Professores sem senha digital para vacinação. “Isto está mal organizado”

Professores sem senha digital para vacinação. “Isto está mal organizado”


Aulas começam dia 10 e professores e pessoal tentam vacinar-se até lá. Ontem as senhas esgotaram.


Contagem decrescente para o começo das aulas. O período da tarde dos centros de vacinação está desde o dia de ontem até domingo em modalidade Casa Aberta para professores, profissionais das creches e em ATL levarem dose de reforço da vacina contra a covid-19 e é necessário uma senha digital – que esgotou.

Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) confirmaram que houve uma “instabilidade” no Portal Covid-19 motivada pela “elevada procura” e adiantaram que as senhas digitais para vacinação para o dia de ontem acabaram por esgotar. Como resultado da ineficácia da senha, o centro de vacinação de Aveiro viu formar-se uma fila composta por vários professores e funcionários que queriam ser vacinados, mesmo sem terem conseguido retirar a senha necessária. Também uma professora de Sintra, que não quis identificar-se, partilhou com o i a sua experiência de quando ia levar a dose de reforço ao se dirigir a um dos centros de vacinação. Mas ao chegar ao local, que tinha “um ar muito bem organizado”, recusaram administrar-lhe a vacina, com a justificação de que não tinha senha. “Isto está mal organizado. Somos milhares de professores e as aulas começam na próxima segunda-feira. Queria levar a dose para estar mais descansada”, afirma.

Os profissionais da educação, no dia em que pretendem ser vacinados, têm de preencher um formulário no site dedicado à covid-19 para obterem no seu telemóvel a senha digital que informa o número e a hora da vacinação. Devem levar, para além disso, um documento comprovativo da profissão que exercem.

Outro professor do concelho de Sintra, que conseguiu marcar senha para Mem Martins, diz que ao chegar ao local havia uma longa fila, que em 20 minutos já tinha entrado no pavilhão. Apercebeu-se, no entanto, de muitos colegas a serem mandados para casa por não terem senha. E do cansaço das equipas: ao final da tarde, eram os mesmos enfermeiros de serviço desde as 8h da manhã.

Mas mesmo com as dificuldades, há confiança nos avanços conquistados. “Teremos mais professores – doses de reforço, e mais alunos (os mais novos) vacinados, do que no dia 17 de dezembro, quando terminou o 1º período”, começa por explicar ao i Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). “Ninguém está imune, mas estamos mais defendidos em relação ao inimigo”. E no que toca ao método de ensino o regime presencial é o mais apetecível, sendo que o ensino à distância deverá ser somente utilizado em último caso, por ser um método com “enormes constrangimentos”. E Filinto Lima explica porquê: “Se é verdade que a escola é um elevador social, quando esse elevador é movido pelo ensino à distância ele sobe muito devagar para alguns (os mais abastados) e desce bastante para os do costume, aumentando as desigualdades”.

A Recusa de Computadores Os confinamentos e as primeiras experiências de ensino à distância deram frutos no que toca à adaptação. “Estamos muito melhor do que no ano passado, tendo em quantidade de material digital como ao nível da literacia digital do alunos e professores”, salienta o presidente da ANDAEP. E embora, segundo diz, estejam a ser entregues neste momento mais computadores aos alunos, “curiosamente alguns pais e encarregados de educação estão a recusar” a sua receção, assim como “material digital que o Ministério da Educação atribui em regime de comodato” por não querem arcar com a “responsabilidade”. Alguns pais e encarregados de educação “já se precaveram” e compraram esse material. Estas recusas, que existem por medo de pagar os arranjos dos aparelhos caso haja algum acidente, estão a acontecer principalmente no ensino secundário. A ANDAEP, no entanto, não tem dados de quantos computadores foram rejeitados por este motivo o ano passado nem desde que a pandemia atingiu o mundo da educação.

Vacinação de crianças Até às 7h00 da quinta-feira passada foram realizados cerca de 154 mil pedidos de agendamento para a vacinação contra a covid-19 de crianças entre os cinco e os onze anos, para os dias 6, 7, 8 e 9 de janeiro, datas de vacinação exclusiva de crianças. O Secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou em Coimbra que as aulas vão mesmo ser retomadas na próxima segunda-feira, dia 10 de janeiro, um dia depois do último da data de vacinação para as crianças. António Lacerda Sales lembrou que o ensino presencial “é fundamental para as crianças”, pelo que a possibilidade de adiamento do seu recomeço devido ao aumento de casos de covid-19 “não está, garantidamente, sobre a mesa”. Todavia, posteriormente, o Conselho de Ministros avaliará a situação de acordo com a evolução epidemiológica, acrescentou. Portugal continental registava no início desta semana 584 surtos ativos de covid-19 – dos quais mais de metade – 353 – eram em escolas (públicas e privadas).