Os dados não são animadores. Portugal está entre os países onde a eletricidade é mais cara. “Portugal é o oitavo país da União Europeia com os preços mais elevados, sendo que os preços mais baixos ocorrem, em geral, nos países do leste da Europa”, referiu o boletim da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).
E vai mais longe: do que os portugueses pagam na fatura, 54% são energia e redes, 29% custos de interesse económico geral (CIEG) e 17% taxas e impostos. No entanto, o Eurostat engloba tudo e vê os portugueses a pagarem 46% de impostos na conta da luz.
E a partir de janeiro, os valores vão subir 0,2% para os clientes que estão no mercado regulado, ou seja, para a esmagadora maioria dos portugueses.
Por isso mesmo, a ERSE tem vindo a defender que todos os consumidores de energia doméstica devem fazer simulações dos seus preços de luz e gás pelo menos duas vezes por ano: uma em janeiro (para a luz) e outra em outubro (gás natural). E sugere que, caso os consumidores encontrem ofertas mais baixas no comparador de ofertas comerciais, isso mostra que está na hora de mudar de fornecedor e começar a poupar na fatura energética.
O certo é que os gastos relacionados com a luz estão na lista das prioridades que os consumidores não deixam de pagar em caso de problemas financeiros. E, no ano passado, a despesa com eletricidade representou mais de metade (69,9%), do total despendido com energia na habitação, segundo os últimos dados divulgados pelo INE. Feitas as contas, do total despendido com energia no alojamento, correspondendo a uma despesa média anual de 751 euros por habitação. Em 2010, a despesa tinha sido de 523 euros.
Mas apesar de os preços da energia terem vindo a aumentar ainda assim há pequenos gestos que, no seu dia-a-dia, poderá adotar ou alterar para ver a sua fatura de luz reduzir-se consideravelmente.
Uma das regras base passa por analisar a potência contratada, uma vez que esta tem de estar adequada ao consumo de energia em casa. Mas para isso tenha em conta que os atuais eletrodomésticos, sobretudo os de categoria energética A, são mais eficientes, e há também lâmpadas mais eficientes (como as LED) que, apesar de serem mais caras, consomem seis vezes menos energia e duram oito vezes mais.
Também ao desligar os aparelhos elétricos, em vez de os deixar em standby, e os carregadores de telemóvel, por exemplo, que por vezes ficam esquecidos nas fichas, o nível de poupança aumenta.
Deve ter ainda em consideração o número de pessoas na habitação e analisar muito bem qual a tarifa que melhor se adequa ao seu caso. A tarifa bi-horária apresenta preços diferentes por kWh consoante a utilização em horas de vazio ou horas cheias, sendo o valor mais baixo nos períodos noturnos ou ao fim de semana (horas vazias) e mais elevado nas restantes horas. Pode parecer tentador, mas é importante que tenha em consideração que, se escolher a tarifa bi-horária, o encargo para a mesma potência durante as horas cheias será, por regra, ligeiramente superior ao da tarifa simples.
Significa isto que sempre que estiver a utilizar a luz fora das horas vazias, o preço a pagar será mais elevado. No entanto, os ganhos obtidos se fizer grande parte dos consumos nas horas vazias podem trazer uma poupança significativa.
Cuidado com as mudanças Apesar de defender que é fundamental comparar a oferta dos vários comercializadores de luz que atuam no mercado livre e escolher o preço mais baixo, a ERSE também alerta para atenções redobradas a ter noutras frentes.
O regulador mercado tem vindo a lançar alertas sobre as más práticas comerciais existentes e dá sugestões aos consumidores de como estas podem ser evitadas. “Alguém o aborda dizendo que tem uma oferta de energia para lhe apresentar e pede-lhe que assine um documento que apenas comprove que esteve presente em sua casa. O que deve fazer: nunca assine um documento sem o ler. Exija sempre e guarde cópia do que assina. Se tiver dúvidas depois de ler, recuse assinar”, diz a ERSE, lembrando ainda que, nas vendas à distância, se assinar e se arrepender, tem 14 dias para resolver o contrato.
Os alertas não ficam por aqui. “Se alguém o aborda dizendo que tem de mudar de fornecedor para não ficar sem gás ou eletricidade, não acredite nesta história. Os consumidores só devem mudar de fornecedor se quiserem e quando estiverem convenientemente informados do novo contrato”, avisa o regulador.
Estes são muitos dos problemas que podem surgir, com o regulador a afirmar que estes alertas de más práticas “são focados em aspetos específicos que resultam da análise sistemática que se faz às reclamações que a ERSE recebe e procuram estar numa linguagem simples e acessível. Cada alerta identifica uma má prática que é seguida e sugere como o consumidor pode evitá-la, sendo divulgada sempre que identificada e considerada relevante para a informação aos consumidores”.
