As alterações climáticas têm cada mais vindo a mostrar o seu poder dando origem a fenómenos meteorológicos descontrolados. Desde os Estados Unidos à Europa, passando pela Ásia, de incêndios a cheias, o planeta está a tornar-se cada vez mais imprevisível.
No norte da Califórnia, desde 14 de julho que o incêndio Dixie tomou conta de mais de 180 mil hectares. Desta área, apenas 21% conseguiu ser controlada pelos bombeiros. O incêndio Dixie é desde terça-feira o terceiro maior da história da Califórnia e já destruiu dezenas de habitações.
A cidade de Greenville, no condado de Plumas, conhecida como um ponto importante na corrida ao ouro, ficou reduzida a cinzas na passada quinta-feira, tendo os 1160 habitantes apenas tido tempo para fugir.
Era exatamente disso que falava Miguel Miranda, presidente do Conselho Diretivo do IPMA, quando afirmou ao i na passada sexta-feira que “não estamos preparados para evacuar uma cidade” apesar de, se calhar, irmos “ter de estar”.
De acordo com uma publicação feita na página de Facebook Plumas County Sheriff’s Office (Gabinete do Xerife do Condado de Plumas) já foram encontradas 21 pessoas das quais não se sabia o paradeiro, porém cinco continuam desaparecidas – quatro na cidade de Greenville, uma em Chester.
Na Europa
Porém, as temperaturas altas e tempo seco não são exclusivos da Califórnia. Também a Grécia, a Turquia e a Itália estão a sofrer gravemente com as alterações climáticas e, de acordo com o meteorologista Miguel Miranda, a situação vai piorar.
Em entrevista ao i, o profissional afirmou que “em estradas alcatroadas, com grande capacidade de aquecimento, podemos ter temperaturas quase nos 50 graus, o que não é uma situação gerível se for muito prolongada no tempo”.
Centenas de pessoas já foram evacuadas da zona norte de Atenas devido a incêndios que têm sido difíceis de controlar não só devido às altas temperaturas como também aos ventos fortes.
Além de Atenas, existem outras regiões do país que também estão a sofrer, já tendo sido reportados 60 incêndios. A zona da ilha de Evia, de onde foram evacuadas 2000 pessoas pessoas através de ferryboats, e os locais perto de Olympia, berço dos Jogos Olímpicos, são algumas das que se viram envoltas por chamas. Para o primeiro-ministro do país, Kyriakos Mitsotakis, os incêndios mostram “a realidade das alterações climáticas” estando este verão a ser “um pesadelo”.
Nos últimos 10 dias já arderam mais de 56 mil hectares e foram destacados mais de 1400 bombeiros para estes, que são os piores incêndios dos últimos 30 anos no país, causando já a morte a pelo menos duas pessoas.
Na Turquia já se contabilizam oito vidas retiradas pelas chamas. O ministro da Agricultura e das Florestas, Berik Pakdemirli, adiantou durante a manhã de ontem que 47 dos 223 incêndios ativos nos últimos dias já foram dominados, graças ao trabalho dos bombeiros como também à chuva que caiu nos últimos dias e veio ser uma boia salva-vidas no meio do inferno.
No entanto, a zona balnear de Mugla continua debaixo de chamas, já tendo sido detidas seis pessoas por suspeitas de terem dado início a vários fogos em duas províncias do sudoeste da cidade.
No sul de Itália o cenário também também não é o melhor. Desde o final de julho que os incêndios não dão tréguas e o presidente da região da Sicília já declarou o estado de emergência. Na Sardenha, que foi assolada por incêndios há duas semanas, as chamas voltaram a deflagrar.
Na Macedónia do Norte o estado de emergência já foi igualmente declarado, tendo as chamas já consumido mais de três mil hectares de terreno.
O cenário a que estamos a assistir será cada vez mais comum e Portugal não está a salvo. Miguel Miranda afirma que “a atitude racional é prepararmo-nos para cenários que podem ser extremos”, como “50 graus de temperatura durante vários dias seguidos” ou cheias semelhantes às que aconteceram recentemente na Alemanha e na Bélgica.
O presidente do IPMA lembrou ainda que é necessário aprender que “a nossa vida, de certa forma, tem de conviver com o risco de desastre natural”. As alterações climáticas irão cada vez mais provocar cenários de mudança constante, com “extremos de temperatura” acentuados com “resultados que vão desde os incêndios rurais a mortes súbitas”.