Os beatos do século XXI


Fanáticos de uma religião laica e de uma doutrina com dogmas não sujeitos a prova, criaram ao redor do novo deus do ambiente uma fé igualmente cruel e castigadora, filha da mesma ignorância e do mesmo sectarismo de Catarina do Nascimento de S. João Baptista e das beatas que a acompanhavam.


Ao ouvir os evangelizadores do ambiente, lembro-me sempre da Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista, personagem de A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis, talvez a beata mais bem retratada da literatura portuguesa.

A ação passa-se numa aldeia nos “extremos do Minho e onde esta risonha província começa já a ressentir-se da vizinhança de sua irmã, a alpestre e severa Trás-os-Montes”, terra onde se chegava por carreiros entre os montes, de gente endurecida pelas dificuldades da vida e por isso tão crente nas promessas dos políticos locais como temerosa das palavras dos missionários que periodicamente vinham pregar a palavra, não da salvação, mas da ameaça da condenação.

Lamentava-se o marido, Zé Pereira, da desgraça que lhe coubera por ter uma mulher que “tomara por modo de vida as devoções da Igreja…” e passava o tempo “a confessar-se, a comungar, a tomar todos os sacramentos…”, achando mesmo “que estava a tomá-los a todos…”. E quando encontrava a “casa vazia, o lume apagado e o caldo na horta…” que “a senhora sua esposa deu em ouvir nove missas por dia e uma dúzia de novenas…”, só uns copos de vinho, entrecortados por amargos solilóquios, o conseguiam aliviar dessa dor e dessa fome.

Ripostava a Sra. Catarina do Nascimento de S. João Baptista que até “deixara de rezar oito estações, como prometera à Senhora da Rocha…”, e apontava ao marido “aqueles santos eremitas que viviam no deserto de raízes e água das fontes”, para logo o condenar ao inferno, “fornalhas ardentes, enxofre a ferver…”, que ocupava todo o espaço nas pregações da religião de terror, e não de amor, a que se apegara.

Volvidos 150 anos, uma fundamentalista religião laica invadiu o mundo mais ilustrado e científico de sempre, e as almas da Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista e das beatas que a acompanhavam transmigraram em pleno para Greta Thunberg, missionária e pregadora de nova fé, e para os zelotas que a sustentam.

E se a Sr.ª Catarina ameaçava com o inferno no outro mundo pelo “menor delito, como um jejum mal guardado, uma confissão mal feita, uma involuntária falta à missa, uma penitência esquecida, uma oração suprimida”, Greta ameaça com um novo inferno já na Terra, por qualquer sonhada ofensa do homem à natureza, razão do aquecimento global, a mínima emissão de CO2, recurso a combustível fóssil, intervenção num qualquer ecossistema, exploração mineral, cultura transgénica, mesmo que diminua a fome no mundo.

Um inferno traduzido na fusão dos gelos e subida do mar, galgamentos costeiros, redução dos recursos hídricos, vagas de calor e de frio, desabamentos, novas doenças, aumento do número de mortes, grandes epidemias (e até a covid já foi explicada pelo aquecimento global), destruição de espécies vegetais e alimentares. Sem esquecer as pestes, intempéries, furacões, inundações, secas e incêndios como castigo dos pecados humanos, que também constavam do cardápio das punições divinas brandido pela Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista.

Curioso é que no tempo da Sr.ª Catarina, sem aquecimento global, gases de efeito estufa e alterações climáticas, já todos estes males afligiam a humanidade e eram castigo de Deus.

Aconselhava a Sr.ª Catarina mortificações que salvassem o povo do inferno, que o purgatório tinha como certo. Mas em mortificações não pensam Greta e os seus mentores e por isso escondem a poluição dos metais raros que suportam as tecnologias verdes, as emissões e efeito estufa que provocam e, muito mais, sonegam a brutal poluição do desmantelamento dos equipamentos e baterias finda a sua vida útil.

Fanáticos de uma religião laica e de uma doutrina com dogmas não sujeitos a prova, criaram ao redor do novo deus do ambiente uma fé igualmente cruel e castigadora, filha da mesma ignorância e do mesmo sectarismo de Catarina do Nascimento de S. João Baptista e das beatas que a acompanhavam.

As beatas do século XIX ainda prometiam o céu para alguns; os beatos evangelizadores do século XXI só nos agouram o apocalipse.

