Número de manifestantes mortos nos protestos em Cartum sobe para sete

Número de manifestantes mortos nos protestos em Cartum sobe para sete


A capital do Sudão, Cartum, vive hoje mais um dia de violência, com milhares de manifestantes nas ruas alvo de “balas reais”, mas também bombas de gás lacrimogéneo, granadas de atordoamento e disparos de canhões de água, contam os médicos sudaneses, citados pelas agências internacionais.


O número de manifestantes mortos hoje na repressão de protestos contra o poder militar no Sudão subiu para sete, elevando para 71 o número de vítimas mortais desde o golpe de 25 de outubro, anunciaram fontes médicas.
Além dos sete manifestantes, um general foi apunhalado até à morte, disse a polícia, citada pela agência France-Presse.
 
A capital do Sudão, Cartum, vive hoje mais um dia de violência, com milhares de manifestantes nas ruas alvo de "balas reais", mas também bombas de gás lacrimogéneo, granadas de atordoamento e disparos de canhões de água, contam os médicos sudaneses, citados pelas agências internacionais.
 
Vários manifestantes feridos desmaiaram, alguns asfixiados pelo gás lacrimogéneo e outros atingidos pelas granadas.
 
Os ativistas pró-poder civil, num país que em 2019 saiu de três décadas de ditadura militar islamita, voltaram hoje a sair à rua, enfrentando as forças de segurança destacadas em grande número na capital e que, pela primeira vez, estão a utilizar armamento pesado.
 
Por cima dos veículos das forças de segurança são visíveis armas pesadas e metralhadoras de grande calibre, constatou um jornalista da AFP.
 
Em Cartum, a violência concentra-se em torno do palácio presidencial, antigo quartel-general do ditador Omar al-Bashir, deposto em 2019 sob a pressão de uma revolta popular, e onde hoje estão instaladas as autoridades te transição chefiadas pelo general Abdel Fattah al-Burhane, autor do golpe de 25 de outubro.
 
As forças de segurança tentam impedir os manifestantes de se aproximarem, perseguindo-os por vezes nas ruas próximas do palácio com bombas de gás lacrimogéneo e granadas atordoantes.
 
Num subúrbio da capital, Omdourman, os manifestantes queimaram pneus e levantaram barricadas para cortar estradas, contou uma testemunha à AFP.
 
Noutro, Khartoum-Nord, milhares de manifestantes gritam: "Os militares para a caserna" e "Não é possível voltar atrás", num país que viveu sob regimes militares quase continuamente desde a sua independência, há 65 anos.
 
Desde o golpe de Estado, o país afunda-se cada vez mais em violência.
 
Segundo a Organização Mundial da Saúde, as forças de segurança chegam mesmo a atacar feridos e médicos nos hospitais.
 
O Sudão vive um impasse político desde o golpe militar de 25 de outubro de 2021, que ocorreu dois anos após uma revolta popular, protagonizada já então pelos comités de resistência, para remover o autocrata Omar al-Bashir e o seu Governo islamita em abril de 2019.
 
Sob pressão internacional, os militares reinstalaram em novembro o primeiro-ministro deposto no golpe, Abdalla Hamdok, para liderar um Governo tecnocrata, mas o acordo não envolveu o movimento pró-democracia por detrás do derrube de Al-Bashir.
 
Desde então, Hamdok não conseguiu formar Governo perante protestos incessantes, não só contra o golpe de Estado, mas também contra o seu acordo com os militares e acabou por se demitir em 02 de janeiro.