Posso sentir-me tentado a afirmar que as crianças de hoje vivem num mundo mais justo. Um mundo onde as oportunidades tendem a sem igualmente distribuídas e desprovidas de preconceitos. Porém esta afirmação exige uma leitura atenta, esclarecida e tende a ser verdade em poucas partes do planeta. Infelizmente.
Acredito que a simpatia e a atenção que tenho merecido da parte de quem lê os meus textos é sem dúvida um reflexo do profundo respeito que tenho por quem me lê, mas também pela Humanidade. Leio os comentários, as opiniões, os contributos… é justo que gaste tempo a fazê-lo. Afinal, também aprendo quando sou todo ouvidos. Estou grato.
Sublinho que não escrevo para ganhar prémios ou para agradar a uma classe, muito menos almejo qualquer retribuição que não seja a edificação de um mundo mais iluminado, mais esclarecido e assim mais tolerante. Por isso, no que toca a direitos e deveres defendo a igualdade.
Defender a igualdade não significa o esvaziamento ou a redução da pessoa à ideia plástica de que somos todos iguais, até porque a ideia de igualdade não se esgota na tentativa de reduzir os elementos de possível comparação à ausência de diferenças. Igualdade é indiscutivelmente muito mais do que isso.
Assusta-me que alguns oportunistas sobrevivam ao lado da defesa dos direitos humanos. Aterroriza-me que haja quem ouse evocar a questão da igualdade para alcançar aquilo que por mérito não alcançou. Chega a ser contraditório. Passo a explicar. Recentemente ouvi uma mulher defender a sua eleição para um determinado lugar de topo, justificando-se com o facto de ser mulher – “Chegou a hora de ser uma mulher a tomar a dianteira.” – afirmou, impiedosa.
Não. Não chegou.
Chegou, sim o momento de os bons tomarem a dianteira – homens ou mulheres. O desejo mais oportuno é pelo tempo dos bons, dos competentes. Então, sendo intrinsecamente boa, que nenhuma mulher seja impedida de ocupar um lugar de liderança. Aqui reside sem dúvida o direito à igualdade.
Na mente daqueles que em primeiro lugar desejaram a igualdade estava implícita a diferença entre os estratos sociais – o título, o apelido, o estatuto social – que marcavam as oportunidades de cada um.
Somos todos diferentes, sempre fomos. Uns são melhores do que os outros e isso é assustador. Ora quando ficamos assustados jogamos ao ataque, destruímos, assumimos o preconceito e esquecemos o quanto é bom sermos todos diferentes. Aliás, talvez seja essa uma das grandes oportunidades de não sermos confundidos, pois quando dizemos que alguém marcou a diferença, fazemo-lo no intuito de distinguir o que é positivo. Por isso, parece oportuno mudar o discurso na forma e no conteúdo para que cada mulher possa de facto ser diferente e destacar-se pela diferença.
Chegará o dia em que a luta será pelo direito à diferença, até lá viva a igualdade – mesmo sabendo que uns serão sempre mais iguais do que outros.
Professor e investigador