É pegar ou largar: se o povo não der maioria relativa ou absoluta ao partido que governou nos últimos seis anos, o actual primeiro-ministro foi muito claro e já informou que vai embora da política activa.
A simples admissão desta hipótese tem um significado, qual seja o de que a confiança eleitoral quanto aos resultados obtidos nos últimos seis anos, não é activo que impere em demasia pela banda do partido do governo.
Com efeito, se é verdade que a solução de uma espécie de neo-socialismo político para consumo interno, tirou a instabilidade das ruas e fez crescer o emprego, tudo o mais permaneceu no limbo da estagnação, gerando uma espécie de neo-pobreza patente nos indicadores oficiais.
Segundo o INE, em 2020, a taxa de pobreza subiu cerca de 2,2 pontos percentuais, passando de 16,2% para 18,4%. E de acordo com o Eurostat, no final de 2021 um em cada cinco portugueses estava em risco de pobreza.
E não se atribua ao quadro pandémico a total culpa, já que os contributos de solidariedade do Estado seria suposto terem colmatado fragilidades.
O fundamental desta situação reside no pano de fundo desde 2015, quando o governo teve uma oportunidade soberana para iniciar uma mudança sólida no país, fazendo crescer a economia e o PIB a 3/4%, colocando Portugal como país exemplo de bom governo, mas não foi capaz.
Recebeu do anterior governo finanças públicas equilibradas, cumprindo os tratados europeus – défice controlado, dívida em redução – com o financiamento do Estado de novo garantido pelo regresso aos mercados internacionais, liberto dos mandatários da troika.
Tomou posse num bom momento da economia mundial a crescer, o aparelho produtivo virado para as exportações, correntes turísticas embevecidas com Portugal, o crude abaixo dos 50 USD/barril.
António Costa passeou pelo país sem ter à espreita sindicalistas da CGTP e a comunicação social pronta para filmar insultos e perseguições como tinha acontecido de forma organizada com o anterior primeiro-ministro…
O Presidente da República, sempre omnipresente na compreensão e cobertura do governo – em modelo politicamente questionável e suscitando reservas quanto às cautelas recomendáveis como supra-partes – permitiu que os desastres políticos do governo, fossem esbatidos via Belém. E daí a vénia permanente de S. Bento, obviamente não gratuita, tal como os almoços em geral.
Ora com toda esta santa casa conjugada para ajudar ao sonho da “frente de esquerda”, que sucedeu passados seis anos para chegarmos a esta coisa poucochinha, a esta realidade que se traduz numa economia que caiu num crescimento do PIB de apenas 1,8% o que significa a continuação de um rendimento das famílias portuguesas dos mais baixos da Europa, com taxas de fiscalidade das mais altas da Europa?
A explicação é bem simples.
O governo de Portugal teve apoio parlamentar majoritário na Assembleia da República; pode ter ido a Bruxelas exibir o défice zero mesmo com o Estado a ruir. Mas o que este governo não conseguiu foi induzir a criação de riqueza pela sociedade, ganhar a guerra da competitividade e da confiança perante investidores estrangeiros, na competição com os países mais dinâmicos da Europa e do Mundo.
Aí não há televisões estatais, nem apoios presidenciais que valham a um primeiro-ministro voluntarioso, mas a que faltou o rasgo de compreender que hoje em dia não proceder às reformas dos pilares essenciais onde assenta a realidade económica, social e territorial do país, é um falhanço histórico.
Com estes resultados, conclui-se sem esforço que Portugal apenas alcançou um governo de mera habilidade política (PS), suportado por um grupo parlamentar de carpir permanente (PCP) e outro de fantasia totalitária corrente (BE). Tudo isto junto, não faz um governo, um rumo, um projecto nacional de crescimento.
Ora a verdade é que governar no embuste, pode vencer dentro das fronteiras domésticas, mas depois não tem tradução liderante nos rankings internacionais. E as eleições seriam então uma espécie de libertação do autor da criação e da criatura como vítima, em vez de verdadeiro responsável pelo estado do país.
A coisa até não estaria mal pensada.