O número total de furtos de metais não preciosos, isto é, qualquer infraestrutura ou equipamento que contenha metal – sendo o cobre aquele que maiores lucros gera – aumentou este ano. A pouco menos de dois meses do fim do ano, já foram registados 1615 furtos, enquanto que em 2020 tinham sido 1565, revelou a GNR ao i.
Um exemplo recente é o da estátua de uma vespa scooter italiana que estava situada na Avenida Infante Santo, em Lisboa, e que desapareceu na madrugada de 27 de outubro. Passam agora 15 dias e ainda não há novas informações. A vespa – que pesa entre 300 e 400 quilos – foi colocada na via pública para comemorar, há 17 anos, o 50.º aniversário do Vespa Clube de Lisboa e, até agora, não deu sinais de que irá voltar. Ninguém viu, ninguém sabe. Mas o mais importante é o seu potencial valor: apesar de ser oca, é feita de bronze – o que é atrativo para a venda.
“A investigação continua em curso e ainda sem novidades. Apesar da esperança ser a última a morrer, temos noção que a cada dia que passa será mais difícil recuperar a estátua”, disse ao i esta semana fonte do Vespa Clube de Lisboa.
Após ter recebido o alerta da junta de freguesia da Estrela, que contactou o clube a perguntar se tinham levado a vespa para fazer alguma reparação ou limpeza, a organização participou o roubo às autoridades e tem estado a falar com moradores daquela zona – onde tem havido uma série de roubos e furtos recentemente. O Vespa clube participou o roubo à polícia e pede a quem tenha informações que as encaminhe para a PSP.
Contactado pelo i, o presidente da Junta da Freguesia da Estrela, Luís Newton, diz ter recebido “relatos esporádicos de furtos por parte de moradores” daquela zona, mas o roubo da vespa é encarada com especial preocupação. “É uma situação que requer uma reflexão imediata, já que pode estar em causa a segurança de todas as estátuas com características semelhantes”, defende.
Segundo os dados da GNR a que o i teve acesso, o número total de furtos de metais não preciosos em 2020 somou 1565 incidentes. Este ano, o número cresceu, somando 1615 furtos. No que toca ao número total de danos em estátuas, o balanço deste ano ainda não excede o do ano passado: em 2020 a GNR contabilizou oito estátuas danificadas, enquanto que este ano se contam três. No ano passado foram reportados roubos de 35 estátuas e este ano 22.
Da parte da Polícia de Segurança Pública, António Rodrigues dos Santos, do Departamento de Investigação Criminal da Direção Nacional da PSP, adianta ao i que o caso da vespa, que se situa dentro dos metais não preciosos, é particular. Isto porque, além do bronze, é uma peça artística. “Pode ter um valor superior ao do próprio bronze uma vez que tem valor artístico”. Apesar do aumento, o furto de metais não preciosos está “controlado”, garante o responsável.
Roubos de catalisadores preocupam polícia Neste momento, o “problema” é com os catalisadores de automóveis, que se inserem na categoria de furtos de metais preciosos, salientou António Rodrigues dos Santos.
A PSP, que criou Equipas Regionais de Investigação à Criminalidade Automóvel, contabilizou mais de 400 pessoas no último ano e meio ligadas a este tipo de furtos. Para conseguir reverter a situação, as investigações passam por trabalhar não apenas com quem rouba, mas também com as empresas que podem receber o material furtado, como por exemplo os sucateiros. Os metais preciosos que fazem parte da peça automóvel – como a platina, o paládio e o ródio – têm valores elevados e atrativos no mercado. “O valor de um catalisador poderá rondar entre os 200 e os 900 euros. Ou até mais. Se uma pessoa conseguir furtar dois ou três numa noite, faz ainda um dinheiro considerável”, nota António Rodrigues dos Santos, que já alertou publicamente para a possível existência de um “mercado ilícito de aproveitamento destes resíduos.” Numa conferência de imprensa em junho, António Rodrigues dos Santos revelou que, desde março de 2020, foram registadas 2.772 ocorrências e efetuadas 307 detenções, algumas em flagrante delito, relacionadas com o furto de catalisadores de viaturas em diferentes pontos do país. “Os prejuízos para o cidadão português já rondam os dois milhões de euros”, referiu na altura.
O roubo de catalisadores está espalhada por todo o país, mas é na Área Metropolitana de Lisboa (AML), em Setúbal e na zona do litoral onde se regista o maior aumento da atividade criminal nesta área. O problema dos furtos de metais não é novo. Em 2012, seis empresas uniram-se para fundar a Associação de Promoção da Segurança de Ativos Técnicos (PSAT), com o objetivo de contribuir para a defesa das infraestruturas dos seus associados e atuando na prevenção de ocorrências de furtos de metais e danos nos mesmos. Fazem parte da PSAT a E-REDES, Altice Portugal, Infraestruturas de Portugal, EDP Renováveis, Empresa Portuguesa das Águas Livres (EPAL) e a Redes Energéticas Nacionais (REN).
*Texto editado por Marta F. Reis