21 de dezembro de 1952. A camisa de onze varas do general Mark Clark

21 de dezembro de 1952. A camisa de onze varas do general Mark Clark


A Cruz Vermelha Internacional e a imprensa em geral punham o seu foco numa das maiores vergonhas da História dos Estados Unidos: os campos de concentração para japoneses que chegaram a albergar mais de 120 mil pessoas, algumas já com cidadania norte-americana.


Era uma das grandes vergonhas dos Estados Unidos e não estava a ser fácil mantê-la longe dos escaparates. A verdade é que não sendo campos de extermínio, como os que tinham sido descobertos na Alemanha e que sujaram para sempre a face da Humanidade, os campos de concentração existiam na América. E albergavam sobretudo japoneses que, após o ataque de Pearl Harbour, passaram a ser vítimas de um ódio colectivo intenso.

Em Tóquio, o general Mark Wayne Clark, herói de Montecassino, o homem que tinha ocupado o cargo de chefe do Comando do Extremo Oriente, estava metido numa camisa de onze varas desde que a Cruz Vermelha começara a produzir relatórios com testemunhos de japoneses que tinham os seus familiares presos nosEstados Unidos e recebiam correspondência bastante preocupante. 

A verdade é que a tão democrática América andava a fazer tábua rasa das convenções em vigor sobre o tratamento a prisioneiros de guerra. Ainda por cima, não se tratava apenas daquilo que se passava dentro das fronteiras dos US of A, mas também dos campos de detidos que os norte-americanos tinham estabelecido na Coreia do Sul, aproveitando muitos dos que haviam sido erguidos pelos japoneses na altura da invasão da península.

Clark entendeu que a melhor forma de lidar com o assunto era escrever uma carta para ser entregue a todos os representantes da comunicação social. Nela lançava-se num contra-ataque sobre os seus inimigos preferido: os comunistas.

Explicava de forma sucinta e prática, bem militarista, que estavam misturados com os prisioneiros desses campos muitos cabecilhas comunistas que os seus parceiros de detenção impediam de tratar quando estavam doentes, recusando-se liminarmente a porem-se nas mãos de médicos ocidentais e rebelando-se contra qualquer tentativa nesse sentido.

Por causa disso, os doentes tinham sido transferidos para outros campos, já vazios, de forma a poderem estar isolados dos demais, mas ainda assim recusavam todo o tipo de auxílio, mantendo-se inacessíveis. Muitas dessas pequenas revoltas tiveram de ser dominadas pelo uso da força.

Explicações Continuava o general Mark, tentando salvar a pele, que, de facto, no momento em que fora necessário usar a força, haviam sido lançadas granadas de gás lacrimogéneo e de percussão, mas que vários elementos da Cruz Vermelha Internacional tinham assistido aos procedimentos e podiam testemunhar a forma correta como o exército norte-americano procedera. Ora, ao mesmo tempo, a direção da Cruz Vermelha fazia, também ela, um comunicado a lamentar a forma como muitos dos prisioneiros japoneses estavam a ser tratados nos campos dos Estados Unidos.

O facto mais chocante era que, nesses campos, na sua maioria erguidos nos Estados do interior, estavam aprisionados mais de 120 mil pessoas de etnia japonesa e grande parte dela já com oficial cidadania norte-americana. Desviados do Oeste, onde se instalara a maior onda de imigrantes asiáticos, eram fortemente vigiados e tinham todos os seus movimentos sob controlo. A tentativa de fuga era castigada a tiro.

O isolamento dos campos tinham muito de tenebroso, sendo o mais sinistro de todos o de Tule Lake, na Califórnia, em pleno deserto, abrigando cerca de 19 mil almas. Obrigada a vender os seus negócios ou as suas terras antes de ser enclausurada, a grande maioria desta gente ficou condenada a anos de miséria. Entretanto o genral terminava assim a sua mensagem: “Continuamos e continuaremos a respeitar a Convenção de Genebra”. Pois sim…