A escassez de combustível está a impedir a distribuição de material médico urgentemente necessário na região etíope do Tigray, que está ameaçada por doenças como a malária e a cólera, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Pela primeira vez desde julho do ano passado, a OMS obteve autorização para enviar material médico de emergência para o Tigray, incluindo equipamento essencial e de proteção para os trabalhadores da saúde, medicamentos para a malária e diabetes e tratamentos para a desnutrição aguda.
Contudo, o fluxo de combustível para a região para as organizações humanitárias tem sido restringido desde agosto passado devido ao conflito armado entre os rebeldes do Tigray e as autoridades etíopes, que levou à redução e suspensão de muitas operações essenciais, recorda a OMS, numa declaração.
De acordo com a agência das Nações Unidas, as taxas de desnutrição entre crianças com menos de 05 anos e mulheres são "alarmantemente elevadas", com taxas superiores a 70% nas mulheres grávidas e lactantes.
Nas regiões de Afar e Amhara, também afetadas pelo conflito e onde a distribuição dos fornecimentos de assistência humanitária tem sido "relativamente mais fácil", os números relativos às mulheres grávidas malnutridas são de 45% e 14%, respetivamente.
De acordo com o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU, são necessárias 2.200 toneladas de 'kits' de saúde de emergência e 1,5 milhões de vacinas contra a cólera, entre outros recursos, para satisfazer as necessidades sanitárias e alimentares no Tigray.
"Apelamos às autoridades locais e aos parceiros internacionais para que nos permitam adquirir urgentemente combustível para satisfazer as necessidades básicas da população etíope", disse a OMS.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para aquele estado no norte do país, com a missão de retirar pela força os dirigentes locais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das forças estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
A ajuda humanitária aos mais de seis milhões de pessoas no estado de Tigray continua muito limitada, em face ao que as Nações Unidas descreveram como um "bloqueio humanitário de facto".