O país passou ontem a marca de um milhão de portugueses em isolamento, numa altura em que a epidemia mantém tendência crescente. Um dos principais reflexos vive-se nas escolas, onde se regista um novo máximo de crianças e jovens em isolamento.
Só na última semana 115.880 crianças e jovens até aos 19 anos de idade testaram positivo para a covid-19, representando 33% dos novos casos de covid-19 diagnosticados no país. São mais crianças e jovens a ficar em isolamento numa semana do que em todo o primeiro período ou mesmo nas primeiras semanas de janeiro combinadas.
O arranque do segundo período fica assim marcado por interrupções nas aulas e períodos de isolamento, com professores a relatarem ao i um cenário em que a cada dia há crianças que regressam e outras que ficam em casa, com algumas escolas a dar acompanhamento à distância com trabalhos para fazerem em casa e momentos de aulas remotas.
“O problema é que estiveram três semanas de férias, regressaram à escola e agora estão de novo em casa. Estamos sempre a interromper a escola”, diz ao i um pai de uma família com três crianças em idade escolar, todos em isolamento após um dos filhos ter testado positivo. Os sintomas foram nesta família ligeiros.
É nas crianças até aos nove anos que se verifica a maior subida de diagnósticos positivos para o SARS-COV-2: os dados desagregados por faixa etária facultados pela Direção Geral da Saúde, que o i analisou, mostram uma subida de 246% nos diagnósticos, que triplicaram assim de 24 mil para mais de 61 mil no espaço de uma semana. Segue-se o aumento de testes positivos para a covid-19 no grupo etário dos 10 aos 19 anos, mais 69% na última semana. A epidemia manteve uma tendência crescente em todas as faixas etárias, mas é no grupo dos 40 aos 49 anos, a geração dos pais, que se regista a terceira maior subida de diagnósticos na última semana (+42%).
Idosos cinco vezes menos expostos ao vírus O que é agora bem notório nos dados da DGS é que ao longo deste mês, marcado pela circulação dominante da variante Omicron, a população mais idosa tem sido menos exposta à covid-19 do que as camadas mais jovens.
Cruzando o número de diagnósticos com a população em cada grupo etário contabilizada pelo Instituto Nacional de Estatística nos últimos Censos, e com a ressalva de que os casos confirmados representarão apenas uma fração das infeções reais na população, pode concluir-se que pelo menos 13% das cerca de 840 mil crianças portuguesas na faixa etária até aos nove anos testaram positivo para a covid-19 nas últimas quatro semanas, a maioria na última semana, sendo a exposição idêntica nos adolescentes dos 10 aos 19 anos (12,7% tiveram um diagnóstico covid-19 desde os últimos dias de dezembro).
É no grupo etário dos 20 aos 29 anos, em que o aumento de infeções foi entretanto ultrapassado pela circulação do vírus entre as crianças, que se verifica a maior exposição, mas dentro da mesma casa de valores: 14% dos 1,1 milhões de jovens nesta faixa etária em Portugal teve covid-19 nas últimas quatro semanas. No grupo etário dos 30 aos 39 anos, 13,3% e no grupo etário dos 40 aos 49 anos, 11,5%.
A exposição diminui com a idade, estando até aqui os mais velhos mais “imunes” à vaga sem precedentes de contágios provocada pela Omicron. Na faixa etária dos 50 aos 59 anos, 8,2% da população testou positivo para a covid-19 nas últimas quatro semanas, percentagem que baixa para 4,5% no grupo etário dos 60 aos 69 anos e que cai de novo para 2,9% entre os septuagenários.
Entre maiores de 80 anos, o grupo que tem registado o maior risco durante a pandemia e que foi também o primeiro a receber a dose de reforço, apenas 2,5% dos cerca de 713 mil idosos em idades mais avançadas em Portugal tiveram um teste positivo para a covid-19 nas últimas quatro semanas, uma exposição assim cinco vezes inferior à dos jovens.
Entre os especialistas ouvidos pelo i surgem várias possíveis explicações: de menor exposição e contactos sociais, menor testagem nos grupos etários mais velhos ou menos coabitantes à proteção conferida pela terceira dose na vacina, que não evitando infeção, tem um efeito protetor em doença sintomática e pode contribuir para que sejam detetados menos casos positivos neste grupo. Uma das incertezas a esta altura é se o aumento de casos que voltou a acelerar nos jovens com a abertura das aulas vai “contagiar” os mais velhos, quer os que vivem em instituições quer os que vivem na comunidade, numa altura em que o vírus nunca circulou com tanta intensidade.
Não foi ainda feita nenhuma análise mais detalhada sobre a diferente progressão da epidemia por faixa etária na Direção Geral da Saúde, casos assintomáticos e não sintomáticos e quais as consequências clínicas da infeção no atual quadro epidemiológico nos diferentes grupos etários. Não são também públicos dados recentes sobre a idade das pessoas que estão internadas com teste positivo para o SARS-COV-2 nos hospitais.
Fontes hospitalares têm relatado que uma parte significativa dos internamentos em enfermaria são de doentes internados por outro motivos que testaram positivo para o SARS-COV-2, mas mantêm-se, em todas as idades, casos de pessoas que recorrem ao hospital com agravamento da infeção. Em cuidados intensivos, onde o número de doentes se tem mantido mais estável, a maioria dos casos de covid-19 serão efetivamente quadros muito graves associados à doença. O i já procurou ter dados junto da Direção Geral da Saúde sobre o quadro atual nos hospitais, não tendo tido resposta.
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