O ativista português Miguel Duarte fez uma retroespetiva, no Twitter, de uma ação de salvamento de migrantes, recordando que foi resgatado um bebé "nascido num barco de madeira com mais de 100 pessoas que estava há 3 dias no mar".
Miguel Duarte, de 28 anos, foi, em março deste ano, ilibado do caso Luventa, onde tinha sido constitudo arguido por apoio à imigração ilegal depois de participar numa operação de resgate de migrantes no Mediterrâneo. O jovem corria o risco de ser condenado a 20 anos de prisão.
Esta terça-feira, o ativista lembra que, "ainda este mês" fez parte do resgate de um bebé: "Vinha com o cordão umbilical atado com um fio de costura. O barco não estava longe de Lampedusa, mas tenho cá para mim que lá não chegava".
"Resgatámos quase 500 pessoas, muitas das quais nos últimos momentos. Isso é indubitavelmente bom. No entanto pensei várias vezes se isto é algo que quero fazer a mim próprio mais vezes. O paradoxo é esse: correu tudo 'bem' mas sinto a responsabilidade tão pesada nos ombros, que às vezes, só às vezes, me parece demais para mim", salienta.
Miguel Duarte refere ainda que, "mesmo depois de chegar a casa, ao olhar para trás, só a possibilidade de ter corrido mal" o deixa aterrorizado. "Se uma pessoa não está lá pensa que as pessoas que salvamos são mérito nosso e para as que não salvamos nunca houve hipótese".
Por fim, o ativista conclui: "Quando se lá está é diferente. As decisões são nossas e decorre delas a vida e a morte. Ninguém devia ter esse poder".