Mundial-2022. A estrepitosa queda dos anjos!

Mundial-2022. A estrepitosa queda dos anjos!


Os dois últimos campeões da Europa metidos em camisas de onze varas. Com a diferença de a Itália já ter falhado o último Mundial.


Depois de Portugal, a Itália. Os dois últimos campeões da Europa estão, agora, metidos em camisas de onze varas, desperdiçando ingloriamente as posições privilegiadas que tinham nos seus grupos à entrada para as duas últimas jornadas e empurrados para um playoff que até pode, na sua segunda fase, pô-los frente-a-frente.

Muita tinta continuará a correr sobre o fracasso da seleção nacional nos jogos frente à Irlanda e à Sérvia, nos quais mostrou a face mais feia da sua realidade indesmentível de equipa medíocre por muito que tenha ao seu serviço Cristiano Ronaldo e vários outros jogadores que atuam em grandes clubes europeus. Mas também é altura de reconhecer que, depois da vitória na Liga das Nações, a degradação de Portugal foi sendo evidente e crescente, de tal forma que se deixou sempre bater nas fases decisivas de todas as competições por adversários que deveriam estar ao seu alcance. Uruguai, Bélgica, Sérvia: tudo nomes que representam os obstáculos que a seleção nacional tornou intransponíveis – e nem vale a pena meter o jogo da Luz com a França para a última Liga das Nações pelo meio porque os franceses estão num patamar no qual não conseguimos chegar. A falta de ambição e a desorganização que marcaram os últimos anos da equipa de Portugal revelam não apenas um desleixo no comportamento dos jogadores dentro do campo como uma inesperada falta de controlo por parte de Fernando Santos, um técnico sempre tão preocupado com os pormenores dos opositores mas arrasado pela forma como esses pormenores foram fatais para o seu conjunto.

Como ontem escrevi nestas páginas, o ciclo do engenheiro não chegou ao fim e é por demais razoável que comande a seleção no playoff e na eventual presença no próximo Mundial. Mas algo vai ter que mudar de forma drástica. Até na forma como os adeptos continuam a olhar para a representação nacional. Não, não é verdade que este seja o melhor Portugal de sempre. Por que o seria? Não é isso que os resultados revelam e muito menos as exibições. É necessário olhar para os jogadores e para as suas circunstâncias. Tirá-los da realidade dos seus clubes e transportá-los para a sua verdadeira dimensão. Perceber que as falhas clamorosas que cometem quando vestem a camisola das quinas também se prende com as suas fragilidades em muitos momentos do jogo, e basta prestar atenção ao caos que a imagem que o golo definitivo da Sérvia nos oferece para perceber a falta de concentração e de liderança que avassalou o conjunto naquele momento preciso, a um minuto de terminar a partida. Não, nem todos eles são tão bons como desejamos que fossem. E continuam a falhar a sua obrigação com a equipa do seu país.

Itália. A Itália de Mancini e do futebol alegre do último Europeu sucumbiu, tal como Portugal, nos dois últimos jogos. Em casa, frente à Suíça, falhou um penálti no último minuto. Em Belfast percebeu duramente a dificuldade de defrontar uma equipa de rugby. Se os italianos queriam trocar a bola em movimentos de avanço em direção ao golo, os norte-irlandeses tinham muitas outras facetas do jogo em mente: um takle, um pontapé para a frente para ganhar metros, um lançamento lateral ou um canto conquistados, um choque físico com vantagem, tudo isso são pormenores tão importantes como um golo. Por isso, o jogo passa a ser outro e é necessário interpretá-lo dessa forma. Fiel à sua angélica ideia de um futebol regressado à pureza, Mancini quis chegar ao Qatar da mesma forma que batera os adversários que lhe surgiram pela frente no último Europeu. Mas nenhum lhe tinha colocado ainda os problemas que a Irlanda do Norte colocou. Não soube resolvê-los e, assim, caiu para o mesmo playoff no qual já tinha caído Portugal. A estrepitosa queda dos anjos! Ficará o Mundial mais pobre se ambos ou um dos dois não conseguir lá chegar? Talvez… Mas a verdade é que a Itália falhou o Mundial da Rússia e não se deu por isso. Já Portugal esteve lá. E, curiosamente, também mal se deu por isso…