“Não é uma questão de “como”. Muito menos uma questão de “se”. É tudo uma questão de “quando”. Quando irá Portugal enfrentar a quinta vaga pandémica em crescimento aceleradíssimo por toda a Europa?”. Para os leitores que me seguem nesta coluna de opinião, se lhes parece que já leram este arranque de texto em algum lado é porque, de facto, já leram isto em algum lado. Assim começava a minha primeira coluna de opinião no início do mês de novembro nas páginas deste jornal. Senti a necessidade de o escrever, à época, depois de aguardar umas semanas por orientações que tardavam em chegar.
Estamos no dia 1 de Dezembro. A quinta vaga já está em Portugal. Temos infetados aos milhares e a nossa matriz de risco caminha para os tetos de vermelho carregado.
Volto ao tal texto de novembro intitulado “A quinta vaga”: “Há países a alargar muito rapidamente a toma da dose de reforço a todas as pessoas com mais de 50 anos. Outros a reintroduzir o uso obrigatório de máscara. Outros ainda a aconselhar o teletrabalho e o distanciamento em restaurantes e espaços públicos fechados.“ Terminava, perguntando: “E nós? Quais são os planos das nossas autoridades?”.
Passaram quatro semanas e Portugal mostrou-se novamente em todo o seu esplendor burocrático. Quando a maioria dos países já na altura punha em marcha planos musculados de combate à pandemia (e que agora vão mais longe, desde o fecho total de fronteiras, no Japão e em Israel, a confinamentos mais ou menos rígidos), ou acelerava o processo de terceira dose da vacina (no Reino Unido, por exemplo, está por horas a norma de vacina de reforço acima dos 30 anos), nós procrastinávamos.
Tivemos de esperar até dia 15 de novembro para se saber que o Governo convocaria uma reunião do Infarmed que se viria a realizar no dia 20 de novembro para apoiar a decisão do conselho de ministros de dia 25 sobre as medidas que seriam anunciadas nesse dia para entrar em vigor a 1 de dezembro. Resumindo: perdemos todo o mês de novembro, já em cima de um mês de atraso na reação e vamos continuar a gerir a pandemia pelo retrovisor.
Lamento, mas não aprendemos muita coisa com as lições do passado. No combate mais eficaz ao coronavírus o fator decisivo é o tempo. Precisamos de tempo para prevenir mais, para organizar melhor e para tentar contornar o pior dos períodos – o inverno. Precisamos de ganhar tempo para vacinar mais, para permitir maior desenvolvimento das vacinas e de outros medicamentos em pipeline.
Tempo é um recurso escasso para todos – para todos menos para as autoridades portuguesas. Quando o tivemos, desperdiçámos; agora que nos falta, vamos ter (mais uma vez) de correr atrás para conter a quinta vaga e a nova e preocupante estirpe ómicron.
Entram hoje em vigor as medidas de contenção da quinta vaga. Estas medidas seriam suficientes e oportunas há 15 dias. Mas servirão para os próximos quinze? Espero que sim, temo que não. O que nos leva a uma dificuldade adicional para os tempos que se avizinham. As pessoas estão cansadas disto. Estão fartas de covid. Há uma fadiga pandémica latente que, como se vê um pouco por todas as sociedades europeias, pode pôr em causa o esforço dos últimos tempos. Logo, se as autoridades desejam que as medidas funcionem, então que as implementem de forma calibrada e no tempo certo. De nada nos servem medidas moderadas fora de tempo, ou exageradas no tempo certo.
Tem de haver um equilíbrio, que não é fácil, entre o tempo e a exigência de cada política.
Por último, e se posso deixar um contributo para o futuro, aconselho vivamente a que o Governo reveja muito rapidamente os procedimentos organizativos entre as estruturas do Estado Central e Local. As autarquias continuam a ser tratadas com sobranceria, para não dizer mesmo desprezo, por variadas estruturas do poder central. Se isto é inaceitável em tempos de normalidade, é obsceno num contexto de pandemia em que foram as autarquias a fazer aquilo que o Estado não quis, não pôde ou não soube fazer. Já o disse e repito-o: não fossem as Câmaras Municipais, da direita e da esquerda, do centro e dos independentes, e a pandemia em Portugal teria tido um efeito ainda mais devastador.
Reconheço a dificuldade de liderar num momento como este. Sou solidário com o Governo, com a DGS e com a Task Force. E nunca regatearei um cêntimo de orçamento para proteger os meus concidadãos. Hoje mesmo acabaremos um novo Centro de Vacinação, que resulta da transformação do Centro de Congressos do Estoril num complexo de combate à pandemia, e elevarei para 200 mil euros o investimento mensal na luta contra o coronavírus. A autarquia que lidero criou os espaços para vacinação, contratou enfermeiros e médicos, garante transporte e refeições para o pessoal. Está e estará sempre onde um rosto do Estado for necessário para apoiar os cidadãos.
Em troca, só exigimos duas coisas: confiança e respeito.
Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira