De Nova Iorque a Cabul em vinte anos


Se a invasão do Afeganistão se destinava a restaurar o orgulho ferido – e conseguiu-o, em parte – esta fuga precipitada com os talibãs a morderem os calcanhares dos americanos representa uma nova humilhação.


Tudo começou há vinte anos com quatro aviões comerciais desviados de aeroportos americanos por extremistas muçulmanos. Um despenhou-se contra o Pentágono. Outro acabou provavelmente abatido na Pensilvânia, para evitar males maiores. Outros dois enfiaram-se pelas torres mais altas de Nova Iorque adentro, dando forma a um ataque que, se a Terra continuar a ser a Terra, ainda será lembrado daqui a mil anos.

Poderia uma potência como os Estados Unidos ficar simplesmente quieta? Depois de identificados os autores do atentado, George W. Bush declarou guerra ao Afeganistão e as bombas começaram a cair aos magotes naquele solo pedregoso e hostil em outubro desse ano. A ofensiva americana tirou do poder os talibãs, que cinco anos antes tinham imposto o seu regime de repressão e terror.

Passadas duas décadas, com o anúncio da saída das tropas norte-americanas daquele território, esse regime sinistro volta a impor a sua lei. Com uma pequena diferença: dizem os especialistas que a passagem do tempo talvez não tenha tornado os talibãs mais moderados, pelo contrário, pode tê-los endurecido.

No seu discurso de ontem, Joe Biden disse que os americanos nada poderiam ter feito de diferente. É precisamente essa imagem que fica: apesar da complexidade e até sucesso da operação de retirada, uma imagem de impotência, de incapacidade, de uma força acossada e condenada a debandar.

Se a invasão do Afeganistão se destinava a restaurar o orgulho ferido – e conseguiu-o, em parte – esta fuga precipitada com os talibãs a morderem os calcanhares dos americanos representa uma nova humilhação.

É sem dúvida mais um capítulo negro da história norte-americana. Começou na manhã de 11 de setembro de 2001 com dois aviões a sobrevoarem os arranha-céus de Nova Iorque e a embaterem no World Trade Center. E acaba com aviões militares em fuga, a regressarem à base com o rabinho entre as pernas, deixando Cabul entregue ao mesmo tipo de extremistas que executaram os ataques às Torres Gémeas. Era difícil imaginar pior.

De Nova Iorque a Cabul em vinte anos


Se a invasão do Afeganistão se destinava a restaurar o orgulho ferido – e conseguiu-o, em parte – esta fuga precipitada com os talibãs a morderem os calcanhares dos americanos representa uma nova humilhação.


Tudo começou há vinte anos com quatro aviões comerciais desviados de aeroportos americanos por extremistas muçulmanos. Um despenhou-se contra o Pentágono. Outro acabou provavelmente abatido na Pensilvânia, para evitar males maiores. Outros dois enfiaram-se pelas torres mais altas de Nova Iorque adentro, dando forma a um ataque que, se a Terra continuar a ser a Terra, ainda será lembrado daqui a mil anos.

Poderia uma potência como os Estados Unidos ficar simplesmente quieta? Depois de identificados os autores do atentado, George W. Bush declarou guerra ao Afeganistão e as bombas começaram a cair aos magotes naquele solo pedregoso e hostil em outubro desse ano. A ofensiva americana tirou do poder os talibãs, que cinco anos antes tinham imposto o seu regime de repressão e terror.

Passadas duas décadas, com o anúncio da saída das tropas norte-americanas daquele território, esse regime sinistro volta a impor a sua lei. Com uma pequena diferença: dizem os especialistas que a passagem do tempo talvez não tenha tornado os talibãs mais moderados, pelo contrário, pode tê-los endurecido.

No seu discurso de ontem, Joe Biden disse que os americanos nada poderiam ter feito de diferente. É precisamente essa imagem que fica: apesar da complexidade e até sucesso da operação de retirada, uma imagem de impotência, de incapacidade, de uma força acossada e condenada a debandar.

Se a invasão do Afeganistão se destinava a restaurar o orgulho ferido – e conseguiu-o, em parte – esta fuga precipitada com os talibãs a morderem os calcanhares dos americanos representa uma nova humilhação.

É sem dúvida mais um capítulo negro da história norte-americana. Começou na manhã de 11 de setembro de 2001 com dois aviões a sobrevoarem os arranha-céus de Nova Iorque e a embaterem no World Trade Center. E acaba com aviões militares em fuga, a regressarem à base com o rabinho entre as pernas, deixando Cabul entregue ao mesmo tipo de extremistas que executaram os ataques às Torres Gémeas. Era difícil imaginar pior.