A Polícia sudanesa dispersou hoje, em Cartum, com gás lacrimogéneo, dezenas de milhar de manifestantes que saíram às ruas para se opor ao Exército, no poder desde o golpe militar de 25 de outubro.
"O povo quer a queda de Burhane", gritaram os manifestantes numa referência ao general Abdel Fattah al-Burhane, que liderou o golpe, disseram testemunhas à agência noticiosa francesa AFP.
A polícia de choque foi colocada no principal cruzamento de Cartum, enquanto as autoridades sudanesas fecharam todas as estradas em redor do quartel-general do Exército no centro da capital, com arame farpado e blocos de betão, segundo um jornalista.
Estes protestos ocorrem três anos após o início da "revolução" no Sudão que derrubou Omar al-Bashir após 30 anos de ditadura.
Depois do golpe de 25 de outubro último e de uma repressão que deixou 45 mortos e centenas de feridos, os líderes da oposição da "revolução" anti-Bashir querem reviver um movimento que perdeu força entre os 45 milhões de sudaneses, que sofrem uma inflação de mais de 300%.
No dia do golpe, o general Burhane prendeu a maioria dos civis que governava o país.
Em 21 de novembro passado, Burhane assinou um acordo com o primeiro-ministro civil, Abdallah Hamdok, que pôde então deixar a prisão domiciliar e retornar ao cargo. O general Burhane também prometeu eleições livres em julho de 2023, mas ainda não formou um governo.
O novo acordo entre o general Burhane e Hamdok foi denunciado como uma "traição", e até mesmo um "retorno ao antigo regime militar islâmico" do general Omar al-Bashir, pelos pró-civis.