Consolidar créditos. Descubra se é a melhor opção

Consolidar créditos. Descubra se é a melhor opção


Juntar vários créditos num só pode dar um maior alívio mensal. Mas nem sempre é vantajoso, pois pode significar pagar mais juros. Conte também com despesas de comissões e penalizações por reembolso antecipado.


Juntar ao crédito à habitação pequenos empréstimos – como o automóvel, viagens ou eletrodomésticos – é uma das soluções encontradas pelos portugueses com vista a aliviar os seus encargos mensais. Mas se a ideia parece tentadora por conseguir uma folga no final do mês, na prática poderá não ser a melhor solução. A explicação é simples: acaba por pagar mais no final do empréstimo.

Vamos a números, utilizando como exemplo um cenário em que os encargos mensais absorvem 1788,33 euros do orçamento. Como existem dificuldades em pagar todas as prestações, a ideia é ir ao banco e pedir para juntar tudo no crédito à habitação, a pagar em 30 anos. O que é certo é que muito dificilmente o banco aceitará fazer a consolidação sem aumentar a margem de lucro. Se aceitar, para um spread que se mantenha a 1%, sem agravamento da Euribor, os encargos mensais baixam para 547,78 euros, resultando numa folga mensal de 1240,55 euros. Porém, no final dos 30 anos terá desembolsado 1613,14 euros a mais em juros. Se houver subidas na Euribor, poderá pagar muito mais.

Mas além de pagar mais conte também com um possível agravamento do spread, já que a grande maioria dos bancos, face a um pedido destes, considera que houve mudanças contratuais. Isso significa que quem recorre a essa solução pode sentir uma mensalidade ligeiramente mais reduzida mas, no final do prazo, vai ver que irá pagar mais juros. E há casos em que essa subida pode ser muito elevada.

Como funciona? Basta um banco ceder um empréstimo para cobrir todos os créditos já contraídos, alargando o prazo de reembolso, com o objetivo de reduzir as prestações mensais. Mas antes de avançar deve ter em atenção a ocasião certa. Há sobretudo duas alturas em que se deve considerar pedir um novo empréstimo para pagar empréstimos antigos: num período de queda das taxas de juro ou face à alteração da situação pessoal, nomeadamente pela quebra de rendimentos ou pela acumulação de demasiados empréstimos.

O certo é que a taxa de juro oferecida pelos bancos varia de acordo com a análise feita pela instituição em relação ao risco do cliente. Neste sentido, um cliente com um melhor perfil de risco pode conseguir taxas mais competitivas, bastando para tal apresentar fatores como, por exemplo, estabilidade profissional, garantias hipotecárias ou até fiadores.
“Imagine um cenário em que paga mensalmente 610 euros pelos créditos automóvel, pessoal e cartão de crédito. Como está com dificuldade em pagar todas as prestações, vai ao banco e pede para juntá-las.

O banco apresenta-lhe a possibilidade de juntá-las num crédito hipotecário consolidado e, neste caso, terá de ter um imóvel para dar como garantia do crédito. O banco até aceita um imóvel que já tenha uma hipoteca a favor de outro banco porque já tem, por exemplo, um crédito à habitação, mas apenas se o valor total dos créditos for, no máximo, 80% do valor de avaliação. No entanto, uma situação destas é rara. Por norma, é-lhe exigido um imóvel sem nenhuma hipoteca”, diz a Deco.

No entanto, a associação lembra que, neste cenário em caso de consolidação, “o banco faz-lhe um novo empréstimo por 10 anos e fica a pagar 219 euros por mês. Consegue uma folga mensal de 391 euros, mas no final dos 10 anos pagará mais 5256,69 euros do que se mantivesse o pagamento dos créditos originais. Ao manter o pagamento nos prazos iniciais, o custo seria 3896,36 euros; optando pela consolidação em 10 anos o custo total do crédito será de 9153,05 euros. Como se trata de um crédito hipotecário com taxa variável, o valor poderá ser superior se a Euribor aumentar.

Neste caso, como também foi consolidado o cartão de crédito, tinha de ser contactada a instituição que o emitiu para pedir o seu cancelamento, não bastava apenas pagar o valor em dívida. Se não solicitar o cancelamento, o cartão continua a existir e, se tiver anuidade, esta continuará a ser cobrada”.

Cuidados a ter Um dos fatores a ter em conta diz respeito ao indexante no crédito à habitação. A explicação é simples: os créditos mais pequenos têm taxa fixa e a maioria dos empréstimos à habitação estão indexados à taxa Euribor. Além disso, ao consolidar os diversos créditos – liquidando os anteriores –, os clientes vão pagar uma comissão por amortização antecipada desses empréstimos. Por isso mesmo, há que fazer bem as contas e verificar se vale ou não a pena.

Geralmente, o crédito da casa tem o prazo mais longo e a taxa de juro mais baixa, pelo que compensa associar os restantes a este. Fica a pagar em 30 anos a acumulação dos vários empréstimos. A curto prazo, ganha em liquidez mas, a longo prazo, paga mais juros.

