A candura do mês de setembro


Setembro deveria ser o primeiro mês do ano. É quando faço o planeamento do ano seguinte, o momento em que as crianças reiniciam mais um ano letivo. Paira no ar um entusiasmo que nos faz sentir mais vivaços e agradecidos.


Setembro é um mês de regresso. Após uma curta ou mais longa interrupção, regressamos às nossas casas, às nossas rotinas, aos nossos lugares, às nossas pessoas e até podemos regressar a nós próprios.

O vento suave que se faz sentir em setembro aquece-nos a pele e mantém a energia, renovada no período de férias, presente nos dias de maior azáfama. É um mês enganador porque a sua luz terna e morna contrasta com as exigências que este regresso nos impõe.

Mês de recomeços e de transformações, ou de confirmações e consolidação: em qualquer um dos casos, é uma renovação que se sente com os nossos filamentos internos regenerados e impregnados de uma vitalidade própria de quem se ausentou e depois retorna.

Setembro deveria ser o primeiro mês do ano. É quando faço o planeamento do ano seguinte, o momento em que as crianças reiniciam mais um ano letivo, em que se começa a sonhar com a época natalícia, sem acusarmos o peso de já nos encontrarmos no último trimestre do ano. Não se sente que estamos perante um final, pelo contrário, paira no ar um entusiasmo que nos faz sentir mais vivaços, agradecidos pelos momentos de pausa e gratos por estarmos de volta ao dia-a-dia. Mais do que nunca, este regresso a um mundo igual ao que deixámos antes de sairmos para os dias de descanso, revela-nos que tudo pode estar a reencaminhar-se para a tão desejada normalidade e ambicionada estabilidade.

Se há ocasião em que se deve refletir sobre a renovação, sobre o tempo, “esse grande escultor”, como tão bem descreveu M. Yourcenar, sobre nós e o caminho que gostaríamos de ter desbravado, é agora, enquanto não somos capturados pelo frenesim da rotina que se instala, criando distrações para nos afastar de qualquer pensamento que traga mudança. Abraçar novos projetos, reservar tempo para os nossos e, porque não?, para os que nos rodeiam e precisam (a libertação da oxitocina, conhecida por hormona da criação de laços, é estimulada quando damos um abraço), melhorar a nossa formação profissional, encontrar um espaço para pequenos lazeres que estimulam a produção da serotonina, melhorando a qualidade do sono, reduzindo a ansiedade e aumentando a sensação de felicidade, entre tanto mais que ainda não fizemos…

Com o equinócio de outono previsto para o dia 22 de setembro, quarta-feira despedimo-nos do verão e do sol. A partir deste dia, o sol atravessará a Linha do Equador e passará a iluminar com maior calidez o Hemisfério Sul. Chega a época das uvas, das romãs, das nozes, das peras, das castanhas que acompanham a jeropiga e dos marmelos que, depois de cozidos, dão a boa marmelada caseira.

Num plano mais terreno e mais imediato, será o mês em que teremos as eleições autárquicas e em que decidiremos, através do nosso voto, os próximos quatro anos para o poder local. De tudo o que aqui foi mencionado, será, por certo, o mais fácil de concretizar e riscar da lista dos afazeres. Ainda que a vontade de o fazer seja pouca (os números da abstenção continuam demasiado elevados para uma democracia saudável), há que contrariar esta ausência e cumprir a nossa obrigação, tal como cumprimos outras tantas.

Mês rico, este. Por tudo o que pode significar e pela sua aurora envolvente que antecede os dias mais curtos e frios. É também o mês de Nossa Senhora das Dores, para recordarmos as sete agonias que Maria sofreu pelo seu Filho. Que sirva de consolação às mães que todos os dias sofrem pelos seus filhos na doença, nas amarguras e nas preocupações.

Todos temos um ponto de partida comum: a ambição de tocarmos na felicidade. É humano, é o que nos faz avançar e lutar. Mas nem todos comungamos do que é necessário para lá chegarmos: a vontade de encontrar o caminho, de o procurar, de o construir, ou até, simplesmente, de o sonhar. Setembro é um bom mês para recomeçar, para voltar a tentar, para o reencontro com o nosso interior e com o nosso querer, para retomarmos uma viagem interrompida, para recuperar o que nem sequer sabíamos que havíamos perdido.

Aos bons regressos e que a luz interior brilhe ainda com mais intensidade para iluminar todos os outros.