 

Economista e Gestor
Subscritor do Manifesto
Por uma Democracia de Qualidade

pcardao@gmail.com


Os beatos do século XXI


Fanáticos de uma religião laica e de uma doutrina com dogmas não sujeitos a prova, criaram ao redor do novo deus do ambiente uma fé igualmente cruel e castigadora, filha da mesma ignorância e do mesmo sectarismo de Catarina do Nascimento de S. João Baptista e das beatas que a acompanhavam.


Ao ouvir os evangelizadores do ambiente, lembro-me sempre da Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista, personagem de A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis, talvez a beata mais bem retratada da literatura portuguesa.

A ação passa-se numa aldeia nos “extremos do Minho e onde esta risonha província começa já a ressentir-se da vizinhança de sua irmã, a alpestre e severa Trás-os-Montes”, terra onde se chegava por carreiros entre os montes, de gente endurecida pelas dificuldades da vida e por isso tão crente nas promessas dos políticos locais como temerosa das palavras dos missionários que periodicamente vinham pregar a palavra, não da salvação, mas da ameaça da condenação.

Lamentava-se o marido, Zé Pereira, da desgraça que lhe coubera por ter uma mulher que “tomara por modo de vida as devoções da Igreja…” e passava o tempo “a confessar-se, a comungar, a tomar todos os sacramentos…”, achando mesmo “que estava a tomá-los a todos…”. E quando encontrava a “casa vazia, o lume apagado e o caldo na horta…” que “a senhora sua esposa deu em ouvir nove missas por dia e uma dúzia de novenas…”, só uns copos de vinho, entrecortados por amargos solilóquios, o conseguiam aliviar dessa dor e dessa fome.

Ripostava a Sra. Catarina do Nascimento de S. João Baptista que até “deixara de rezar oito estações, como prometera à Senhora da Rocha…”, e apontava ao marido “aqueles santos eremitas que viviam no deserto de raízes e água das fontes”, para logo o condenar ao inferno, “fornalhas ardentes, enxofre a ferver…”, que ocupava todo o espaço nas pregações da religião de terror, e não de amor, a que se apegara.

Volvidos 150 anos, uma fundamentalista religião laica invadiu o mundo mais ilustrado e científico de sempre, e as almas da Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista e das beatas que a acompanhavam transmigraram em pleno para Greta Thunberg, missionária e pregadora de nova fé, e para os zelotas que a sustentam.

E se a Sr.ª Catarina ameaçava com o inferno no outro mundo pelo “menor delito, como um jejum mal guardado, uma confissão mal feita, uma involuntária falta à missa, uma penitência esquecida, uma oração suprimida”, Greta ameaça com um novo inferno já na Terra, por qualquer sonhada ofensa do homem à natureza, razão do aquecimento global, a mínima emissão de CO2, recurso a combustível fóssil, intervenção num qualquer ecossistema, exploração mineral, cultura transgénica, mesmo que diminua a fome no mundo.

Um inferno traduzido na fusão dos gelos e subida do mar, galgamentos costeiros, redução dos recursos hídricos, vagas de calor e de frio, desabamentos, novas doenças, aumento do número de mortes, grandes epidemias (e até a covid já foi explicada pelo aquecimento global), destruição de espécies vegetais e alimentares. Sem esquecer as pestes, intempéries, furacões, inundações, secas e incêndios como castigo dos pecados humanos, que também constavam do cardápio das punições divinas brandido pela Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista.

Curioso é que no tempo da Sr.ª Catarina, sem aquecimento global, gases de efeito estufa e alterações climáticas, já todos estes males afligiam a humanidade e eram castigo de Deus.

Aconselhava a Sr.ª Catarina mortificações que salvassem o povo do inferno, que o purgatório tinha como certo. Mas em mortificações não pensam Greta e os seus mentores e por isso escondem a poluição dos metais raros que suportam as tecnologias verdes, as emissões e efeito estufa que provocam e, muito mais, sonegam a brutal poluição do desmantelamento dos equipamentos e baterias finda a sua vida útil.

Fanáticos de uma religião laica e de uma doutrina com dogmas não sujeitos a prova, criaram ao redor do novo deus do ambiente uma fé igualmente cruel e castigadora, filha da mesma ignorância e do mesmo sectarismo de Catarina do Nascimento de S. João Baptista e das beatas que a acompanhavam.

As beatas do século XIX ainda prometiam o céu para alguns; os beatos evangelizadores do século XXI só nos agouram o apocalipse.

 

Economista e Gestor
Subscritor do Manifesto
Por uma Democracia de Qualidade

pcardao@gmail.com