Arregace as mangas: vem aí 2022


Estamos a dois dias no novo ano. Olhando para 2022, a pergunta que está na cabeça de todos é: será este o último ano de pandemia?


1. Mudamos de ano com noticias antigas: Portugal e o mundo continuam sob a ameaça da covid-19.

Como previ logo no início de novembro, num texto aqui no i intitulado “A quinta vaga”, e mesmo antes de ser conhecida a nova estirpe Omicron, a subida em flecha de casos na Europa motivada pela chegada em força do Inverno só podia piorar o quadro pandémico também no nosso país. Não era uma questão de “se?”, nem “como?”, nem “porquê?”: era tudo uma questão de “quando”. Apelava aos responsáveis para que tomassem medidas enquanto havia tempo – e o tempo era curto. As medidas tardaram e, não sendo boas nem más em si mesmas, estiveram sempre apontadas a combater o mal que já conhecíamos, não o que estaríamos prestes a conhecer.

Pois a quinta vaga está entre nós. Impactou o país com toda a força, potenciada pela nova variante Omicron, pelo mau tempo, pela necessidade de as pessoas passarem mais tempo dentro de portas e pelo anacronismo das medidas restritivas.

Mas se os portugueses pensam que o que conhecemos por estes dias é mau, então devem preparar-se para os próximos dias porque vão ser ainda piores.

A quinta vaga ainda só está no seu inicio. Vai ser agravada como consequência das reuniões natalícias, de que só conheceremos a plena extensão mais para o início do ano, e pelos comportamentos de risco nas celebrações de fim de ano, festas que tradicionalmente juntam pessoas de mais agregados familiares e proveniências distintas.

Assim, Portugal corre o seríssimo risco de entrar em janeiro com 30 mil casos diários como estimam os especialistas. É bom que as pessoas tenham a noção de que com números desta grandeza não há ilusão de normalidade que subsista. Ainda que uma abrangente vacinação da população tenha reduzido drasticamente o número de internados e óbitos, um valor tão massivo de contágios terá sempre um impacto brutal nos sistemas de saúde. Na cadeia de causas e consequências, todos sabemos onde isto vai dar: a mais restrições, a renovados fechos de escolas, a mais limitações à liberdade e, em última análise, a novos confinamentos gerais. Tudo o que não precisamos como sociedade, porque serão novamente penalizados os empregos, os rendimentos das famílias e, sobretudo, os mais frágeis da sociedade.

É crítico que todos os portugueses adotem comportamentos responsáveis e rigorosos.

É imperioso que o Governo tome as medidas que se impõem, sem olhar a votos ou sondagens.

O egoísmo torna-nos coniventes com o vírus. Os próximos três meses são decisivos para vencer esta batalha. Confio que estaremos à altura das nossas responsabilidades.

2. Estamos a dois dias no novo ano. Olhando para 2022, a pergunta que está na cabeça de todos é: será este o último ano de pandemia?

Os pessimistas dirão que não. Que as vacinas não trouxeram a normalidade prometida e que, apesar da importante queda no número de óbitos, as infeções continuam altíssimas. As medidas restritivas marcam o compasso do nosso dia-a-dia e a Omicron é apenas mais um sinal de como teremos de viver com o SARS-CoV-2 e as suas variantes durante muitos anos.

Os mais otimistas dirão que o fim pode estar próximo. A nova estirpe tem uma transmissibilidade muito próxima à do sarampo – a doença mais contagiosa do planeta – com um R0 que os cientistas estimam que seja superior a 10. Ou seja, cada novo positivo com a variante Omicron gera, em média, 10 novos infetados. Contra um R0 de 7 na variante Delta e um R0 de 2,5 na estirpe ancestral encontrada em Wuhan, na China, o vírus pode ter chegado ao seu potencial máximo de transmissibilidade. A partir deste ponto, somando ao desenvolvimento de novas vacinas e a uma maior imunidade planetária, dizem os mais otimistas, a pandemia caminha para o seu fim.

A resposta honesta à pergunta inicial é: ninguém sabe. É verdade que a Gripe Espanhola, a grande pandemia do inicio do século XX, durou três anos. É verdade, também, que a sua propagação foi feita em vagas tal como nos está a acontecer com a covid-19. E, por fim, é notório que a saturação pandémica começou a ser muito sentida na viragem do segundo para o terceiro ano de pandemia. É aí que estamos.

A crise de saúde pública foi agravada com outra dupla pandemia: a económica, que se deverá estender até 2023, e a social, cujos efeitos serão sentidos até 2025.

Não sabemos a resposta à pergunta aqui feita. Mas há outras coisas que sabemos e que nos ajudarão a dar mais previsibilidade a um ano que será de volatilidade.

Sabemos que temos de continuar a olhar com muita atenção para as novas estirpes e, se elas surgirem, teremos de ser muito mais lestos a tomar medidas de contenção – o que não aconteceu em Portugal.

Sabemos que temos de estudar e acompanhar muito proximamente as pessoas que foram infetadas pelo vírus. O covid longo será uma doença com grande impacto na qualidade de vida dos portugueses nos próximos anos e, por consequência, nos sistemas de cuidados de saúde.

Sabemos também que as vacinas continuam a ser um desafio. Mais de metade do mundo ainda não teve uma única dose enquanto há países que já estão a inocular a quarta nos seus cidadãos. De nada serve vacinar muito nos países ricos se os países mais pobres ficam para trás e estão na origem de novas estirpes que evadem o efeito das vacinas. A desigualdade de acesso às vacinas não ajuda a debelar a pandemia.

Por último, sabemos que temos de por fim à pandemia num contexto de enormes tensões geopolíticas na Europa e na Ásia, de desigual e incompleta recuperação das economias, de crescimento da inflação e de gargalos nas supply chains que estão a limitar o comércio internacional e o potencial económico pós-pandemia. Em Portugal, a irresponsabilidade dos partidos que formaram a base de governação ainda acrescentaram uma crise política a uma cardápio de crise de saúde, económica, social e ambiental.

Qualquer que seja o ponto de vista, 2022 nunca será um mar de rosas para os portugueses.

Arregace as mangas. Temos trabalho pela frente. Todos por todos, encontraremos saída para as crises das nossas vidas.

 

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Escreve à quarta-feira