No entanto, se decidiu que a melhor solução é mesmo consolidar créditos, então terá de decidir se quer optar pelo crédito com ou sem hipoteca. No primeiro caso pode obter um prazo mais alargado e uma taxa de juro inferior, mas suporta custos iniciais mais elevados. No segundo, as despesas iniciais são menos pesadas, mas os montantes e o prazo são inferiores.

Sem um crédito hipotecário, a consolidação passa por um crédito pessoal. Mas a redução mensal das prestações é inferior (cerca de 20%), já que o volume total de juros aumenta substancialmente. Convém não esquecer que muitas instituições financeiras exigem como garantia um imóvel que deverá ter um valor comercial igual ou superior ao dobro do total de créditos. Aliás, muito dificilmente os consumidores conseguirão uma consolidação se não tiverem uma habitação para dar como garantia.

Guia SOS para consolidar créditos

Previna-se primeiro

– Faça as contas às suas prestações mensais e verifique se o total não ultrapassa 35% do rendimento mensal. Ao mesmo tempo, deverá criar um pé-de-meia para prevenir eventuais imprevistos. O ideal é que este montante corresponda a cinco ou seis vezes o rendimento mensal familiar. Este valor poderá ajudá-lo a fazer face a eventuais despesas extra, por exemplo, uma situação de desemprego ou um problema de saúde.

Fale com o seu banco

– Tente renegociar as atuais condições de crédito. Por exemplo, renegociar o crédito à habitação poderá permitir uma maior folga mensal. Não se esqueça que a consolidação permite baixar a prestação, mas é uma opção que pode sair bem mais cara. Além dos juros, conte ainda com os custos de abertura de processo ou com a penalização por amortização antecipada dos créditos.

Opte pelo crédito hipotecário

– Nem sempre é fácil encontrar instituições financeiras que permitam juntar vários créditos num só. Mas, quando isso acontece, e se optar pela consolidação de créditos, prefira um crédito hipotecário – em que é constituída uma hipoteca sobre um imóvel como garantia a favor do credor – em detrimento de um crédito pessoal.

Questione sempre tudo

– Quando estiver a negociar o crédito, questione sempre os custos do processo. Não se esqueça de analisar à lupa as taxas praticadas. É o caso da taxa anual efetiva (TAE) e da taxa anual efetiva global (TAEG), já que estas vão refletir o custo total do crédito. Deve também tentar uma redução ou uma isenção das comissões, como a que incide sobre a amortização antecipada dos créditos. Depois disso, faça bem as contas.

Avance se for indispensável 

– Só deve consolidar os seus créditos se for mesmo indispensável, ou seja, quando chegar efetivamente à conclusão de que não consegue pagar as suas prestações.Se for esse o seu caso, consulte várias instituições de crédito, apresente os valores em dívida e depois compare as várias propostas apresentadas. Só desta forma estará em condições de optar pela proposta mais vantajosa para o seu caso.

Regras para baixar prestações

Negociar ou mudar de banco

– Tente renegociar as atuais condições do crédito, baixando, por exemplo, as taxas de juro praticadas. Não se esqueça que, se domiciliar o ordenado e pagamentos de serviços ou subscrever um cartão de crédito, etc., o banco poderá ficar mais recetivo para negociar. Se, mesmo assim, a instituição financeira se mostrar irredutível para alterar as condições, pense em mudar de banco.

Alargar prazo

– Quanto mais longo for o prazo – apesar de a prestação ser inferior –, mais caro irá ficar o empréstimo, pois paga mais juros no total. Por norma, os bancos não podem cobrar comissões se o cliente pedir a renegociação do crédito.
 
Amortizar dívidas

– Se tem poupanças e ainda lhe faltam, pelo menos, dois anos para liquidar os empréstimos, amortize. Desta forma, consegue poupar nos juros. Mas conte pagar penalizações pelo reembolso parcial antecipado. A lei limita estas comissões nos contratos de crédito à habitação a um máximo de 0,5% ou 2% sobre a dívida em causa, consoante se trate de um empréstimo com taxa variável ou fixa. Nos créditos ao consumo, como o pessoal ou o automóvel, o limite é de 0,5% se a taxa for fixa (0,25% caso a amortização seja feita no último ano do contrato); se a taxa for variável, nada pode ser cobrado ao cliente.

Vantagens da consolidação 

– Permite baixar as prestações mensais de forma imediata, o que irá aliviar quase automaticamente o seu orçamento familiar. Ao alargar prazos consegue prolongar o pagamento, principalmente para os créditos mais curtos. Além disso, ao juntar todos os créditos num só consegue reduzir o número de credores, porque todos os seus créditos se juntam numa única instituição financeira. E assim consegue ter uma melhor gestão dos prazos de pagamento.

Desvantagens da consolidação

– Precisa de ter muito cuidado para não cair na tentação de, ao baixar a prestação mensal, pedir mais empréstimos e acumular dívidas. Neste caso, corre o risco de agravar ainda mais a sua situação financeira. Por norma, a maioria das instituições financeiras pedem garantias, porque sabem que grande parte das pessoas que optam por este tipo de crédito já falharam no passado o pagamento de prestações.