A pandemia abalou o funcionamento normal nos hospitais, mas no caso da hospitalização domiciliária foi um empurrão para avançar, libertando mais camas de enfermaria nos hospitais numa altura de maior aperto. Depois do arranque oficial do programa em 2018, o último ano e meio já com a covid-19 foi o período em que houve mais doentes agudos internados em casa. Este ano, espera-se um recorde. Ao i, o Ministério da Saúde adianta que até maio de 2021 tiveram alta de hospitalização domiciliária 2853 doentes, superando-se em cinco meses mais de metade dos doentes tratados em casa em 2020 (4831). Em 2019, tinham sido tratados em hospitalização domiciliária cerca de 3000 doentes. Para uma comparação, o SNS tem cerca de 21 mil camas hospitalares no total, por onde passam anualmente mais de 780 mil doentes – no ano passado foram menos, cerca de 675 mil, à conta sobretudo de menos 100 mil cirurgias realizadas nos hospitais. Os quase 5 mil doentes agudos internados em hospitalização domiciliária, a maioria idosos, são assim ainda uma minoria, mas equivalem ao movimento anual de um hospital de média dimensão, por exemplo o Hospital da Figueira da Foz, com cerca de 150.
Para este ano, os hospitais têm financiamento para internar em hospitalização domiciliária até 8781 doentes, o que a concretizar-se será um aumento de 60% face ao que estava contratualizado no ano passado em que a meta de 5510 internamentos não chegou a ser atingida, adiantou ao i o Ministério da Saúde, referindo que apesar do contexto pandémico a maioria dos hospitais está a aumentar a atividade.
A hospitalização domiciliária arrancou com uma experiência-piloto em 2015 no Hospital Garcia de Orta e tem agora 35 unidades a funcionar em 34 hospitais e apenas quatro unidades do SNS que podiam ter esta valência ainda não avançaram. A dificuldade em recrutar recursos humanos tem sido uma das barreiras, em particular de enfermeiros. A abertura de vários hospitais privados, em particular na área da grande Lisboa, tem motivado várias saídas nos últimos anos do SNS, onde os contratos ficam aquém do oferecido no setor privado.
No Amadora-Sintra, Fernando Aldomiro, da Unidade de Hospitalização Domiciliária, admite uma redução de 25% nos custos associados ao internamento no domicílio, com ganhos de autonomia para os doentes. Se abrissem 30 camas, em relação às cinco atuais, acredita que haveria procura.
Apesar de um início mais tímido, a hospitalização domiciliária tem agora unidades em funcionamento de Norte a Sul do país. Este ano já entrou em funcionamento por exemplo uma equipa na Unidade Local de Saúde da Guarda e o Centro Hospitalar do Algarve abriu a segunda unidade no Hospital de Portimão, depois de ter avançado em 2018 com a unidade no Hospital de Faro. Avançou também uma unidade de hospitalização domiciliária pediátrica em Torres Novas.
No final do ano passado, além da unidade do Amadora-Sintra, começou também a haver hipótese de hospitalização domiciliária na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, que abrange os concelhos de Sines e Santiago do Cacém, e no Hospital de Évora. O Hospital Garcia de Orta, onde tudo começou, acompanhou em casa mais de 2 mil doentes. Começou, como as que agora dão os primeiros passos, com cinco camas e são agora 25, com uma unidade específica para o tratamento em casa de doentes com covid-19.
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