Já ouvimos falar de startups que se tornaram muito grandes, muito cedo, o que, se correr mal, pode resultar numa queda a pique e igualmente rápida. A grande tarefa é saber fazer escalar uma empresa com inteligência.
No caso de um unicórnio — uma startup tecnológica avaliada em mais de mil milhões de dólares no final de uma ronda de investimento —, a história não é diferente e o estatuto não é sinónimo automático de lucros ou de estabilidade financeira.
“Um unicórnio é um cocktail de dinheiro, inovação, métricas, potencial e risco. A servir de base a este copo, está uma promessa: a de mudar um mercado, um hábito de consumo ou comportamental, a forma como se presta um serviço e, no limite, o mundo”. Esta é a metáfora que Ana Pimentel, autora do livro Unicórnios Portugueses utiliza para descrever este fenómeno do mundo dos negócios.
Segundo a ex-jornalista, o grande objetivo deste tipo de empresas é, através de tecnologias inovadoras, solucionar um problema para o qual ainda não há resposta.
“Essa resposta terá, acreditam os investidores, um retorno financeiro que compensará todos os milhões investidos”, explica.
Então como se escala uma startup ao patamar de unicórnio? Tudo se processa através de camadas de investimento, as tais rondas que se podem categorizar por Série A, B, C, e por aí fora. Na prática, isto significa que uma empresa abre uma ronda de financiamento a investidores privados que acreditem no potencial da empresa.
Depois, esse montante injetado traduz-se numa percentagem sobre o capital acionista da empresa. O dado a reter é que à medida que se vai avançando de ronda em ronda, além de este bolo crescer em valor, também os objetivos da empresa vão crescendo para níveis cada vez mais altos, à escala global e sempre por estimativa do potencial.
Contudo, quanto maior é o potencial, maior é também o risco. E, portanto, não é de estranhar que o maior motor destas empresas que valem milhares de milhões de dólares seja o venture capital, ou capital de risco em português.
Por não haver essa exatidão matemática no que se refere à avaliação de uma startup, o caminho é feito de erros e falhanços.
Um estudo da consultora americana CB Insights aponta algumas das razões para a linha ténue que separa o sucesso do fracasso que leva muitas destas empresas a não sobreviver.
O relatório, que acompanhou mais de uma centena de startups que foram à falência nos Estados Unidos desde 2018, mostrava que 38% das mesmas deixaram de existir porque ficaram sem dinheiro ou não conseguiram reunir mais capital privado.
Uma das explicações para isto é o facto de o produto ou serviço que essas empresas ofereciam já não apresentar uma necessidade de mercado (35%).
Outros fatores importantes, de acordo com a CB Insights, era o sucesso de outras startups concorrentes (20%), um modelo de negócios falível (19%), problemas de regulação ou desafios legais (18%), a manutenção de custos altos (15%) e as dificuldades em construir uma equipa de colaboradores ideal (14%).
Um dos casos mais bizarros de um unicórnio que desapareceu nos EUA foi o Theranos, fundado por Elizabeth Holmes. Aos 19 anos, depois de se formar em Engenharia Química pela Universidade de Stanford, a norte-americana usou o fundo que os pais lhe tinham destinado e criou aquela empresa de biotecnologia. A sua tecnologia prometia realizar centenas de exames laboratoriais com apenas uma gota de sangue e atraiu apoios e investimentos milionários, desde o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger ao magnata dos media Rupert Murdoch.
Holmes chegou a ser equiparada ao fundador da Apple, Steve Jobs, quando a sua empresa atingiu uma avaliação de quase 10 mil milhões de dólares. A sua fortuna pessoal era cerca de metade desse valor e, em 2014, foi reconhecida pela revista Forbes como a mais jovem empreendedora a tornar-se bilionária.
Contudo, no ano seguinte uma investigação jornalística deitaria tudo por terra. A queda de Holmes seria ainda mais rápida do que a sua ascensão.
O jornalista John Carreyrou, do The Wall Street Journal, desmascarou a verdade que se escondia por detrás da Theranos, com a ajuda de um informador, um trabalhador da empresa. Na verdade, Holmes não dispunha da tecnologia que dizia e recorria a equipamento de outras empresas para realizar os seus testes.
Enganou ainda investidores e descobriu-se aliás que os resultados dos pacientes que recorriam aos serviços da Theranos eram imprecisos.
Depois disso, seguiram-se os processos judiciais, a proibição pelo regulador de a empresa fazer testes sanguíneos e, por fim, a dissolução da startup, em 2018. A empresária foi detida e acusada de fraude nesse mesmo ano e arrisca uma pena de 20 anos de prisão.
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