Benfica. Os deprimentes funerais da águia que já foi grande

Benfica. Os deprimentes funerais da águia que já foi grande


 Atacado pela terrível doença da derrota, que cresce como um cancro, o Benfica perdeu, no espaço de uma semana, a Taça de Portugal e o campeonato.


No início da época passada, ainda na vigência de Luís Filipe Vieira como presidente, com maiores ou menores desconfianças, os adeptos do Benfica abriram os braços a Jorge Jesus que regressava a Lisboa depois de um ano vencedor comandando o Flamengo e prometendo repetir, na Luz, tempos de glória já esquecidos. O desastre foi total. Demonstrando uma incompetência dramática, que até então a maioria desconhecia por completo, o treinador da esperança transformou-se no treinador do desespero. Perdeu tudo. O futebol praticado pela equipa entrou no caminho da indigência, sujeitando-se a derrotas humilhantes, não apenas perante os seus adversários directos, mas também frente a equipas inequivocamente inferiores.

Jesus agarrou-se com unhas e dentes a uma desculpa simplista para justificar o tremendo fracasso sofrido. Atirou as responsabilidades para as costas do covid e voltou a prometer, tal como o fizera quando desembarcou na Portela, que iria pôr o Benfica a jogar um futebol arrasador. Primeiro terrível erro da direcção encarnada, já entretanto transferida para a presidência de Rui Costa: conceder ao técnico um indulto e oferecer-lhe a possibilidade de continuar. Só mesmo Jorge Jesus para escapar à guilhotina dos resultados, ou melhor, da falta deles.

Se havia ainda adeptos suficientemente néscios para crerem que algo iria mudar, num instante perceberam que só o caminho do precipício estava aberto na frente do Benfica. O caos táctico e comunicacional, a pobreza do futebol praticado, a falta de soluções para os problemas que os opositores lhe colocavam, a absoluta incapacidade de fazer de um grupo de bons jogadores algo parecido com uma equipa, mostraram à saciedade que Jorge Jesus é, hoje, um técnico completamente ultrapassado e completamente incapaz de se colocar ao nível de Ruben Amorim ou Sérgio Conceição, só para citar os nomes daqueles que na época e meia em que voltou a ser treinador dos encarnados fizeram dele gato sapato. O sua demissão era inevitável. O cancro que deixou a crescer dentro do clube levará anos a curar-se e não é, certamente, a dose de quimioterapia que Nelson Veríssimo traz consigo até ao fim da época que vai conseguir que regrida. No espaço de uma semana, em dois jogos nas Antas, frente ao FCPorto, o Benfica foi pura e simplesmente enxovalhado, saindo de lá com dois resultados bem simpáticos. Os dois funerais da águia que já foi grande, tiveram como líderes Jesus e Veríssimo. De um para o outro nada mudou, ainda que seja aceitável considerar que Veríssimo pouco poderia fazer com três dias de treino. O problema é que o tal cancro tem bem mais metástases do que a presença seja de quem for no banco possa remediar. O Benfica caiu no poço dos perdedores. Todas as derrotas que sofre tornaram-se banais. Da grandeza de outrora, restam umas camisolas vermelhas que vagueiam pelos relvados como se envergadas por fantasmas que nada fazem para o não ser.

Exigência A questão não é de hoje. O problema de falta de exigência do Benfica ultrapassa ou treinadores, desde o tempo em que Rui Vitória encolheu os ombros depois de ter feito zero pontos no grupo da Liga dos Campeões, ao abandalhamento que Bruno Laje apadrinhou depois de ter ganho o campeonato. Um e outro foram, e bem, despachados das suas funções. Por mais bem formados que sejam como pessoas, são desastres como técnicos e organizadores.

Convenceu-se Luís Filipe Vieira que o regresso do Redentor, Jorge Jesus, traria consigo a aura das vitórias. Não trouxe. Jorge Jesus, convenhamos, não evoluiu nada nos últimos anos, pelo contrário, regrediu. Num instante não só destruiu as esperanças de o Benfica voltar a lutar pelo título como foi humilhado como poucas vezes pelo FC Porto, para a Taça de Portugal.

Arriscaria a dizer que, perante os suspiros de alívio da populaça, saiu para nunca mais voltar. O problema é que deixou (tal como o haviam feito Vitória e Laje) um imenso campo minado atrás de si, um deserto de ideias e jogadores psicologicamente devastados. Claro que ninguém no seu bom-senso dará aos encarnados mais do que uns tostões na lotaria do título e até na Taça da Liga (sendo que a Liga dos dos Campeões não passa de uma quimera grotesca). O futuro dirá, no final de mais uma época miserável, que caminho haverá para os benfiquistas entrarem de novo no trilho dos triunfos.

Na passagem do ano, as águias que ainda sonhavam com uma época cheia de alegrias caíram estrepitosamente na mais melancólica das incapacidades. A questão é premente: como motivar os jogadores para disputarem com alma desafios que para nada servem daqui até Maio. Dizer-lhes que vestir a camisola do Benfica os obriga a lutarem sempre pela vitória chegará?Ligada à máquina, a velha e poderosa águia é um destroço triste, triste…