Passaram vinte e três anos desde que Portugal recebeu e organizou a Exposição Internacional de Lisboa de 1998, com o tema “Os oceanos – um património para o futuro”.
Muita coisa mudou desde a concretização desta ideia que foi uma das sucessoras da “Grande Exposição” idealizada pelo Príncipe Albert, marido da Rainha Victória, apresentada no Palácio de Cristal em 1851, em Londres.
Diferentes gerações guardam muitas recordações da Expo’98, nomeadamente aquela que hoje tem entre os trinta e os quarenta anos e que se lembra perfeitamente da euforia e do entusiasmo que marcaram a sua jovem história com os momentos cheios de magia proporcionados pela dinâmica e novidade oferecidas pelos diferentes pavilhões de cada país. A arte, a ciência, a história, a diversão e o fantástico acompanharam cada experiência inovadora a que não estavam habituados. Vulcões de água, praças cheias de gente, música, alegria e variedade pairavam por todo o lado. Durante a Expo`98 foi a vez de ser o mundo a caber em Portugal.
Num plano simbólico, a Expo`98 foi o resultado de uma obra que espelhou um regime de um Portugal moderno que eternizou um caminho a dois tempos ao aliar às tradições marítima, ultramarina e colonial a perspetiva de plena integração na União Europeia com o foco na prosperidade. Lisboa apresentou a ideia política sobre a reconquista daquela parcela de terra que há muito se transformara num arquipélago poluído de um aterro sanitário – alimentado pela indústria dos hidrocarbonetos embebida nas águas do Tejo em torno da visível degradação envolvente.
Depois da sepultura veio a ressurreição. Assim, depois da decadência moribunda e apodrecida até às entranhas de um espaço quase perdido, veio à luz um dos acontecimentos que mais marcaram a nossa cultura.
Aparentemente o que conta é o que está à vista e não o que se esconde. Afinal, tudo é uma questão de oportunidade. Os bairros, as barracas e lugares que abrigavam os pobres deram lugar a grandes empreendimentos e condomínios que hoje abrigam os que se dizem privilegiados. Não contando com os que, vivendo nos Olivais, Prior Velho e afins, se dizem habitantes do Parque das Nações.
A propósito destes, gostava de aqui partilhar com os nossos leitores uma brevíssima fábula: Era uma vez um passarinho que estava prestes a morrer de frio. Aproveitando-se das suas últimas forças voou para cima de uma vaca e nela viajou até encontrar um lugar para se aquecer. A vaca parou e fez uma grande poia que começou a fumegar de tão quente que estava. O pobre passarinho lá se aconchegou no esterco para se aquecer até recuperar a sua vitalidade e logo que se sentiu com as forças renovadas começou a piar bem alto. Entretanto veio um gato que por ali andava e comeu-o.
Professor e investigador