Faltava um ano para Estaline morrer e deixar de governar a União Soviética. Mao Tsé-Tung somente viria a abandonar o cargo de Presidente da República Popular da China sete anos depois. Naquele mesmo ano de 1952, a 7 de outubro, nasceria Vladimir Putin; a 4 de novembro, Dwight Eisenhower era eleito Presidente dos EUAcom 55% dos votos. Mas a data que agora se assinala é outra: há exatamente sete décadas, a 6 de fevereiro, o Rei Jorge VI não resistiu ao cancro do pulmão e morreu na Sandringham House, em Norfolk, aos 56 anos.
Dias antes, a 31 de janeiro, o monarca havia sido aconselhado a não ir ao aeroporto de Heathrow despedir-se da sua filha Isabel antes desta viajar até ao Quénia, a paragem que faria com o marido, Filipe, duque de Edimburgo, antes de partir para a Austrália e a Nova Zelândia. Nas viagens anteriores, o secretário de Isabel, Martin Charteris, não esquecera por um segundo o rascunho de uma declaração de ascensão. Principalmente, em ocasiões como o encontro com Harry S. Truman, em Washington, D.C, na eventualidade de o monarca perder a vida.
O príncipe Filipe, após ter conversado com a mulher, questionou-a acerca do nome régio que adotaria e a mesma não hesitou em responder: “O meu próprio nome, Isabel, é claro. Que outro poderia ser?”. De regresso a Inglaterra, aos 25 anos, vestida de preto, acenou ao público enquanto regressava a Clarence House, em Londres. A 8 de fevereiro, foi proclamada Rainha.
O primeiro-ministro Winston Churchill apontou o facto de Isabel II, aos 25 anos, ser “apenas uma criança”. Todavia, quando esta regressou a Inglaterra, foi o primeiro a notar que os reinados das rainhas haviam sido “famosos” e que “alguns dos maiores períodos da nossa História se desenrolaram sob o seu cetro”. A seu lado, Margaret Thatcher, que mais tarde se tornaria a primeira mulher a ser primeira-ministra, escreveu numa coluna de jornal na época: “Se, como muitos juram fervorosamente, a ascensão de Isabel II pode ajudar a eliminar os últimos resquícios de preconceito contra as mulheres em lugares de topo, então uma nova era para as mulheres estará realmente próxima”.
Somente a 2 de junho de 1953, na Abadia de Westminster, Lilibet, como sempre foi carinhosamente tratada pela família, subiu oficialmente ao trono. Nesta cerimónia, fez o juramento de garantir cumprir a lei e governar a Igreja de Inglaterra, foi ungida com óleo sagrado, vestida com o manto e insígnias e coroada rainha do Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Paquistão e Ceilão (agora Sri Lanka).
Importa lembrar que a rainha deu ao príncipe Filipe a tarefa de liderar o comité de organização da sua coroação e este quis modernizar o evento, permitindo câmaras de filmar no local. Tanto Isabel II como Churchill inicialmente rejeitaram a ideia, mas o seu posicionamento modificou-se quando entenderam que o público pretendia a cobertura televisiva da cerimónia e, assim, este viria a ser o primeiro grande evento internacional a ser transmitido.
Três milhões de ingleses juntaram-se nas ruas para aplaudir enquanto a Rainha seguia para a abadia numa carruagem de ouro envergando um vestido adornado com os símbolos da Grã-Bretanha e da Commonwealth, incluindo uma rosa, um cardo, um trevo, uma folha e um feto. Ainda que os momentos mais íntimos tenham ficado longe dos olhares curiosos, sabe-se que a então jovem “foi ungida com óleo sagrado sob um dossel e, segurando um cetro e equilibrando uma coroa de ouro maciço na cabeça, assumiu o trono”, como a Time divulgou em junho de 2018, num artigo intitulado de “Isabel II não estava à espera de ser rainha. Aqui está como tudo aconteceu”.
Será camilla a próxima rainha consorte? “God save our gracious Queen / Long live our noble Queen / God save The Queen / Send her victorious / Happy and glorious / Long to reign over us / God save The Queen” são os primeiros versos de ‘God Save the Queen’, o hino nacional britânico e dos territórios ultramarinos daquele país que terá sido escrito pelo compositor John Bull em 1619.
De facto, apesar de todas as adversidades, Isabel II tem conseguido levar a cabo um reinado que gera consensos e, acima de tudo, é o quarto mais longo da História. À frente de Elizabeth Alexandra Mary estão João II do Liechtenstein – 70 anos e 91 dias de reinado, que começou a 12 de novembro de 1858 e terminou a 11 de fevereiro de 1929 –, Bhumibol Adulyadej (Rama IX), antigo Rei da Tailândia – 70 anos e 126 dias, no período compreendido entre 9 de junho de 1946 e 13 de outubro de 2016 – e, em primeiro lugar, encontra-se Luís XIV de França, com o recorde de 72 anos e 110 dias – o “Rei Sol” desempenhou funções de 14 de maio de 1643 até à sua morte a 1 de setembro de 1715.
Volvidos 25567 dias da coroação, no passado sábado, “sua Majestade a Rainha organizou uma receção para membros da comunidade local e grupos de voluntários em Sandringham House na véspera de completar o 70.º aniversário do seu reinado”, disse o palácio, em comunicado, sendo que a monarca foi fotografada a cortar um bolo especialmente produzido para a ocasião.
“É com muito prazer que renovo o juramento que fiz em 1947 de que minha vida seria sempre dedicada a servi-los”, disse numa mensagem partilhada pelo palácio de Buckingham nas redes sociais. “Sou afortunada por ter tido o apoio firme e amoroso da minha família. Fui abençoada por ter tido no príncipe Filipe um parceiro disposto a carregar o papel de consorte de maneira altruísta, fazendo os sacrifícios necessários. É um papel que eu vi a minha mãe desempenhar a vida toda durante o reinado do meu pai”. Seguindo esta linha de pensamento, fez uma revelação que tem gerado controvérsia: “E quando, no devido tempo, o meu filho Carlos se tornar Rei, eu sei que vocês dar-lhes-ão, a ele e à sua esposa Camilla, o mesmo apoio que me deram; e tenho o desejo sincero de que, quando chegar o tempo, Camilla seja conhecida como Rainha Consorte ao continuar o seu leal serviço”, frisou, concluindo que espera que “este Jubileu reúna famílias e amigos, vizinhos e comunidades”.
“Estamos profundamente conscientes da honra representada pelo desejo da minha mãe. Como temos procurado juntos servir e apoiar Sua Majestade e o povo das nossas comunidades, a minha querida esposa tem sido o meu apoio constante ao longo de todo o processo”, avançou este domingo o príncipe Carlos, numa declaração comemorativa para assinalar o Jubileu de Platina da progenitora, enquanto um porta-voz da família real britânica garantiu que a duquesa da Cornualha ficou “sensibilizada e honrada”.
Habitualmente, as e os consortes das e dos monarcas não detêm qualquer poder, ou seja, não exercem nenhum papel constitucional. Mas, a título de exemplo, o príncipe Filipe acompanhava a esposa em diversas cerimónias dentro e fora do Reino Unido e servia a Coroa. Antes de se afastar dos seus cargos, em 2017, aquele que viria a ser o consorte que esteve mais tempo em funções participava em cerca de 300 eventos por ano, entre inaugurações, visitas, discursos ou refeições.
Recorde-se que, depois de Carlos, encontram-se William, Duque de Cambridge, e o seu filho, o príncipe George, em segundo e terceiro lugares, respetivamente, na linha de sucessão ao trono.