Os bombeiros não servem para nada


Os ativistas, por exemplo, podem fazer mais do que desfilar com cartazes nas ruas. Ser bombeiro é fazer parte de uma escola de vida.


Dono de bigode, de estômago mais ou menos proeminente, sujo, alcoólico, vulgar… mais ou menos barba, mais ou menos dentes, mais ou menos apreço por vinho ou por cerveja, mais ou menos jocoso. Eis a imagem que nos apresentam as telenovelas, constantes, indispensáveis, muito respeitadas. Tudo errado e muito pobre, caro leitor. É de bombeiros que aqui se trata. 

Mas o erro continua: o bombeiro pouco faz, chega tarde às ocorrências, destrói mais com a água do que o próprio fogo durante o incêndio e atrapalha a circulação ao ignorar os sinais de trânsito; é barulhento. Preconceito. 

A pouca instrução que lhe é atribuída torna-o refém da ideia de ser um pateta vaidoso quando desfila entre estandartes, insígnias, divisas e medalhas. Aparentemente ser bombeiro é uma solução para os que são menos inteligentes e mais ociosos. Para descrever todo o ruído que existe em torno dos bombeiros gastaríamos mais páginas do que aquelas que aqui podemos gastar, além de que, fazê-lo, seria inútil. Tão inútil como aquele que não vê para além do preconceito.

Vamos por partes. Vejamos se os bombeiros servem para alguma coisa: em Portugal, contrariando o que se passa na maior parte do mundo, o bombeiro tem por missão socorrer tanto na área da saúde como na áreas dos incêndios, das inundações ou dos acidentes; em Portugal não há bombeiros profissionais que cheguem para socorrer todo o país – os bombeiros subsistem graças ao voluntariado; os bombeiros, por regra e pela força da legislação, fazem cursos de combate a incêndios urbanos, industriais e florestais, cursos de desencarceramento, de tripulante de ambulância, de primeiros socorros, de suporte básico de vida e muito mais; pelas mãos de um bombeiro não passam apenas mangueiras, passam recém-nascidos, mortos, amputados, motosserras, cabos, mosquetões, tripas e corações.

Lavam escadas, pintam, são pedreiros, canalizadores, mecânicos e eletricistas. Ajudam o gato, o cão, arrombam portas, lançam-se nos precipícios, mergulham nas profundezas, resgatam vítimas, evitam acidentes, planeiam estratégias de segurança, garantem o bem geral. No fim, a maioria também é pai, mãe, mulher, marido, filho, neto, avô ou avó. 

Então, impõe-se uma pergunta – de onde virá tamanho preconceito sobre o bombeiro? Talvez o preconceito seja proporcional à mediocridade do realizador, do produtor, do cineasta. Dos vermes e abutres que vivem das corporações humanitárias. Dos inúteis sociais. Somente um hipócrita pode acreditar que não há técnica, conhecimento, valor ou humanismo numa corporação de bombeiros que tem servido de forma eximia o nosso país.

Depois das catástrofes a que temos assistido e prevendo o que nos espera, é urgente a vinda de voluntários para os bombeiros. Os ativistas, por exemplo, podem fazer mais do que desfilar com cartazes nas ruas. Podem transformara-se em agentes de prevenção, de educação e de salvamento.

Ser bombeiro é fazer parte de uma escola de vida onde se aprende a salvar o preto e o branco, o gordo e o magro, o novo e o velho, o bêbado e o sóbrio. Aprende-se a trabalhar em equipa, a lidar com a diferença, com a dor, o sofrimento, a aflição. Aprende-se o valor da liderança e da obediência.

Aprende-se a resolver os problemas criados pelos outros. Parece pois que os bombeiros não servem para nada. Antes servem para tudo. Contudo, errar é humano.

Os bombeiros não servem para nada


Os ativistas, por exemplo, podem fazer mais do que desfilar com cartazes nas ruas. Ser bombeiro é fazer parte de uma escola de vida.


Dono de bigode, de estômago mais ou menos proeminente, sujo, alcoólico, vulgar… mais ou menos barba, mais ou menos dentes, mais ou menos apreço por vinho ou por cerveja, mais ou menos jocoso. Eis a imagem que nos apresentam as telenovelas, constantes, indispensáveis, muito respeitadas. Tudo errado e muito pobre, caro leitor. É de bombeiros que aqui se trata. 

Mas o erro continua: o bombeiro pouco faz, chega tarde às ocorrências, destrói mais com a água do que o próprio fogo durante o incêndio e atrapalha a circulação ao ignorar os sinais de trânsito; é barulhento. Preconceito. 

A pouca instrução que lhe é atribuída torna-o refém da ideia de ser um pateta vaidoso quando desfila entre estandartes, insígnias, divisas e medalhas. Aparentemente ser bombeiro é uma solução para os que são menos inteligentes e mais ociosos. Para descrever todo o ruído que existe em torno dos bombeiros gastaríamos mais páginas do que aquelas que aqui podemos gastar, além de que, fazê-lo, seria inútil. Tão inútil como aquele que não vê para além do preconceito.

Vamos por partes. Vejamos se os bombeiros servem para alguma coisa: em Portugal, contrariando o que se passa na maior parte do mundo, o bombeiro tem por missão socorrer tanto na área da saúde como na áreas dos incêndios, das inundações ou dos acidentes; em Portugal não há bombeiros profissionais que cheguem para socorrer todo o país – os bombeiros subsistem graças ao voluntariado; os bombeiros, por regra e pela força da legislação, fazem cursos de combate a incêndios urbanos, industriais e florestais, cursos de desencarceramento, de tripulante de ambulância, de primeiros socorros, de suporte básico de vida e muito mais; pelas mãos de um bombeiro não passam apenas mangueiras, passam recém-nascidos, mortos, amputados, motosserras, cabos, mosquetões, tripas e corações.

Lavam escadas, pintam, são pedreiros, canalizadores, mecânicos e eletricistas. Ajudam o gato, o cão, arrombam portas, lançam-se nos precipícios, mergulham nas profundezas, resgatam vítimas, evitam acidentes, planeiam estratégias de segurança, garantem o bem geral. No fim, a maioria também é pai, mãe, mulher, marido, filho, neto, avô ou avó. 

Então, impõe-se uma pergunta – de onde virá tamanho preconceito sobre o bombeiro? Talvez o preconceito seja proporcional à mediocridade do realizador, do produtor, do cineasta. Dos vermes e abutres que vivem das corporações humanitárias. Dos inúteis sociais. Somente um hipócrita pode acreditar que não há técnica, conhecimento, valor ou humanismo numa corporação de bombeiros que tem servido de forma eximia o nosso país.

Depois das catástrofes a que temos assistido e prevendo o que nos espera, é urgente a vinda de voluntários para os bombeiros. Os ativistas, por exemplo, podem fazer mais do que desfilar com cartazes nas ruas. Podem transformara-se em agentes de prevenção, de educação e de salvamento.

Ser bombeiro é fazer parte de uma escola de vida onde se aprende a salvar o preto e o branco, o gordo e o magro, o novo e o velho, o bêbado e o sóbrio. Aprende-se a trabalhar em equipa, a lidar com a diferença, com a dor, o sofrimento, a aflição. Aprende-se o valor da liderança e da obediência.

Aprende-se a resolver os problemas criados pelos outros. Parece pois que os bombeiros não servem para nada. Antes servem para tudo. Contudo, errar é humano.