Grécia inicia julgamento por espionagem de 24 trabalhadores humanitários

Grécia inicia julgamento por espionagem de 24 trabalhadores humanitários


Mais de duas dezenas de trabalhadores humanitários serão julgados por terem ajudado migrantes a chegar à Grécia entre 2016 e 2018.


Os réus enfrentam uma série de acusações, incluindo espionagem, falsificação e uso ilegal de radiofrequências. Grupos de direitos humanos condenaram o julgamento por ter motivação política e a Amnistia Internacional chamou as acusações de uma "farsa".

Entre os 24 réus, 17 dos quais são estrangeiros, está a refugiada síria Sarah Mardini, irmã da nadadora olímpica Yusra Mardini. As irmãs ganharam projeção internacional em 2015 depois de terem arrastado o seu barco de refugiados para um local seguro quando o motor falhou. Mardini foi impedida de entrar na Grécia para se defender e foi forçada a assistir ao julgamento na Alemanha, onde obteve asilo.

Lesbos, a ilha no centro da crise migratória, será a anfitriã do julgamento. Os procuradores alegam que os trabalhadores humanitários, integrados num grupo de busca e resgate, monitorizaram os canais de rádio da Guarda Costeira grega e usaram um veículo com placas militares falsas para entrar em áreas restritas em Lesbos.

Se forem considerados culpados, podem enfrentar penas de prisão de cinco anos. Alguns também permanecem sob investigação por uma série de outros crimes, incluindo contrabando de seres humanos e, se condenados, podem enfrentar sentenças de até 25 anos.

Sean Binder, um trabalhador humanitário irlandês que irá a julgamento, disse à emissora irlandesa RTÉ: "Estou feliz por ter a oportunidade de me defender, sei que não fiz nada de errado e podemos prová-lo. Estou a ser acusado de crimes que supostamente cometi um ano antes de estar na ilha", acrescentou.

Nils Muižnieks, Diretor do Escritório Regional Europeu da Amnistia Internacional, afirmou numa declaração: "As acusações que enfrentam são uma farsa e nunca deveriam ter chegado a tribunal. Este caso emblemático demonstra o quão longe as autoridades gregas estão dispostas a ir para dissuadirem as pessoas de ajudarem refugiados e migrantes. Interromper as operações de resgate não impede as pessoas de fazerem viagens perigosas, simplesmente torna essas viagens mais perigosas”, acrescentou.

O julgamento ocorre num momento em que o governo conservador da Grécia, liderado por Kyriakos Mitsotakis, reprime grupos de direitos humanos na tentativa de limitar o número de migrantes que entram no país. No ano passado, o executivo introduziu regras mais rígidas para a operação de dezenas de grupos de ajuda internacional.