Oferta A EDP oferece descontos até 10% sobre o total da fatura desde que os clientes se optar pelo serviço Pack Living. Já a espanhola Endesa oferece descontos de 14% em cada fatura da luz. Por seu lado, a Galp oferece um desconto de 14% na conta da luz e atribuiu um desconto de 14 cêntimos por litro em cartão Continente.
Mas nem tudo são vantagens. O cliente deve ter em atenção o preço sobre o qual incide o desconto comunicado e em que componentes da fatura. A explicação é simples: muitas ofertas apostam em descontos elevados; no entanto, estes têm por base um preço mais alto do que os valores praticados por outras empresas concorrentes. Além disso, para beneficiar destas promoções, na maioria das vezes, os clientes não podem ter acesso às tarifas bi-horárias ou tri-horárias.
E a verdade é que, para um cliente com um consumo médio, as tarifas bi-horárias continuam a ser mais compensadoras do ponto de vista económico.
Não se esqueça de que, ao optar por uma tarifa simples (paga sempre o mesmo pela energia), bi-horária ou tri-horária (a energia tem dois ou três preços, conforme a hora e o dia), essas tarifas funcionam como incentivadores de mudança de hábitos de consumo para alturas mais equilibradas.
São considerados três períodos: horas de vazio, que correspondem a horários com menor procura de eletricidade; horas fora do vazio (ou de cheio, quando falamos da tarifa tri-horária), que são os períodos não incluídos no horário de vazio; e horas de ponta, aplicáveis a quem tem a tarifa tri-horária, que correspondem ao período em que se concentra a maior procura na rede elétrica. Se não adaptar a rotina a estes horários, de pouco serve.
Truques para poupar na conta
Dicas
– Uma das regras básicas passa por desligar todas as luzes que se encontram acesas desnecessariamente
– Opte por lâmpadas economizadoras
– Desligue carregadores da tomada e não deixe aparelhos em standby
– Compre eletrodomésticos da classe A
– Use carregadores solares e prefira computadores portáteis, que consomem menos
– Evite a acumulação de gelo no congelador porque isso aumenta o consumo energético
– Deve pintar as paredes e os tetos de cores claras para que reflitam melhor a luz, reduzindo a necessidade de iluminação artificial. Evite abajures muito opacos, já que obrigam à utilização desnecessária de lâmpadas mais potentes, e instale sensores de movimento nos locais de passagem
Melhorar isolamento
– Não se esqueça de instalar um bom isolamento nas paredes, chão e tetos, e utilize vidros duplos, reduzindo as necessidades de climatização
Conheça os passos para mudar de fornecedor
Como mudar de fornecedor?
Pode consultar a lista de fornecedores que está disponível no site da ERSE. Depois é só comparar as propostas recebidas com a do seu fornecedor atual para saber quais as vantagens e, acima de tudo, analisar os preços cobrados.
O que devo ter em conta?
A comparação de preços, a periodicidade de faturação e as condições de pagamento são os principais critérios. Deve também analisar as condições dos contratos, a sua duração mínima e as condições de denúncia.
Quais os cuidados a ter na comparação das propostas?
Deve ter em conta que os valores em análise são comparáveis e, sempre que possível, use os consumos históricos para simular os valores a faturar em cada proposta. Não se esqueça de analisar as condições contratuais de fornecimento. Para isso, poderá recorrer à Deco e à ERSE, que dispõem de simuladores de preços.
É necessário substituir o contador?
Não, o contador é propriedade do distribuidor, e não do comercializador. Só haverá substituição do contador no caso de existir alteração de consumidor.
Quais os motivos que impedem a mudança de fornecedor?
A identificação insuficiente ou inválida da instalação, a sobreposição de pedidos, potência (eletricidade) indicada não normalizada ou superior à requisitada, dados do cliente não coincidentes com os registados e a existência de processos de fraude podem impedir esta mudança.
Quanto tempo demora a mudança?
Geralmente, o processo não demora mais do que 15 dias úteis. Mas, em alguns casos, pode prolongar-se para além deste período quando existe a necessidade de uma intervenção no local de consumo.
Quanto custa a mudança?
Este processo não tem qualquer tipo de custos para o consumidor.
Qual a entidade responsável pela gestão dos processos de mudança?
A entidade responsável é o operador logístico de mudança de comercializador, que irá acumular esta função nos setores da eletricidade e do gás natural.