 90% dos proveitos. “Penso que se não houverem grandes problemas agora com esta guerra que temos em cima tudo correrá bem. Espero que isto se resolva rapidamente porque pode vir a ser um problema mas se as coisas correrem bem, penso que podemos chegar ao fim do ano com muito boas perspetivas de ter números muito próximos já de 2019”, adianta.
Para o Turismo do Centro, não há dúvidas: “É claramente o início da recuperação que todos desejamos que seja efetiva já este ano de 2022”. As restrições, garante Pedro Machado, trouxeram “efeitos catastróficos na atividade turística da região” e por isso é esperado que pela altura da Páscoa e, em especial no verão, “a recuperação já esteja a acontecer em grande escala”.

Mas há preocupações que podem constituir novos obstáculos como é o caso da escassez de trabalhadores no setor turístico, “que é um problema sério” à qual se junta a seca prolongada, “que irá seguramente afetar as praias fluviais e as albufeiras, e o receio e incerteza causados pelos acontecimentos no leste da Europa”. Assim, Pedro Machado garante que “são três fatores que podem atrasar a recuperação dos fluxos turísticos que todos desejamos”.

A norte do país, o presidente do Turismo Porto e Norte é claro: “Temos vindo a dizer que 2022 tem tudo para ser um ano de recuperação do setor, em particular no Porto e Norte”. Frase que justifica com o levantamento de restrições como a exigência de testes. “Este alívio das restrições é mais um forte contributo para acreditarmos que 2022 vai ser um ano de recuperação e, estamos convictos, será possível chegar ao final do ano com valores muito próximos do que tínhamos registado em 2019, um ano absolutamente histórico para a região”.

No entanto, também este responsável se preocupa com a situação de guerra. “Seria imprudente não referir que o conflito agora iniciado com a ocupação da Ucrânia por parte da Rússia, coloca novamente alguma incerteza nas nossas expectativas. Estes acontecimentos são tudo o que não necessitávamos, em nenhuma circunstância, principalmente por questões humanitárias, mas muito menos após uma pandemia”, lamenta Luís Pedro Martins.

O mercado externo recupera? É sabido que, nos últimos dois anos, e quando as deslocações não eram proibidas, foi muito às custas do mercado interno que o turismo foi sobrevivendo. Mas, numa altura em que as fronteiras começam a abrir, já se esperam mais turistas?

No caso de Lisboa, Vítor Costa lembra a grave situação. “O mercado interno aguentou o turismo em muitos destinos durante a pandemia, o que não é o caso de Lisboa que tem uma situação particular, por ser um destino internacional, e por isso mesmo ter sido a região que mais sofreu com a crise”. A região contava então com 33% de dormidas de nacionais, mas apenas 8% eram efetivamente em “turismo”. “Os restantes vinham tratar de assuntos da empresa ou pessoais, o que não se reflete propriamente em turismo”, conta. Quer isto dizer que, pela dimensão do país, “o mercado português, embora não negligenciável, não constitui para Lisboa uma alternativa ao mercado internacional que tem e terá sempre a maior relevância”.

Mas agora, no plano estratégico, Lisboa equaciona “caminhar para um conceito diferente de mercado interno, no qual se inclua também a Espanha. É muito diferente considerar um universo de quase 58 milhões de pessoas do que considerar um universo de pouco mais de 10 milhões”.

O responsável garante que embora possa parecer, este “não é um objetivo fácil de atingir, mas parece-nos que, durante a pandemia, o comportamento dos espanhóis em relação a Lisboa foi de a considerar, para as suas viagens, no mesmo plano dos principais destinos de cidade em Espanha”.

E dá números: “Podemos dizer que cerca de 85% dos nossos turistas são europeus de classe média, adultos, que viajam em família ou com amigos e que estão habituados a viajar”. Agora, Lisboa espera também recuperar o mercado brasileiro que, em 2019, “gerou o maior número de dormidas em Lisboa e o maior gasto per capita e depois teve dificuldades específicas”. Mas há outros mercados com Lisboa a querer também reforçar a promoção no mercado dos EUA, bem como no Canadá, pois, defende, “são mercados de grande potencial”. O responsável acrescenta que “dentro do quadro atual, a nossa expectativa é positiva e responsável”. 

No Algarve então foi mais que claro a importância dos portugueses em período pandémico. “Nunca antes a região teve tantas dormidas em hotelaria de portugueses como em 2021”, começa por dizer João Fernandes com base em dados do Instituto Nacional de Estatística: foram 5,2 milhões de dormidas.

E acrescenta com dados animadores: “Temos os campos de golfe com reservas para o período entre março e maio ao nível de 2019, um retomar das atividades de turismo de negócios e avizinham-se períodos tradicionais de férias como o Carnaval, a Páscoa e o Verão pela frente”.

O presidente da RTA defende que esta é uma região que “sempre esteve entre as principais escolhas dos mercados externos” e, por isso, acredita que “muitos aproveitarão o contexto atual para compensar as férias e as visitas que não tiveram oportunidade de fazer nos anos anteriores”.

O presidente do Turismo do Alentejo garante que há uma coisa que tem que ser dita: “Temos que agradecer aos portugueses os bons resultados que já tivemos em 2021 porque foi praticamente só à custa do turismo nacional”. Mas o turismo externo ainda não recuperou. “Ainda estamos com grandes quebras embora já esteja a verificar um retorno muito acentuado desses mercados. O nosso trabalho agora é, por um lado, tentar manter os portugueses que vieram cá para o Alentejo porque não podiam ir lá para fora e vieram para cá o que levou a que tivéssemos o verão de 2020 e 2021 cheios e com preços muito bons”, diz ao i. Agora é arregaçar as mangas e começar a batalhar os mercados externos. “Há mercados que são mais difíceis como o brasileiro que para nós é um mercado importantíssimo, é o segundo mercado em conjunto com a Alemanha e tarda a arrancar”. Mas há um outro mercado importante que já se nota: o norte-americano. “Agora é trabalhar os mercados externos e tentar manter no mesmo nível o mercado interno. Se conseguirmos isso vamos chegar muito bem ao final do ano”, finaliza Vítor Silva.

No Centro a situação não é diferente com Pedro Machado a garantir que o mercado nacional foi “a boia de salvação do turismo no Centro de Portugal durante a fase pandémica”. Até porque, se não fossem os ”fiéis” visitantes nacionais, “certamente que estaríamos a falar de consequências muito mais gravosas para as empresas”.

Assim sendo, “é com os portugueses, residentes no país e emigrantes, que sempre contámos e que vamos continuar a contar, enquanto principal mercado emissor de turistas para a região. Posto isto, já é notório, nas nossas cidades, o regresso de visitantes de outras paragens, embora numa escala ainda distante do que representava antes da pandemia”.
Já Luís Pedro Martins não tem dúvidas que o fim da obrigatoriedade de teste negativo à chegada, aliado ao fim de inúmeras restrições nos mercados de origem, em particular a necessidade de realizar quarentena no regresso a casa, “está a contribuir para um crescimento do número de passageiros que chega ao Aeroporto do Porto”. No entanto, defende que é agora fundamental “que se invista na captação de novas rotas, que se consigam chamar para o nosso território os turistas oriundos de mercados que estavam no nosso Top 5 de visitantes”, finaliza.