 

Escreve quinzenalmente


A candura do mês de setembro


Setembro deveria ser o primeiro mês do ano. É quando faço o planeamento do ano seguinte, o momento em que as crianças reiniciam mais um ano letivo. Paira no ar um entusiasmo que nos faz sentir mais vivaços e agradecidos.


Setembro é um mês de regresso. Após uma curta ou mais longa interrupção, regressamos às nossas casas, às nossas rotinas, aos nossos lugares, às nossas pessoas e até podemos regressar a nós próprios.

O vento suave que se faz sentir em setembro aquece-nos a pele e mantém a energia, renovada no período de férias, presente nos dias de maior azáfama. É um mês enganador porque a sua luz terna e morna contrasta com as exigências que este regresso nos impõe.

Mês de recomeços e de transformações, ou de confirmações e consolidação: em qualquer um dos casos, é uma renovação que se sente com os nossos filamentos internos regenerados e impregnados de uma vitalidade própria de quem se ausentou e depois retorna.

Setembro deveria ser o primeiro mês do ano. É quando faço o planeamento do ano seguinte, o momento em que as crianças reiniciam mais um ano letivo, em que se começa a sonhar com a época natalícia, sem acusarmos o peso de já nos encontrarmos no último trimestre do ano. Não se sente que estamos perante um final, pelo contrário, paira no ar um entusiasmo que nos faz sentir mais vivaços, agradecidos pelos momentos de pausa e gratos por estarmos de volta ao dia-a-dia. Mais do que nunca, este regresso a um mundo igual ao que deixámos antes de sairmos para os dias de descanso, revela-nos que tudo pode estar a reencaminhar-se para a tão desejada normalidade e ambicionada estabilidade.

Se há ocasião em que se deve refletir sobre a renovação, sobre o tempo, “esse grande escultor”, como tão bem descreveu M. Yourcenar, sobre nós e o caminho que gostaríamos de ter desbravado, é agora, enquanto não somos capturados pelo frenesim da rotina que se instala, criando distrações para nos afastar de qualquer pensamento que traga mudança. Abraçar novos projetos, reservar tempo para os nossos e, porque não?, para os que nos rodeiam e precisam (a libertação da oxitocina, conhecida por hormona da criação de laços, é estimulada quando damos um abraço), melhorar a nossa formação profissional, encontrar um espaço para pequenos lazeres que estimulam a produção da serotonina, melhorando a qualidade do sono, reduzindo a ansiedade e aumentando a sensação de felicidade, entre tanto mais que ainda não fizemos…

Com o equinócio de outono previsto para o dia 22 de setembro, quarta-feira despedimo-nos do verão e do sol. A partir deste dia, o sol atravessará a Linha do Equador e passará a iluminar com maior calidez o Hemisfério Sul. Chega a época das uvas, das romãs, das nozes, das peras, das castanhas que acompanham a jeropiga e dos marmelos que, depois de cozidos, dão a boa marmelada caseira.

Num plano mais terreno e mais imediato, será o mês em que teremos as eleições autárquicas e em que decidiremos, através do nosso voto, os próximos quatro anos para o poder local. De tudo o que aqui foi mencionado, será, por certo, o mais fácil de concretizar e riscar da lista dos afazeres. Ainda que a vontade de o fazer seja pouca (os números da abstenção continuam demasiado elevados para uma democracia saudável), há que contrariar esta ausência e cumprir a nossa obrigação, tal como cumprimos outras tantas.

Mês rico, este. Por tudo o que pode significar e pela sua aurora envolvente que antecede os dias mais curtos e frios. É também o mês de Nossa Senhora das Dores, para recordarmos as sete agonias que Maria sofreu pelo seu Filho. Que sirva de consolação às mães que todos os dias sofrem pelos seus filhos na doença, nas amarguras e nas preocupações.

Todos temos um ponto de partida comum: a ambição de tocarmos na felicidade. É humano, é o que nos faz avançar e lutar. Mas nem todos comungamos do que é necessário para lá chegarmos: a vontade de encontrar o caminho, de o procurar, de o construir, ou até, simplesmente, de o sonhar. Setembro é um bom mês para recomeçar, para voltar a tentar, para o reencontro com o nosso interior e com o nosso querer, para retomarmos uma viagem interrompida, para recuperar o que nem sequer sabíamos que havíamos perdido.

Aos bons regressos e que a luz interior brilhe ainda com mais intensidade para iluminar todos os outros.

 

Escreve quinzenalmente